Violência nas escolas
As notícias envolvendo conflitos entre professores e alunos são cada vez mais frequentes no Brasil. Em razão disso, até tramita na Câmara Municipal de São Paulo um projeto de lei que visa agravar as penas de alunos indisciplinados no ambiente da educação (leia os detalhes na página 3).
O Brasil é líder no ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre violência contra educadores.
O levantamento realizado com mais de 100 mil professores e diretores do segundo ciclo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (alunos de 11 a 16 anos), considerando dados de 2013, aponta que 12,5% dos professores brasileiros ouvidos relatam ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação por parte de alunos ao menos uma vez por semana. As consequências dessa realidade podem ser graves para estudantes, professores e também à sociedade como um todo.
Indisciplina
O professor de inglês Sérgio Roberto Limolli, de 62 anos, leciona em uma escola pública da capital de São Paulo. Ele relata já ter passado por situações adversas com alunos. “Nunca fui agredido fisicamente nem verbalmente por alunos, mas sofro muitos problemas com indisciplina. Leciono para classes com 32 alunos em média, mas poucos prestam atenção nas aulas. Os alunos ficam conversando, brincando, gritando, às vezes, brigando entre si durante a aula. É desanimador”, revela.
Celular
Segundo ele, o uso do celular é um grande problema. “Alguns ficam jogando disfarçadamente e é muito comum o uso de fones de ouvido escondidos. Quando a gente percebe, tira. Os alunos reagem mal, mas costumam obedecer. A orientação é que apreendamos o aparelho e encaminhemos para a diretoria, mas nunca fiz isso. A impressão que dá é que os alunos, boa parte deles, vêm de lares desagregados, cujos pais são separados, às vezes, estão desempregados. São crianças criadas sem muita autoridade, a maioria pelos avós”, opina.
Conflitos
Para o professor, esse conflito não é benéfico para ninguém. “Eu tento atrair a atenção dos alunos para que a aula não se disperse. Não é fácil. Levo para eles textos e outros livros, além daquele previsto no programa, mas não basta ter acesso ao conteúdo, tem que ter mais traquejo. A verdade é que a escola não vai resolver os problemas que existem fora dela. Por enquanto, esses alunos não têm noção do que estão perdendo, só querem ir para o pátio para jogar bola. Talvez, só lá na frente tenham consciência disso”, avalia.
Preço alto
Para Leunice Martins de Oliveira, (foto abaixo) PhD em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a escola como transmissora de conhecimento já está superada. “O novo paradigma é que os jovens sejam capazes de produzir o próprio conhecimento.
Não tem mais como separar a educação dos processos de forma crítica, criativa e construtiva sem trabalhar temáticas que estão ligadas aos interesses e realidades dos alunos. Sem isso, a escola se torna desinteressante e o aluno vai preferir estar fora dela ou contra ela”, analisa.

Mudanças
Para Leunice, o grande desafio das escolas públicas é utilizar ferramentas como a internet para auxiliar de forma positiva. “A escola parece estar dissociada desse movimento, mas o seu papel mudou, assim como o do professor. Não são mais passadores de conhecimento como anteriormente. Os alunos têm mais acesso às informações com a internet, mas precisam da mediação dos educadores para poder trabalhar com essa informação e aprofundar o conhecimento. Se o professor não for um mediador, desafiando e instigando os alunos a se posicionarem diante do mundo, não se consegue sair do lugar.”
A parte de cada um
Enquanto isso, o que cada um pode fazer para ajudar a resolver esse problema? Não se trata de uma questão apenas para os profissionais de educação. Embora muitos pais e alunos não tenham noção da sua representatividade, não podem se eximir da responsabilidade na busca da resolução. Cada um pode fazer um pouco para mudar esse panorama. Se os professores têm que ser criativos para prender a atenção dos alunos, estes podem contribuir com a sua vivacidade e questionamento. E os pais devem ficar mais atentos ao que seus filhos fazem na escola. Todos podem e devem fazer a sua parte.
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