Tudo pela metade do dobro com juros altos e endividamento

Enquanto 8 de cada 10 das famílias brasileiras estão endividadas, espera-se alta de 2,4% nas vendas da Black Friday

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A Black Friday já se tornou a maior data do ano do e-commerce brasileiro. Segundo dados da Nielsen, Ebit, ClearSale e Abcomm, a data ultrapassou o Natal em faturamento e volume de pedidos, principalmente nas categorias eletrodomésticos, eletrônicos, moda, beleza e livros.

Para este ano, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projetou um movimento de R$ 5,4 bilhões, o que representa um crescimento de 2,4% em relação a 2024. Sem dúvida, os números demonstram a relevância da data para o comércio, porém, se considerarmos a situação financeira da maioria das famílias brasileiras, a conta não fecha.

Ainda de acordo com a CNC, oito de cada dez famílias (79,5%) no país estão endividadas (dados de outubro/2025). Este é o maior patamar registrado desde o início da série histórica, em 2010. Já o percentual de famílias inadimplentes ou seja, com dívidas em atraso, está em 30,5%, das quais, 13,2% declaram não ter condições de pagá-las, o que também representa o nível mais alto desde o início do levantamento.

Entendendo a tríade: endividamento, inadimplência e perda da capacidade de pagamento

Para entendermos a dinâmica das finanças de quase todas as famílias brasileiras é preciso entender a diferença entre endividado e inadimplente. Endividado é o que possui uma ou mais dívidas, mas está em dia com os pagamentos, enquanto o inadimplente é o que possui uma ou mais dívidas vencidas.

Ao analisarmos os dados dos levantamentos, vemos claramente a formação de um efeito cascata, onde o endividamento se transforma em inadimplência para, mais tarde, culminar na perda da capacidade de pagamento – o que já é uma realidade para mais de um terço dos inadimplentes.

A projeção do consumo para a Black Friday cresce e se consolida a cada ano, mostrando um cenário preocupante para a saúde financeira de uma parcela cada vez maior da população que, por sua vez, ignora as altas taxas de juros, gasta além do que ganha e não se prepara para o futuro.

Enquanto a educação financeira não for prioridade no Brasil, a tendência é que a situação se complique e ainda não temos ideia dos impactos que isso poderá causar na economia como um todo.

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Colaborador

Patricia Lages - R7 / Foto: iStock