Medo do metanol: brasileiros evitam destilados e repensam consumo do álcool
Vendas caíram depois das mortes por consumo de bebidas adulteradas. Especialistas alertam que não existe dose segura
Desde que os casos de bebidas adulteradas com metanol vieram à tona, a compra de destilados despencou no Brasil. O consumo em bares e restaurantes caiu 4,9% em setembro, segundo o índice
Abrasel-Stone, que monitora 1,5 milhão de estabelecimentos no País. Na comparação com o mesmo mês de 2024, a retração foi de 3,9%.
A redução é decorrente de diversos casos de intoxicação por metanol registrados em vários Estados. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 24 de outubro foram confirmados 58 casos de intoxicação e 15 mortes: nove em São Paulo, três no Paraná e três em Pernambuco. Outros 50 casos e nove óbitos ainda estão sob investigação. Eles ocorreram em bares e casas noturnas e envolveram diferentes tipos de bebida, como gim, uísque, vodca e outros destilados.
As autoridades investigam se o metanol foi adicionado a bebidas falsificadas (para dar mais volume e aumentar o lucro) ou se
trata-se de contaminação durante a produção normal do destilado. Em São Paulo, a Polícia Civil fechou fábricas clandestinas responsáveis pela produção de bebidas falsificadas.
Álcool: um veneno socialmente aceito
A situação atual reflete duas tendências no consumo de álcool. A primeira é em relação ao medo imediato de ingerir bebidas adulteradas. A segunda refere-se à negligência crônica, quando a pessoa acredita que o “consumo social” é inofensivo, apesar de evidências científicas contrárias.
As pessoas estão com medo – e com razão –, mas é importante lembrar que o perigo não é apenas o fato de a bebida estar adulterada. O próprio “álcool legalizado” é uma droga. A diferença é que ele mata lentamente.
Doenças e mortes
Dados do Ministério da Saúde e de pesquisas especializadas, como o estudo Carga Global de Doenças, por exemplo, apontam que, em 2022, mais de 21 mil mortes no País foram diretamente atribuídas às bebidas alcoólicas, o equivalente a duas mortes por hora. No cenário global, o álcool foi responsável por 1,8 milhão de óbitos em 2021.
Desse modo, a Ciência ressalta o seguinte alerta: a ingestão de nenhum tipo de álcool e de nenhuma dose é segura. Seja vinho,
seja cerveja ou destilados, todas as bebidas estão associadas ao aumento do risco de desenvolver doenças hepáticas, cardiovasculares, mentais, além de diversos tipos de câncer.
Segundo o Departamento de Saúde dos Estados Unidos, o álcool foi classificado como agente cancerígeno no mesmo nível do cigarro e do amianto. Isso significa que mesmo o consumo de menos de uma dose por semana pode aumentar em 10% o risco de desenvolver a doença, que pode ser fatal. Em 2020, por exemplo, o álcool esteve relacionado a 741 mil mortes por câncer no mundo.
Dependência que muitos não reconhecem
O consumo abusivo de álcool é um problema complexo que envolve diversos fatores, entre eles a percepção equivocada que muitas pessoas têm de seus hábitos.
Os dados do Vigitel (Ministério da Saúde) mostram que 17% dos brasileiros apresentam um padrão de consumo abusivo, mas 75% deles não o identificam dessa forma. Em 2021, 18,4% dos adultos, sendo 25,6% homens, foram classificados como bebedores abusivos.
É possível se divertir sem beber?
O hábito de consumir bebidas alcoólicas é um inimigo silencioso. Além de estar relacionado a doenças graves e acidentes fatais, o álcool pode provocar a desestruturação de famílias e lares.
Os perigos vão além dos efeitos físicos: muitas pessoas recorrem à bebida como forma de aliviar o sofrimento, mas acabam enfrentando sintomas como ansiedade, irritabilidade e sensação de vazio. Esse ciclo pode abrir caminho para o uso de outras substâncias tóxicas. Por isso, buscar ajuda para enfrentar o consumo de álcool é fundamental.
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