Jovens acusam padres por abuso sexual

Os casos aconteceram em São Paulo. Saiba mais

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Quem o via de batina, rezando e louvando a Deus não imaginava o monstro que era Pedro Leandro Ricardo. Padre da Igreja Católica na zona rural de Araras, em São Paulo, Pedro é acusado por abusos sexuais. Seis pessoas o denunciam.

Um dos maiores escândalos da Igreja Católica brasileira, exibido em uma reportagem da revista Veja, traz à tona histórias de jovens que viam na igreja um refúgio para seus dilemas, mas que tiveram seus caminhos cruzados ao de um homem desprezível que utilizava da fé a inocência de crianças para satisfazer seus desejos sexuais.

Hoje com 50 anos, o padre é acusado por abusos sexuais contra meninos e meninas. Em um dossiê, entregue ao Vaticano em dezembro de 2018, mas que só começou a ser conhecido há poucos meses, seis pessoas revelaram a verdadeira face de Pedro.

Ele, no entanto, só pôde agir durante décadas porque era encoberto pelo bispo Vilson Dias de Oliveira, da Diocese de Limeira. Ele renunciou o cargo após as denúncias, enquanto Pedro está afastado das atividades paroquiais. Todavia, embora afastado, continua recebendo um salário de 9 mil reais.

Além dele, o dossiê também contempla acusações contra os padres Carlos Alberto da Rocha e Felipe Negro. Não são apenas acusações por pedofilia. Os denunciantes e vítimas relatam que o bispo, Vilson Dias, exigia propinas para que os padres atuassem sem investigação.

Ao que parece, o negócio possuía uma rentabilidade alta. Há registrado, em nome de Vilson, dez imóveis. Todos em São Paulo. Estima-se que o patrimônio do religioso chegue a 1,5 milhão de reais.

As vítimas

Em entrevista à revista Veja, Ednan Aparecido, de 35 anos; Paula Valentin, de 25 anos; Mariele da Silva, de 19 anos e mais duas pessoas preferiram não se identificar, contaram histórias horríveis e impressionantes. Ambos possuem histórico de vida semelhantes. Eles encontravam na igreja uma forma de aliviar os problemas, que apesar de jovens, já enfrentavam.

“No carro, esbarrou na minha perna. Depois, celebrou a missa como se nada tivesse acontecido. Na volta, porém, foi mais direto: enquanto dirigia, pegou no meu pênis. Tivemos uma discussão feia dentro do carro. No dia seguinte, enquanto eu vestia a túnica de coroinha da missa de domingo, Leandro disse que não precisava mais de mim”, destacou um dos que quiseram ter sua identidade revelada.

Ednan, por sua vez, destacou ainda que foi convidado para dormir na casa paroquial e foi surpreendido com o pedido de masturbação do padre. “Fiquei em choque e me levantei. Não fizemos nada. Não consegui dormir de pânico. No dia seguinte, na missa, só me lembrava da imagem dele vindo para cima de mim”, contou o Ednan.

Contato físico

Coroinha denuncia abuso sexualPaula Valentin, de 25 anos é transexual. Ela conta que Pedro também fez dela uma vítima. “Ele começou a ficar ao meu lado enquanto eu vestia a túnica de coroinha. Depois, passou a me ajudar com as vestes para tocar o meu corpo, com a desculpa de desamassar o tecido”, contou.

Outra vítima acusa o padre Carlos Alberto da Rocha. “Quase toda noite, durante um ano, ele me molestou. {…} O padre dizia que aquilo era normal e fazia ameaças. Dizia que se eu abandonasse a Igreja, iria virar um bandido por ser pobre. E também que ninguém acreditaria na minha palavra porque eu não tinha pai”, disse.

Uma promessa de emprego fez Mariele da Silva Dibbern cair nas garras do padre. Ele a chamou para jantar em sua casa. Comeram pizza e tomaram vinho. Ele a prometia celular e roupas de marca, se topasse o encontro.

“O padre me chamava de ‘anjo’, ‘linda’ e ‘amor’. Dizia que queria repetir o encontro porque aquela tinha sido uma noite muito agradável. Foi aí que me dei conta de que a conversa não tinha nada a ver com emprego” disse a jovem que também revelou não sentir mais vontade de ir à igreja.

“Senti muita vergonha e uma tristeza imensa. Agora somos só eu e Deus. Para a igreja não vou mais. Nunca mais vou ver um padre com bons olhos”, completou.

Redobrando a atenção 

Em sua essência, um coroinha teria a responsabilidade de auxiliar o sacerdote e/ou diácono durante a missa. Podem ser meninos ou meninas, que seus pais o permitam auxiliar no serviço católico. 

No entanto, com tantas acusações, torna-se difícil confiar naqueles que deveriam se exemplo de vida separada a Deus.

 Não é de hoje que a Igreja Católica é vítima de acusações desse tipo. Em 2017, a Suprema Corte da Pensilvânia, nos Estados Unidos, divulgou que bispos e outros líderes da Igreja Católica, encobriram mais de mil casos de abusos sexuais. No relatório apresentado, mais de 300 padres foram citados.  Na América do Sul, no Chile, 158 membros da igreja são investigados. Eles seriam autores ou cúmplices de abusos contra menores e adultos durante quase seis décadas.

O fato é que crianças, sem que seus pais saibam, podem estar em perigo. É fundamental que pais e responsáveis estejam atentos às atividades que os filhos desenvolvem na igreja. O diálogo também é imprescindível entre pais e filhos. Redobrar a atenção e cuidado preservará a infância e o futuro de crianças que têm tudo para crescer de forma saudável e limpa.

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Colaborador

Rafaela Dias / Fotos: Getty Images