As crianças e os adolescentes de hoje em dia estão cada vez mais ligados em tecnologia. O computador, o tablet e o celular se transformaram em ferramentas inseparáveis desse público, que se comunica, se diverte e até estuda por meio da internet. Assim, o entretenimento off-line, marcado por brincadeiras como pega-pega, esconde-esconde, futebol, amarelinha e tantas outras, está ficando para trás.

Essa mudança no estilo de vida pode estar causando aumento de casos de diabetes tipo 2 em um público cada vez mais jovem. “Classicamente, a diabetes tipo 1 era mais comum em crianças e adolescentes, enquanto a diabetes tipo 2 incidia mais em idosos. Hoje, no entanto, temos visto a diabetes tipo 2 com cada vez mais frequência em crianças de nove, dez, 11 anos”, diz o endocrinologista Íkaro Breder.

Enquanto o tipo 1 da doença é autoimune, o tipo 2 está relacionado ao estilo de vida da pessoa. “Para compensar o sedentarismo e o excesso de comida, o pâncreas tem de produzir muita insulina [hormônio responsável por controlar os níveis de glicose no sangue]. Por causa dessa sobrecarga constante, o órgão entra em colapso e a glicose do sangue tende a subir”, afirma Breder. Quando a quantidade de insulina é insuficiente para baixar o açúcar no sangue, chega-se ao quadro de diabetes tipo 2.

“Essa enfermidade está ligada ao estilo de vida, à obesidade e até ao tempo de tela, já que, quanto mais tempo uma criança passa no computador e no celular, menos ela se exercita, não joga futebol e não brinca”, detalha Breder. O mesmo cenário se repete entre adolescentes e jovens adultos, que se dedicam cada vez mais ao mundo digital e ao consumo de alimentos oferecidos pela indústria dos processados e ultraprocessados.

Essa percepção, inclusive, foi confirmada por um estudo publicado na revista científica The BMJ. Os pesquisadores, que analisaram dados de 200 países e regiões, descobriram que entre 1990 e 2019 houve aumento de 56,4% da taxa de incidência da diabetes 2 em adolescentes e jovens adultos, saltando de 117 para 183 casos por 100 mil habitantes. A taxa de mortes também aumentou nos últimos anos.

A boa notícia é que, se descoberta ainda no início, a diabetes tipo 2 pode entrar em remissão, mas, para isso, “mais do que medicamentos, é preciso ter consciência de que a saúde está ligada à alimentação equilibrada, aos exercícios físicos e à manutenção do peso adequado”, finaliza Breder.