Estupro em casa

Menino violenta a própria irmã de 9 anos repetidas vezes após ver conteúdo incestuoso na internet, o que acendeu discussões públicas sobre a influência da pornografia nas crianças antes mesmo de elas terem noção da sexualidade

Imagem de capa - Estupro em casa

Mais uma tragédia que traumatiza uma família. No condado de Gloucester, na Inglaterra, um menino, hoje com 14 anos, estuprou repetidas vezes a própria irmã quando ele tinha 12 e ela 9. Conforme noticiou o jornal britânico Daily Mail, o menor teria feito isso influenciado por filmes pornográficos com cenas de incesto (sexo entre parentes próximos). O promotor de Justiça responsável pelo caso informou que o garoto acessou conteúdo de temática incestuosa várias vezes na internet e alegou que “casos como esse vão aumentar por causa do acesso bem fácil que jovens têm agora à pornografia pesada.

O garoto, cujo nome não foi revelado por causa da idade, assumiu a culpa por seis acusações de estupro contra a mesma vítima e passará cinco anos sob acompanhamento preventivo contra crimes sexuais, internado em uma instituição de tratamento – com acesso controlado à internet, sem contato com qualquer pessoa abaixo dos 16 anos e proibido de qualquer tipo de relacionamento com a irmã. Depois que deixar o internato, será monitorado até completar 19 anos.

O caso acendeu as discussões sobre a má influência da mídia na ainda não formada sexualidade das crianças, que poderia criar bizarrices do tipo com o tempo, ainda que o praticante ache tudo “normal”. Na imprensa brasileira, houve quem comentasse o ocorrido em sites noticiosos em tom bastante acusador, como “já é um psicopata, faria isso vendo ou não filmes pornôs…” – não se sabe se por defenderem a pornografia ou somente por estarem revoltados com o adolescente.

A influência da internet

Tudo isso trouxe à baila uma pesquisa realizada pelo professor Simon Louis Lajeunesse, do curso de assistência social da Universidade de Montreal (UM), na província do Québec, no Canadá. Divulgado este ano, o estudo revelou que a internet, ao contrário do que se pensava, não é a única vilã, pois a própria sociedade constrói na cabeça das crianças esses “fantasmas” da orientação sexual, que culminam em comportamentos fora do normal.

A web seria, dessa forma, apenas um instrumento que reflete o que o mundo quer ver, o que faz sentido, mas não diminui sua influência negativa, o que é corroborado pelo que foi concluído na pesquisa: 90% do consumo de conteúdo pornô é feito pela internet. Lajeunesse, inclusive, alerta para “armadilhas” da rede, que se utiliza de palavras de duplo sentido quando um usuário faz até mesmo uma pesquisa inocente sobre algo que nada tem a ver com sexo. Uma vez aberta a página com conteúdo libidinoso, a curiosidade da criança faz o resto. E um fator comprova o que foi dito antes sobre a sociedade: os “conselhos” e as indicações de amigos e conhecidos têm papel importante para as tentações carnais entrarem na vida dos pequenos.

O sexo irreal

A despeito do estudo da Universidade de Montreal, outros especialistas são da opinião de que a pornografia acaba por criar um “padrão” de sexo que não corresponde necessariamente à realidade, e alguns indivíduos, ao começarem suas vidas sexuais, tendem a querer reproduzir na realidade aquilo que veem na tela.

Lajeunesse e equipe não defenderam isso, mas descobriram, segundo lhes foi dito por boa parte dos jovens entrevistados, que quando o sexo foi feito por eles com uma pessoa real, foi “angustiante”, pois estavam acostumados ao prazer fácil da pornografia, sem uma verdadeira interação.

Uma surpresa para os pesquisadores quebequenses: em média, a idade em que os meninos acessam pornografia é aos 11 anos – confirmado, em parte, pelo fato de o estuprador-mirim inglês ter cometido o crime contra a irmã aos 12. Isso contribui, segundo os realizadores do estudo, para uma bem precoce hipersexualização da juventude, assunto recentemente abordado aqui na Folha Universal.

Alcance perigoso

Porém, essa não foi a única informação que chocou o pessoal da UM ao longo da pesquisa, como contou o professor Lajeunesse: “Em 2009, quando procurava homens na faixa dos 20 anos que nunca tinham visto pornografia, simplesmente não encontrei”, revela. Do alcance da mídia e das más influências pessoais parece que ninguém escapou – pelo menos entre as tentativas de entrevistas da equipe canadense.

Pesquisas como a de Montreal não faltam mundo afora, mas o menino que estuprou a irmãzinha em Gloucester confirmou à polícia que começou a realizar os atos criminosos após ver vídeos que causavam nele a sensação de que, se houvesse sexo entre ele e a familiar, eles, de certa forma, deixariam de ser parentes e a consciência poderia parecer limpa. É exatamente o que a perversão sexual causa em seus praticantes, de que tudo o que fizerem é “normal”.

No caso inglês, o menino realmente perdeu, além de uma época importante de sua formação que se daria se ele não cometesse crime algum e estivesse em liberdade, o contato com a própria família – que terá que conviver com esse trauma, sem falar na própria menininha que foi atacada sexualmente em sua própria casa, onde deveria se sentir segura dos males do “mundo lá fora”. E passará por um longo, se não interminável, processo de cura psicológica, caso não seja procurada ajuda espiritual.

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Colaborador

Por Marcelo Rangel / Fotos: Fotolia