Vergonha do corpo traz prejuízos

Pessoas que não se sentem bem com a própria imagem podem desenvolver transtornos mentais e outros problemas. Saiba como superar essa preocupação

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Você já sentiu vergonha do seu corpo? Infelizmente, essa sensação é cada vez mais comum entre homens e mulheres. A jovem paulista Daniela Regis de Souza, ( foto abaixo) de 18 anos, enfrentou esse problema durante a infância e a adolescência. “Sempre fui alta e magrinha, então comecei a sofrer bullying na escola. As pessoas me davam apelidos e me xingavam”, lembra.

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As pressões dos colegas logo geraram efeitos negativos: “comecei a me odiar. Eu me achava feia, desprezível e não via nada de bom em mim”, detalha. Essas cobranças externas tornaram Daniela uma jovem insegura e tímida. A situação só começou a mudar quando ela estava prestes a completar 15 anos: “fui convidada para participar do grupo Força Jovem Universal (FJU). Lá, me envolvi com o que importava para Deus e percebi que as cobranças de meus colegas eram o padrão do mundo. Deus me via de outra forma”.

Por meio de atividades com outros jovens, Daniela mudou sua perspectiva: “passei a ter bons olhos, a me aceitar e a me amar. Recebi o Espírito Santo e desenvolvi o amor-próprio. Hoje, faço parte do projeto Cultura, canto com o grupo e já me apresentei até em uma peça teatral”, diz.

Por quê?
A psicóloga Rose Fukue explica que a vergonha do corpo muitas vezes está relacionada aos atuais padrões de beleza que levam à busca pelo corpo idealizado. “Essa vergonha pode ser estimulada pelas mídias sociais, pela publicidade, pela moda e pelas cobranças de amigos e familiares. Esses padrões de beleza irreais são implantados na mente das pessoas desde a infância e causam uma distorção sobre o que é ser bonito”, avalia ela, que também é neuropsicológica e especialista em terapia cognitivo-comportamental.

A vergonha do corpo pode acontecer até no casamento. “Às vezes, com o passar dos anos, o corpo da esposa muda e o homem fica incomodado e a pressiona. Ele não percebe que o corpo dele também mudou e quer que a mulher tenha o mesmo corpo de antes. Isso pode desequilibrar o relacionamento, se não houver diálogo entre o casal”, detalha Rose.

A psicóloga e coach Rosangela Sampaio acrescenta que muitas pessoas que apontam o dedo para o outro também estão sofrendo com a própria imagem. “Quando a pessoa critica e dá palpite na vida do outro, na verdade ela está falando de um problema que não consegue resolver em si mesma”, afirma.

Limites
Rose destaca que pessoas que deixam de fazer algo por medo do que os outros vão pensar sobre ela devem procurar ajuda especializada, pois deixar de ir a confraternizações familiares ou a encontros com amigos é sinal de que algo não vai bem. “Essa vergonha pode levar ao desenvolvimento de transtornos mentais, como anorexia, bulimia e transtorno dismórfico-corporal. Outro problema é a vigorexia, que ocorre quando a pessoa quer ter o corpo muito definido e faz atividade física em excesso”, enumera. “O incômodo com o corpo também gera ansiedade e até depressão”, acrescenta Rosangela.

Autoestima
Para viver feliz com o próprio corpo, o primeiro passo é o autoconhecimento. “Quando a pessoa sabe quem é, fica mais difícil sucumbir às pressões dos outros. Nós somos seres únicos e com o autoconhecimento podemos identificar nossas forças pessoais. Ter uma vida mais plena significa ter um olhar mais carinhoso consigo mesmo”, diz Rosangela.

Padrões
A professora e psicopedagoga Katlin Fernandes de Jesus Lima, (foto abaixo) de 31 anos, também já sentiu vergonha do próprio corpo. “Sempre fui gordinha, desde a infância. No início, isso não me incomodava, mas, quando entrei na adolescência, passei a me comparar com os outros e a fazer todo tipo de dieta para me enquadrar no padrão. As pessoas diziam que meu rosto era bonito, mas eu queria ter o corpo bonito também.”

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Ela conta que a situação piorou aos 18 anos. “Eu trabalhava em um hospital e surgiu a oportunidade de fazer cirurgia bariátrica e achei que fosse a solução para os meus problemas. Depois da cirurgia, fui perdendo peso e meu manequim foi para 38. Entretanto, quando me olhava no espelho, continuava não me aceitando.” Ela passou a ter outros problemas. “Não conseguia dormir, desenvolvi depressão e passei a beber. Minha mãe via a minha decadência e dizia para eu voltar para as reuniões da Universal. Quando meu pai disse que não me reconhecia mais, decidi voltar.”


Katlin afirma que o fortalecimento da Fé foi fundamental para a sua mudança. “Depois que tive o encontro com Deus, não me apego mais à minha imagem. Continuo me cuidando, mas já não dependo da aprovação de ninguém. O Espírito Santo me blindou. Quando alguém fala com certa maldade sobre o meu corpo, até brinco com a situação”, conclui.

Como indicam as histórias de Daniela e Katlin, deve existir equilíbrio na preocupação com a aparência, mas é igualmente fundamental cuidar do interior e da área espiritual, pois são elas que vão garantir um bem-estar duradouro.

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: Getty Images e Demetrio Koch