O grande mal da indiferença

Sem se pôr no lugar do outro, o ser humano causa pequenas discórdias e até grandes guerras – e todos saem perdendo

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Imagine que cada pessoa tem consigo uma peça de um quebra-cabeça que pode representar qualquer coisa que a mantenha viva e bem: dinheiro, saúde, paz, inteligência, fé, etc. Agora imagine cada pessoa guardando só para si essa peça.

Se todas essas peças não se unem para completar o quadro, são apenas partes isoladas dele. Contudo, quando as pessoas se juntam para ver quais peças se encaixam, descobrem uma figura bem clara. Só assim a obra montada serve para alguma coisa. Da mesma forma é a sociedade.

Cada pessoa desenvolve seus talentos, usa seus dons, usufrui de seus recursos e não há nada de errado nisso, mas, se cada uma se limitar a isso, não haverá comunidades em funcionamento.

Se cada um se importar com o bem-estar do outro, a tendência é que tudo funcione melhor. Por que, então, vivemos em uma época tão individualista, em que cada um pensa só no seu bem-estar, mesmo que passe por cima da qualidade de vida de outros? Essa indiferença por quem está ao nosso lado prejudica a todos, inclusive a nós mesmos. É resultado da desobediência

Certa vez, perguntaram ao Senhor Jesus qual era o maior mandamento e Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus 22.37-40).

Quem se ama quer ficar bem, mas quando segue o mandamento divino, procura saber se o próximo também está bem. O próprio Messias deixou claro que amar a Deus e a quem está ao redor são como uma coisa só. Ele adverte ainda: “Se alguém diz: Eu amo a Deus e odeia a seu irmão é mentiroso.” (1 João 4.20).

Fazer o bem é, portanto, ato de obediência ao que Deus estipulou para que o mundo seja bom para todos, mas a indiferença pelo semelhante faz a existência na Terra ser mais difícil.

O bem sem olhar a quem
Relacionar-se com o outro é ponto-chave. E não podemos fazer isso sem empatia, altruísmo e o bom senso de que a falta de interesse, de respeito, de atenção, de cuidado e de consideração estragam a vida de todos. Entretanto, a falsa caridade de fazer o bem só para se sentir bom – e não para realmente ajudar quem precisa –, não condiz com o que Deus chama de amor. Há também aqueles que ajudam só para obter gratidão.

Anita Nowak, de Montreal, Canadá, é considerada uma grande especialista em empatia. Pedagoga, administradora, filósofa e coach, ela realizou um estudo na Universidade McGill sobre o tema.

Para ela, é preciso ter mais empatia para praticar o amor pelo próximo. “Infelizmente, a tendência é empatizarmos mais com quem é parecido conosco. Dessa forma, desconhecidos em situações diferentes da nossa inspirariam menos empatia. Isso deve ser superado se quisermos nos libertar da mentalidade, muito presente em nossa sociedade atual, do ‘nós contra eles’”, revela.

Segundo Anita, esse pensamento “está por trás de cada grande guerra e mesmo de cada pequena disputa, mas, se aprendêssemos a empatizar melhor uns com os outros, poderíamos conseguir a paz”.

É fácil pensar que um presidiário merece estar atrás das grades e nem ligar para isso, por exemplo. Mas alguém tenta saber o que o levou até lá e como ele pode mudar? Felizmente, sim: a iniciativa Universal nos Presídios (UNP) é prova disso, pois muitos detentos e ex-detentos não só se recuperam e voltam para o convívio da sociedade como ajudam outros a fazer o mesmo. Quem tem a vida salva quer salvar outras.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty Images