Dependente de redes sociais?

Recursos usados por plataformas estimulam a liberação de dopamina no cérebro e abrem caminho para a dependência

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A estudante Vitória Steinmetz, de 18 anos, começou a usar redes sociais de maneira frequente depois do fim de um namoro, quando estava com 15 anos. “Eu queria chamar a atenção de outras pessoas. Usava a rede para falar sobre o que eu sentia e o que fazia. Eu colocava toda a minha vida ali. Postava fotos com biquíni e com roupas curtas quase todos os dias”, conta.

Ela lembra que as curtidas e os comentários que recebia funcionavam como estímulo para continuar interagindo na rede. “Eu queria ser elogiada e ficava ansiosa para ver quem ia dar um like ou fazer um comentário. Sempre acompanhava as notificações no celular”, detalha.

O uso excessivo de redes sociais levou Vitória a se isolar de familiares e amigos. “Deixei de me comunicar com as pessoas que estavam por perto e só tinha amigos na internet.” Aos poucos, a euforia inicial se transformou em angústia.

Vitória explica que passou vários meses se sentindo triste e sozinha, até que recebeu um convite para participar do grupo Força Jovem Universal (FJU), em Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul. “Nas reuniões, percebi que não precisava das redes sociais. Então comecei a buscar pessoas para conversar pessoalmente”, relata. Hoje, a jovem diz que encontrou novas amizades e fortaleceu os laços com familiares.

Estímulo ao vício
Quem usa redes sociais sabe que elas podem se tornar uma espécie de vício. Em 2017, o ex-presidente do Facebook, Sean Parker, disse que a rede estava “explorando uma vulnerabilidade na psicologia humana”. Em entrevista à BBC, o ex-engenheiro do Facebook Sandy Parakilas confirmou que a empresa sabia que a plataforma estimula comportamentos viciantes. “Você tem um modelo de negócios projetado para engajar você e tirar o máximo possível de tempo da sua vida para depois vender essa atenção para os anunciantes”, afirmou.

“É como se eles (os criadores das redes sociais) estivessem usando cocaína comportamental e espalhando tudo por toda a sua interface e é isso que faz com que você goste de voltar, voltar e voltar”, afirmou Aza Raskin, ex-funcionário da Mozilla e criador da barra de rolagem infinita, um mecanismo que estimula as pessoas a passar mais tempo conectadas.

Reações cerebrais
A psicóloga cognitivo-comportamental Claudia Melo explica que navegar nas redes sociais gera reações capazes de modificar o humor da pessoa. “Quando você está em uma rede social, seu cérebro está sendo estimulado de várias maneiras. Algumas ações levam à liberação de dopamina, um neurotransmissor que é fonte de prazer e bem-estar. Esse prazer leva muitos usuários a passar cada vez mais tempo nas redes sociais. O mecanismo é semelhante à dependência de drogas”, esclarece a profissional, que atua em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas no Rio de Janeiro.

O neurocientista Aristides Brito lembra que a liberação de dopamina está relacionada ao sistema de recompensa cerebral. “Se a pessoa está triste, publica algo na rede social e recebe curtidas e comentários positivos, isso ativa o sistema de recompensa, gerando a sensação de reconhecimento”, esclarece.

Para algumas pessoas, as redes sociais são uma espécie de fuga das dificuldades da vida off-line. Entretanto elas podem gerar outros problemas. “Aos poucos, a pessoa precisa passar mais tempo na rede social para sentir o mesmo prazer. E, quando não recebe curtidas, pode ter sentimentos de rejeição”, diz Brito.

André Pontual, CEO do veículo de mídia digital NoBeta, destaca que o lucro das redes sociais está relacionado ao tempo que as pessoas passam conectadas. “As redes sociais são criadas para agradar aos usuários, pois elas precisam que as pessoas continuem postando mais conteúdos e interagindo”, explica. “O problema é que muitas pessoas acabam se comparando com outras e se sentem mal com o que veem. Além disso, algumas não percebem que a vida on-line não representa toda a realidade”, avalia Pontual.

Para controlar o uso de redes sociais, Claudia Melo sugere a busca de outras fontes de prazer além da internet. “É importante fazer atividades físicas para liberar essa química que traz satisfação, bem-estar e alegria. A pessoa também deve buscar apoio da família e preencher a agenda com outras atividades. É claro que não é fácil. Para alguns, ficar sem internet pode até gerar sintomas de abstinência, como irritabilidade e estresse. Nesses casos, é importante buscar ajuda especializada”, diz.

Longe de Deus
Ficar em excesso nas redes sociais também leva ao afastamento de Deus. Afinal, quanto mais tempo conectada, mais a pessoa fica exposta a informações que a distraem e também corre o risco de dar ouvidos às vozes negativas Por isso, o equilíbrio é fundamental para o cristão continuar aberto a ouvir os ensinamentos de Deus e, assim, fazer a Sua vontade.

 

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: Getty images e cedida / Arte: Edi Edson