Ameaça a quem?

Igreja Católica alega que presença evangélica na Amazônia prejudica cultura local e pega carona na ecologia para encobrir medo de perder a influência sobre o povo

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A Igreja Católica entrou na falsa corrente mundial pró-Amazônia ao alegar que a ação de igrejas protestantes na região prejudica a população e a ecologia, segundo o artigo “Missões evangélicas são uma grande ameaça à cultura amazônica”, publicado no site de notícias católico Crux.

Acusação bem oportunista, pois o Vaticano realizará de 6 a 27 de outubro o Sínodo da Amazônia, encontro de bispos para discutir assuntos relativos à região, com um pretexto ecológico. O curioso é que políticos brasileiros atualmente em mandato foram vetados de comparecer.

Mas, em entrevista concedida ao Crux, o bispo italiano Flavio Giovenale, atuante em Cruzeiro do Sul, Acre, revelou as verdadeiras preocupações romanas – a presença evangélica crescente, enquanto a católica diminui: “Até a década de 1970, quando cheguei à Amazônia, o Brasil era quase completamente católico. Mas a expansão das terras agrícolas na floresta desmatada mudou tudo. É quase como se os evangélicos tivessem o projeto de transformar a Amazônia em um território não católico”, acusa.

O bispo, porém, admite: “Os evangélicos certamente preencheram os espaços que deixamos abertos. Os distritos históricos (os centrais) da maioria das cidades do Brasil estão cheios de igrejas católicas, enquanto os bairros pobres e distantes têm apenas as evangélicas”. Ele deixa claro o interesse católico mais intenso onde se concentra mais poder e dinheiro, algo curioso dito por uma liderança deles mesmos.

O artigo cita uma pesquisa segundo a qual a porcentagem católica na população do Brasil pode cair para 38,6% em 2032, enquanto a evangélica pode chegar a 39,8%, sendo a maioria no país. Uma antropóloga brasileira entrevistada pelo Crux, Ivaneide Cardozo, cita uma das razões da maior presença protestante no Norte: “Eles (os evangélicos) passam mais tempo nas aldeias e investem muito tempo na conversão de líderes indígenas”.

Mas a antropóloga também diz que “a maioria dos pastores não condena eventuais irregularidades como roubar madeira, mineração ilegal e arrendamento ilegal de terras, por isso parecem ser melhores do que os missionários católicos, que pregam sobre a proteção da natureza e reprovam condutas ilegais”. Entretanto, não apresenta provas do que diz.

O bispo Giovenale continua: “Na minha diocese temos em média um padre por uma área de 4.910 quilômetros quadrados. Os desafios do transporte são imensos”. Como ele explica, então, que os evangélicos conseguiram chegar a mais comunidades indígenas, já que o acesso é tão “impossível” assim? Dessa forma, o religioso italiano deixa claro o que está realmente sendo ameaçado: a influência romana, cada vez menor. As referências históricas do Brasil, inclusive, estão longe de mostrar a ação católica portuguesa positiva sobre as populações indígenas desde o descobrimento.

Mais curioso ainda é o próprio Giovenale dizer ao Crux que sua instituição deve imitar a atitude evangélica que ele mesmo critica: “Temos que deixar de ser uma igreja visitante e nos tornar uma igreja de presença”.

O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército Brasileiro e assessor do gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, disse em entrevista recente que “o Sínodo escapou para questões ambientais e também tem o viés político”. Ele diz que o que for deliberado pelo encontro de bispos pode ser explorado pelos ambientalistas, pondo mais lenha na polêmica das queimadas para a grande cortina de fumaça que esconde os reais interesses do mundo nas matas brasileiras, “mas que fique claro: não vamos admitir interferência em questões internas de nosso país”, alerta.