Vítimas, coadjuvantes ou vilões da pequena corrupção?

Estudo aponta que 11% dos brasileiros já pagaram propina para acessar serviços públicos

Imagem de capa - Vítimas, coadjuvantes ou  vilões da pequena corrupção?

Você já ouviu falar da pequena corrupção? Qual é a diferença entre ela e a cultura da desonestidade? Uma pesquisa da ONG Transparência Internacional, que ouviu mais de 22 mil pessoas em 20 países da América Latina e Caribe, revelou a posição do Brasil na temática de corrupção.

O estudo mostra que 11% dos brasileiros já pagaram propina para acessar serviços básicos, 78% acreditam que a corrupção aumentou no País e 83% consideram que pessoas comuns podem fazer a diferença no combate à corrupção.

Na escala da propina, o Brasil é o penúltimo país da lista a fazer uso desse artifício, atrás apenas de Trinidad e Tobago

Segundo a cientista política e coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção (CEPC), da Universidade Estadual Paulista de Franca (Unesp), Rita de Cássia Biason, a cultura da desonestidade no Brasil está atrelada à violação dos princípios da honestidade social e eticamente aceitos.

Já a corrupção é um degrau além, em que a violação não é só da moral, e sim da lei.

“Pagar para não ser multado no trânsito pode não impactar toda a coletividade, mas pagar para um hospital me dar preferência no atendimento pode afetar outras pessoas que têm mais emergência no atendimento”, exemplifica.

“Os brasileiros estão assustados pelos escândalos que afetam também os serviços públicos. Apesar de ser visto como um País moderno, o Brasil tem uma carência muito forte de serviços, que são muito burocráticos”, explica.

Solução

A especialista garante que a mudança vem de manifestações grandes do coletivo social para reivindicar direitos que, muitas vezes, não são oferecidos de forma adequada. Para ela, o brasileiro que ainda não identifica os próprios atos de corrupção precisa da imprensa e dos movimentos da sociedade civil para identificar e apontar os erros dele.

A mudança de comportamento, além de ideológica, é pragmática. Para solucionar o problema, a pesquisadora lista algumas ações necessárias aos gestores públicos: redução da precariedade dos serviços públicos, proteção dos denunciantes de atos de corrupção e a criação de alianças com a tecnologia, para acompanhar mais de perto o trabalho realizado pelos governantes, entre outros.

Mesmo com as dificuldades que caracterizam nosso sistema social, resta o questionamento: será que a cultura da propina é uma justificativa ou solução para as nossas carências públicas?

Apesar dos 11% de brasileiros que assumiram o pagamento de propina, no fundo sabemos que há muitos vazios na nossa sociedade quando se fala de moral, ética e combate à corrupção. Qual é o limite para pagar pelo que desejamos? Há sempre justificativas? Uma mudança social estruturada pode realmente tirar o Brasil desta situação, mas requer comprometimento tanto dos indivíduos quanto dos governantes. É preciso abrir os olhos, reivindicar direitos e denunciar, pois muitos ainda se fingem de cegos diante dos desvios de conduta alheios. E o pior: cegos diante das próprias ações desonestas.

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Colaborador

Por Katherine Rivas / Fotos: Fotolia