Sementes do mal?

A sociedade tem uma visão distorcida dos jovens que se envolvem com o crime, mas não é como Deus os considera. Conheça o trabalho do projeto Universal Socioeducativo Brasil, que os ajuda a sair da criminalidade

Imagem de capa - Sementes do mal?

O grupo Universal Socioeducativo Brasil (USE) é formado por voluntários que ajudam a realizar atividades que visam à ressocialização de menores infratores que cumprem medidas em unidades socioeducativas espalhadas por todo o Brasil. O objetivo do grupo é mostrar a esses jovens que é possível recomeçar a vida longe do crime. O lema do grupo é Nós Acreditamos no Recomeço.

Dentre os projetos desenvolvidos estão a conscientização e a prevenção ao uso de drogas; o incentivo à prática de esportes; as palestras motivacionais; as atividades culturais, como teatro, música e dança; e o trabalho realizado em abrigos com crianças e adolescentes. O grupo conta com mais de 10 mil voluntários no País inteiro e 3 mil em mais sete países.

Um gatilho para o crime
Durante a juventude, muitos desses voluntários também tiveram que cumprir medidas socioeducativas depois que cometeram algum erro, mas, por meio da Fé, eles puderam reescrever sua história. Hoje, com a vida transformada, eles levam a outros jovens a esperança de um futuro longe da marginalidade.

O jovem Rodrigo Eduardo Lourenço da Silva, (foto abaixo) de 23 anos, é um exemplo. Ele nasceu em um abrigo e conta que a mãe engravidou dele quando tinha 13 anos. “Minha mãe era muito nova e tinha ficado órfã depois do falecimento da minha avó. Por isso, ela foi encaminhada a um abrigo. Moramos lá até meus seis anos.”

Quando Rodrigo completou sete anos, ele e a mãe saíram de lá para começar uma nova vida. Na época, já maior de idade, a mãe do jovem alugou uma casa, mas o que era para ser uma nova fase se transformou em um pesadelo. Depois que ele e sua mãe estavam morando juntos há três anos, seus tios se uniram à família, mas o que eles não sabiam até então é que os tios eram envolvidos com o tráfico de drogas.

Rodrigo relata o que aconteceu a partir daí: “como qualquer criança eu tinha sonhos, queria ser policial ou jogador de futebol, porém não me tornei nem um nem outro. Me recordo que um dia peguei um dos revólveres do meu tio e na sala de casa simulei um assalto. Aquilo foi como um gatilho para que eu entrasse para o crime”.

As dificuldades financeiras e a ausência do pai levaram Rodrigo a ser um jovem agressivo na escola. Tudo piorou quando ele conheceu as drogas. Aos 12 anos ele passou a usar maconha, cocaína, lança-perfume e a beber. Para sustentar o vício, ele começou a traficar e a furtar.

Não demorou muito para que o jovem fosse apreendido por tráfico de drogas e, por ainda ser menor de idade, ele cumpriu 43 dias de reclusão na Fundação Casa (nome dado às unidades socioeducativas em São Paulo).

Contudo esse fato não bastou para que ele aprendesse a lição: “quando saí da Fundação, eu estava pior do que antes e passei a ameaçar até a minha mãe. Além disso, também cheguei a ter um revólver apontado para a minha cabeça”.

Rodrigo persistiu nessa vida por cinco anos, mas recebeu um convite de um antigo parceiro do crime: “um amigo, que tinha conhecido o trabalho da Universal e mudado de vida, insistiu para que eu fosse à Igreja com ele. Eu fui por consideração, mas quando cheguei à Universal encontrei a paz que procurava.”

Preso injustamente
Rodrigo se batizou nas águas, mudou seus pensamentos e atitudes, saiu do crime e não usava mais drogas. Depois de se entregar a Deus de todo coração, ele recebeu o batismo com o Espírito Santo e passou a ajudar jovens que viviam como ele no passado. Entretanto, em 2015, já frequentando a Universal há três anos, ele foi preso. “Por causa do meu histórico, fui acusado injustamente de roubo, mas estava em paz. Fiquei preso dez dias e consegui provar minha inocência.”

Hoje Rodrigo continua seu trabalho de levar uma palavra de Fé aos internos que estão nas unidades da Fundação Casa.

Vida de Facilidades
Infelizmente, a história de Rodrigo não é a única. A podóloga Thaisa da Silva, (foto abaixo) de 28 anos, também cresceu em um ambiente familiar destruído e sem a presença do pai, que abandonou a família quando ela ainda era criança. “Minha mãe assumiu tudo dentro do nosso lar.

Ela nunca deixou faltar nada material, mas o principal ela não me dava, que era a atenção e o amor como eu queria. Então, cresci uma criança frustrada e, além disso, ainda na infância sofri abusos de pessoas que deveriam me proteger.”

Aos 13 anos, Thaisa passou a ser uma pré-adolescente revoltada e decidiu sair de casa. “Eu já sofria demais e as coisas só pioraram. Passei a me envolver com drogas, tive vários relacionamentos abusivos e fui agredida fisicamente e verbalmente. Eu vivia um inferno.”

Thaisa passou a se envolver com um grupo de estelionatários que clonavam cartões. “Eu me encantei com o mundo de facilidades. Porém um dia fui a uma loja e comprei várias coisas, mas, antes de conseguir aplicar o golpe, fui apreendida e peguei uma pena de dois anos.”

A jovem relembra que o período que ficou na unidade socioeducativa foi de muito sofrimento. Apesar disso, ao voltar para a rua, ela continuou agindo errado, se afundou ainda mais nas drogas e quase teve uma overdose. Ela também se envolveu com prostituição para ganhar dinheiro. “Vivia uma vida promíscua. Quando ficava em casa, não conseguia dormir porque ouvia vozes, via vultos e tinha pesadelos o tempo todo. Eu achava que a solução para mim era a morte, pois assim o meu sofrimento acabaria.”

Thaisa pensou diversas vezes em suicídio e chegou a tentar. No entanto, um dia, assistindo a um programa de TV da Universal, decidiu ir à reunião. “Eu fui à Igreja em uma sexta-feira e aos poucos Deus transformou a minha vida e a da minha família. Na época, minha mãe estava com câncer, conquistou a cura e tudo foi mudando.”

Desde 2002, Thaisa está na Universal. Livre dos vícios e longe do crime, ela ajuda no trabalho realizado dentro das unidades socioeducativas que abrigam o público feminino e partilha sua experiência com essas jovens.

Movimento Sócio Abrigo
Há quase um ano os voluntários do USE realizam o Movimento Sócio Abrigo (MSA). O objetivo desta iniciativa é atender crianças e adolescentes que se encontram em abrigos. Atualmente, o Brasil tem aproximadamente 52 mil crianças e adolescentes que vivem nessas instituições. Muitos foram vítimas de maus-tratos ou estão em estado de abandono social.

O Pastor Ulisses Gomes, responsável pelo trabalho do USE no Brasil, fala da importância do novo projeto: “há grandes resultados com o trabalho nos centros de reabilitação de menores, mas muitos deles, quando saem, vão para os abrigos. Então, o MSA é uma continuação do cuidado com os menores infratores para que não voltem para o crime e também com as outras crianças e adolescentes que moram ali para que não se tornem futuros infratores.”

Além dos voluntários levarem a Palavra de Deus, eles os ajudam a vencer traumas e inseguranças por meio do apoio espiritual. São oferecidas atividades culturais (banda de música, peças teatrais e dança) e também palestras durante as visitas.

Um dos voluntários que visitam os abrigos regularmente é o garçom Eduardo Souza, (foto abaixo) de 19 anos, que um dia também viveu neste tipo de instituição. O jovem teve uma infância conturbada, pois seu pai era ex–presidiário e viciado em drogas e sua mãe era dependente de álcool.

Como reflexo dessa situação, a maioria dos irmãos de Eduardo seguiu o mesmo caminho de vícios dos pais. Quando ele tinha 4 anos e estava com a mãe e uma das irmãs em um bar, sua mãe começou a beber exageradamente. Em razão da embriaguez dela, a polícia foi chamada e Eduardo e a irmã foram levados ao Conselho Tutelar e depois encaminhados a um abrigo.

“Ficamos seis meses nesse abrigo até que meu pai conseguiu recuperar nossa guarda. Depois de dois anos voltei para o abrigo, pois minha mãe estava novamente embriagada na rua. Sofri muito por conta da ausência dos meus familiares, porque, independentemente dos erros deles, eram meus pais e eu os amava.”

O jovem relembra que quase chegou a ser adotado, mas felizmente uma tia conseguiu sua guarda. “Morei com ela um ano e em uma oportunidade que visitei meus pais nunca mais voltei.”

Eduardo explica que todos esses problemas o tornaram um jovem triste, que frequentava baladas e bebia para esquecer os problemas. Aos 18 anos, ele trabalhava como auxiliar de escritório e na época começou um relacionamento com uma colega de trabalho que lhe apresentou as drogas. Não demorou muito para que ele perdesse o emprego e a namorada por conta do vício.

Uma palavra muda tudo
Desempregado e passando necessidade, Eduardo pensou em entrar para o tráfico de drogas com seu irmão. “Eu achava que seria mais fácil se eu me envolvesse com isso. Passavam mil coisas na minha mente.” Felizmente, ele não chegou a entrar de fato para o crime. “Um dia, deitado na cama, comecei a refletir sobre a minha vida e tomei uma decisão que nunca tinha me ocorrido: fechei os olhos e invoquei a Deus. Eu não tinha religião, não frequentava igreja, mas me lembrei da palavra de um obreiro da Universal que me dizia que sempre orava por mim.”

Naquele momento, Eduardo pediu a Deus que o ajudasse. No dia seguinte, ele foi à Universal. “O Pastor disse tudo o que estava acontecendo comigo. Comecei a frequentar a Igreja e a ouvir sobre o Espírito Santo. Eu queria Aquele que podia transformar a minha vida.”

Eduardo chegou à Universal em janeiro de 2019 e no mesmo ano se libertou dos vícios, teve seu Encontro com Deus e hoje é uma pessoa completamente transformada. “Sou um novo homem. Hoje meu maior desejo é servir a Deus onde Ele achar melhor.”

Nada é empecilho
Todos os projetos do USE só existem graças aos voluntários do grupo, que, independentemente de terem se envolvido ou não com o crime, querem ajudar o próximo. A professora de educação física Gabriela de Campos Silva, (foto abaixo) de 37 anos, também é voluntária do MSA.

Ela conta que desde a infância apresentava alguns comportamentos estranhos. “Aos 8 anos eu era uma criança angustiada e extremamente agressiva. Eu tinha desejo de morrer e não sabia o motivo. Por várias vezes tentei tirar minha vida.”

Gabriela sempre fez atividades físicas na infância, mas, aos 18 anos, ela começou a praticar artes marciais como forma de descarregar sua agressividade. No entanto a situação piorou: “fui processada porque bati em uma pessoa. Quando eu estava irritada, eu ia para cima e batia até em homens”.

A jovem começou a beber, a usar drogas e até entrou em coma por causa dos vícios. Nessa mesma época, Gabriela conheceu o trabalho da Universal, mas não se firmou na Fé. Em 2018, ela teve um problema grave de saúde grave, sofria com incontinência urinária severa e dores musculares como câimbras. Isso a fez perder os movimentos das pernas. Gabriela ficou hospitalizada e descobriu que não poderia andar por um tempo.

Foi quando ela se lembrou da Fé e decidiu voltar para a Igreja. “Eu voltei de uma forma diferente. Eu passei a participar das reuniões e a ler a Bíblia. Eu tinha desejo de voltar a andar, mas a vontade de conhecer a Deus de fato era maior.”

Depois de alguns meses e ao se entregar verdadeiramente a Deus, Gabriela recebeu o Espírito Santo. E, mesmo usando cadeira de rodas, ela passou a ajudar no MSA. “A cada visita, tenho experiências muito especiais por levar a alegria e o amor dEle.”

Ela enfatiza a importância desse trabalho: “hoje as crianças conhecem muito cedo o ódio, o abandono, a agressão e muitas atrocidades dentro de casa e nas ruas, então o projeto leva a Fé e uma alternativa para que tenham uma mudança de vida.”

Depois de alguns meses, Gabriela recuperou os movimentos das pernas e afirma que isso aconteceu graças à Fé. Ela relata sua experiência como voluntária e deixa um convite: “quem é salvo quer salvar. Fazer parte desse grupo é um privilégio, pois vamos aonde outros não vão.

Levamos luz para aquelas vidas e ajudamos as crianças a terem um futuro feliz. Então, se você quer ser usado por Deus, procure um representante do USE em uma Universal e faça parte desse movimento.”

Para conhecer mais sobre o trabalho do USE, acompanhe a página oficial do grupo www.facebook.com/universalsocioeducativobrasil ou pelo telefone (11) 98468-0317.

imagem do author
Colaborador

Maiara Máximo / Cedidas e Demetrio Koch