Quarentena coloca laços familiares à prova

As notícias mostram aumento de divórcios, novos casos de violência contra a mulher e problemas com os filhos. Como fortalecer a sua família nesta crise?

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As consequências negativas da pandemia vão além da saúde e da economia e têm afetado também os relacionamentos. Até outro dia, por assim dizer, ninguém tinha tempo para fazer nada. Agora, com a quarentena, muitas pessoas estão reclamando que não sabem o que fazer com o tempo livre. Neste cenário, muitos casais enfrentam problemas, brigam e chegam até a pensar em divórcio e, para outros, a convivência com os filhos se tornou insuportável.

O fato de os familiares ficarem mais tempo juntos deveria fortalecer os laços entre eles, mas isso só ocorre em lares em que a harmonia já existia antes da crise, explicam os palestrantes e apresentadores Renato e Cristiane Cardoso. “O casal que já vive bem vai ficar melhor ainda, mas aquele que não vive bem poderá enfrentar mais atrito. O tempo junto poderá ser bom se o casal fizer a coisa certa”, observa Renato.

Cristiane reforça que os cônjuges que se evitavam antes agora são obrigados a conviver. “Muitos casais tinham a oportunidade de ter mais tempo juntos e a evitavam porque não sabem ficar juntos. O casamento saudável faz tudo mais saudável e o infeliz faz tudo na vida
ser mais complicado.”

A psicóloga especialista em neuropsicologia Amanda Bastos concorda com essa afirmação e acrescenta que a raiz de muitos problemas familiares é a falta de comunicação. “Muitos estavam acostumados a estar na companhia um do outro no máximo três ou quatro horas só no final do dia ou nos finais de semanas. Atualmente, o tempo de convivência aumentou muito, assim como o estresse social atrelado a questões financeiras, políticas e de saúde. Isso causa a redução da tolerância em casa e desencadeia atritos.”

Convivência 24 horas
Muitos pais relatam dificuldades de conciliar o home office com o homeschooling e a necessidade de dividir seu tempo para desempenhar múltiplas tarefas no dia. As crianças e adolescentes estão entediados e frustrados porque não podem encontrar os amigos nem realizar atividades externas de lazer. Somado a isso existe a imaturidade cognitiva deles para conseguir acompanhar as aulas virtuais e, como os adultos, eles estão estressados (leia mais sobre o impacto da quarentena nas crianças na pág. 30). Tudo isso gera um conflito familiar generalizado.

Esse era o caso do representante comercial autônomo Silvino Bernardo da Silva Neto, de 43 anos, (foto abaixo) e de sua esposa, a recepcionista Marinalva Pinheiro da Costa Bernardo, de 44 anos. “Eu não estava acostumado a trabalhar em casa. No começo foi muito difícil porque eu não sabia como conciliar as atividades profissionais com a atenção que o nosso filho, Pablo, de 9 anos, exigia. Eu não tinha paciência porque ele nos cobrava que saíssemos e visitássemos os familiares. Chegamos até a discutir”, diz Silvino.

Marinalva conta que problemas financeiros deixaram o clima pesado. “Nossa renda diminuiu e as preocupações financeiras vieram à tona. Eu não conseguia organizar meus horários e tudo prejudicava a relação familiar.”

Quando percebeu que a família estava sendo afetada, o casal decidiu buscar orientação espiritual. “Nós frequentávamos a Universal mas, com a pandemia, deixamos de ir presencialmente. Depois que admitimos os conflitos, buscamos assistir às palestras da Terapia do Amor e elas têm nos ajudado neste período”, relata Silvino.

Segundo Marinalva, a prática da fé neste momento foi fundamental para que ela se acalmasse. “Decidi me apegar mais a Deus, ler mais a Bíblia, meditar nos ensinamentos e me conectar com a Fé. A perseverança e a confiança em Deus são importantes para vencer o medo e as preocupações e, principalmente, para conseguirmos manter o nosso casamento em paz.”

Silvino explica que mudar de comportamento ajudou a transformar a convivência na quarentena. “Passar tempo juntos diariamente deixou de ser um peso. Aprendemos a ouvir um ao outro e a curtir mais o tempo livre com o Pablo. Mantê-lo o tempo todo vendo TV ou entretido com jogos eletrônicos, além de não ser saudável, era enfadonho. Agora estamos unidos e sairemos fortalecidos quando essa tempestade acabar”, conclui.

Juntos no trabalho
Quando os casais não conseguem resolver os problemas, eles buscam uma solução drástica. De acordo com o jornal The Global Times, em Xi’am, na China, houve um recorde de pedidos de divórcio desde o início da pandemia. O tabloide New York Post também divulgou que advogados especialistas em separação constataram um aumento de 50% por consultas no período de isolamento social nos Estados Unidos.

Para evitar que isso aconteça, Renato Cardoso orienta que os dois devem ser flexíveis. “Não pense só em como você se sente ou gostaria de se sentir. Pense em como seu parceiro gostaria de se sentir. Quando pensamos no outro como se estivéssemos pensando em nós mesmos, paramos de ser desagradáveis e nos tornamos pessoas melhores.”

Além disso, os palestrantes e apresentadores reforçam que quanto mais próxima a pessoa estiver de Deus mais unida ela ficará com seu parceiro.

Foi a Fé que salvou o casamento da atendente Valdenia Magalhães, de 30 anos, e do pizzaiolo Antônio Magalhães, (foto abaixo) de 30 anos. “Já trabalhávamos juntos antes da pandemia, mas só à noite. Na quarentena passamos a trabalhar o dia todo um ao lado do outro e começamos a discordar de tudo. Com isso, a convivência se tornou muito irritante”, conta Valdenia.

Para Antônio, o que mais dificultou a relação com a esposa foi a falta de comunicação. “Estávamos nos adaptando a trabalhar juntos e quando tudo aconteceu tivemos que nos readaptar. Eu não sabia ouvi-la e queria tomar as decisões do meu jeito. Brigávamos muito.”

Triste com a situação, Valdenia se lembrou dos conselhos que recebeu quando participava das palestras da Terapia do Amor. “Lembrei que o Bispo tinha dito que temos que priorizar a razão e não a emoção. Então, passei a ser mais racional. Sugeri que voltássemos a assistir às palestras juntos e isso ajudou na nossa reconciliação.”

A intervenção do Espírito Santo mudou a relação do casal. “Por meio da Palavra que vem do Alto, passei a ouvir mais a Valdenia e a respeitá-la mais. Também deixei de fazer aquilo que a incomodava, mesmo que para mim não tivesse problema. Hoje, encontramos juntos as soluções para os problemas e tomamos as decisões em conjunto”, finaliza Antônio.

Violência no lugar seguro
Outro problema é quando a casa não é um local que proporciona segurança. A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, disse à Folha Universal que uma das consequências do isolamento social foi o aumento da violência contra a mulher.

“Esse fenômeno foi também observado em outros países que decretaram quarentena tanto na Ásia quanto na Europa. A agressão não acontece em todas as famílias, mas imagine naquelas em que ocorre e o agressor fica 24 horas por dia convivendo com a vítima?

Infelizmente, o que vemos País afora são famílias desestruturadas. Isso reforça a importância de fortalecermos os vínculos familiares. É nisso que este governo acredita e pelo que tem trabalhado”, observa.

Para ajudar as mulheres que enfrentam essa situação, o Raabe – programa social da Universal – intensificou, em todo o Brasil, os atendimentos que oferecem apoio psicológico e judicial às vítimas. A responsável pelo Raabe, Fernanda Lellis, afirma que cerca de 100 mulheres são atendidas todos os dias. Ela ainda diz que muitas estão entrando em depressão por não saber lidar com o confinamento. “É importante que a mulher acredite que pode sair do cenário de violência. Ela precisa buscar ajuda com familiares e nos órgãos competentes”, acrescenta.

As voluntárias realizam o atendimento pelo WhatsApp (11) 95349-0505 pelo e-mail projetoraabe@gmail.com e por meio das redes sociais Facebook e Instagram.

Medo de sair de casa
A diarista Ronilda Silva Nascimento, (foto abaixo) de 40 anos, conta que sofreu violência por parte do ex-marido e só conseguiu vencer as constantes agressões quando procurou ajuda. “Casei muito nova e ele queria ter vida de solteiro. Não me respeitava e eu cobrava isso. Era o suficiente para que ele me agredisse. Ele também tinha ciúme porque eu estudava.”

Ele ainda a ameaçava, caso ela o denunciasse. “Já tínhamos três filhos e eu vivia com medo de que ele fizesse algum mal a eles. Eu estava presa em um ciclo de medo e ódio. Ele chegou a me queimar, me dava choques, tentava me enforcar, nos deixava com fome. Até que desenvolvi uma depressão profunda e pensei em me matar.”

Ela só percebeu que podia sair daquela situação depois que ouviu um programa na Rede Aleluia, o que a levou até uma Universal.

“Somente quando conheci a Fé tive forças para mudar de vida. Decidi sair de casa e recomeçar. Deus me deu uma nova identidade. E, por meio do projeto Raabe e da Terapia do Amor, aprendi a superar o passado. Hoje estou noiva e com a certeza de que esse relacionamento veio do Altar”, completa.

Vale ressaltar que Ronilda não denunciou o ex, assim como muitas mulheres não denunciam a violência. Isso é um erro, segundo o advogado criminalista e especialista em casos relacionados a violência doméstica Guilherme Felipe Miguel: “embora tenham ocorrido inúmeros avanços, como a criação da Lei Maria da Penha, muitas mulheres se sentem constrangidas e não têm segurança de fazer a denúncia pela falta de estrutura ofertada pelo Estado. Dessa forma, capacitar o profissional responsável pelo primeiro atendimento é um ponto necessário, além de ser importante que as políticas públicas sejam aprimoradas”, declara.

A advogada especialista em direito da família Cátia Vita acrescenta que nesta fase de pandemia o lar é o local mais perigoso para mulheres que sofrem com a agressividade dos parceiros. “O isolamento social intensifica a convivência entre os familiares, o que pode aumentar as tensões. O contexto de apreensão, incertezas e adversidades impostas pela pandemia, além do consumo excessivo de álcool, colabora para as discussões entre os casais.”

Por isso, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, reforça que a denúncia é o passo mais importante. “O principal canal para recebimento de denúncias de violência contra a mulher é o Ligue 180. Para os demais grupos, basta ligar no Disque 100. A novidade dessa quarentena é que lançamos também outras ferramentas. Hoje, basta acessar o site ouvidoria.mdh.gov.br ou baixar o aplicativo Direitos Humanos Brasil para registrar a denúncia. Inclusive é possível anexar fotos, vídeos e demais documentos que comprovem a situação de violência. Por que fizemos isso? Com agressor e vítima convivendo 24 horas por dia sob o mesmo teto fica difícil pedir socorro. Pelo celular ou computador é possível fazer isso anonimamente.”

Damares conclui que é preciso que pessoas próximas à vítima também denunciem. “Nesse período de pandemia, quando temos mais pessoas em casa, é preciso que os vizinhos aumentem a vigilância. Tem que denunciar. Chega desse negócio de ‘ninguém mete a colher’.

Tem que se intrometer sim. Nós garantimos o anonimato. Então não precisa ter medo. Só assim vamos superar essas dificuldades. É todo mundo cuidando de todo mundo.”

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Colaborador

Ana Carolina Cury / Fotos: Getty images, fotos: Nicoly Stefane Bento Lima, Wesley Adrion Ferreira Nascimento/Mídia FJU, Arte: Edi Edson