As preocupações estão tirando o seu sono?

As incertezas trazidas pela pandemia podem estimular episódios de insônia e dificuldade para dormir. Entretanto é importante manter uma rotina de sono para garantir uma boa saúde

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Você está dormindo bem? Com a pandemia do novo coronavírus, a rotina de muitas pessoas se transformou e isso pode ter trazido impactos na qualidade do sono. Entre os brasileiros, a dificuldade para dormir já estava presente antes mesmo da chegada do novo vírus.

Em 2019, os problemas com o sono afetavam 60,4% da população adulta e 54% das pessoas não estavam satisfeitas com o sono durante a semana, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira do Sono.

A psicóloga clínica Francinete Paulo de Medeiros, de Jundiaí, interior de São Paulo, explica que as mudanças provocadas pela pandemia podem acentuar doenças preexistentes ou estimular o surgimento de transtornos. “A pandemia está trazendo insegurança, medos, estresse, dívidas e isso pode atrapalhar o sono. Nós saímos da nossa zona de conforto no trabalho, nos estudos, na rotina, para nos depararmos com situações novas. Neste momento, precisamos aprender a viver com as incertezas”, diz ela, que é especialista em terapia coginitivo-comportamental.

Segundo Francinete, a saúde mental e o sono têm relação direta. A insônia pode ser um sintoma de que algo não está bem. “Geralmente, quando estamos com insônia de modo frequente é sinal de que já existia uma ansiedade. Sentir ansiedade é normal, mas se ela é muito intensa e causa palpitação, sudorese e falta de ar, pode ser patológica e a pessoa precisa de ajuda especializada”, alerta.

Química do sono
Franco Martins, pneumologista e médico do sono da Faculdade de Medicina do ABC, explica por que as preocupações e a ansiedade atrapalham o sono: o conteúdo do nosso pensamento pode interferir positivamente ou negativamente em relação ao sono. Do ponto de vista cerebral, quando nós temos uma manifestação de ansiedade, o corpo acaba liberando substâncias como o cortisol e a adrenalina, que fazem com que a atividade cerebral fique mais ativa e a pessoa não consiga dormir”, detalha.

Ele conta que a liberação de cortisol e da adrenalina também ocorre quando praticamos exercícios físicos ou realizamos uma atividade que estimula o cérebro.

O médico acrescenta que há outras substâncias envolvidas no sono. “A adenosina, por exemplo, é resultado da produção de energia pelos neurônios. Quanto mais ela se acumula ao longo do dia, mais ela promove o sono. Entretanto o consumo de café, chá-mate e substâncias energéticas pode bloquear a ligação da adenosina com receptores dentro do cérebro. Assim, a pessoa fica mais ligada e pode ter dificuldade para dormir”, esclarece.

O excesso de luminosidade também pode prejudicar o sono das pessoas. “A luz de celulares, tablets e computadores interfere na melatonina, substância cuja principal função é regular o sono”, aponta o médico.

Saúde em risco
O pneumologista Franco Martins diz que a média de sono da população adulta é de 7,5 horas, mas isso pode variar. Entretanto quem dorme menos de seis horas por noite deve ficar atento. “O sono é uma necessidade fisiológica e faz parte dos três pilares para uma vida saudável: nutrição, atividade física e sono. O organismo não funciona adequadamente se a pessoa não dormir bem”, alerta.

A falta de sono, a insônia ou o sono fragmentado, que é quando a pessoa acorda várias vezes durante a noite, podem levar ao desenvolvimento de várias doenças. “A falta de sono está associada à depressão, a transtornos de humor, à esquizofrenia, ao AVC e ao aumento da incidência de câncer de modo geral. Quem dorme mal pode ter o agravamento de doenças respiratórias e maior risco de infarto, pior controle da pressão arterial e aumento nos níveis de colesterol e glicemia. A insônia também está relacionada à obesidade, à dificuldade de aprendizado e à diminuição da atenção e dos reflexos, o que costuma causar acidentes de trânsito”, enumera.

Por isso, quem está com dificuldade para dormir ou costuma ter insônia deve conversar com um médico sobre o assunto para realizar exames e fazer o tratamento adequado.

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Colaborador

Rê Campbell / Foto: Getty Images