Mundo digital pode ser armadilha para a vida amorosa

Uso excessivo de smartphone gera briga e afastamento entre os casais. Para solteiros, redes sociais e aplicativos podem esconder perigos como identidades falsas e outras ciladas

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Durante muito tempo, a internet e as redes sociais foram grandes obstáculos na vida do casal Thaís e Juliano Lourenço. Ela conta que não havia espaço para o diálogo no relacionamento dos dois. E o pior: ele só tinha olhos para o smartphone.

Por meio do celular, Juliano mantinha contato com outras mulheres. “Nós não coneguíamos sentar para conversar. As coisas tinham que ser do jeito dele. Ele trocava mensagens com outras mulheres nas redes sociais. Quando eu questionava, ele dizia que eram apenas colegas de trabalho”, lembra.

Thaís afirma que o esposo gastava muito tempo na internet. “Ele também acessava sites de pornografia. Teve uma vez que eu estava internada no hospital e fiquei muito chateada. Enquanto eu passava por uma situação difícil, ele estava vendo esses sites”, diz.

Gota d’água
A falta de diálogo e o excesso de horas que Juliano passava conectado à internet deixavam Thaís cada vez mais descontente. Ela conta que passou a anotar os erros do marido em um caderninho. “Eu marcava tudo de ruim que ele fazia. Depois, acabava relendo e aquilo alimentava a raiva e a mágoa dentro de mim.”

A gota d’água aconteceu há cerca de quatro anos. “Faltavam quatro dias para o Natal quando descobri que a ex dele havia ligado em seu celular. Eu questionei e o Juliano admitiu que conversou com ela por curiosidade, mas ele dizia que não tinha contato com ela. Ele costumava mentir.”

Thaís se lembrou do programa The Love School, da Record TV, e decidiu procurar a Terapia do Amor no Templo de Salomão, em São Paulo. “Eu assistia ao programa todos os sábados. Conversei com o meu marido e procuramos ajuda juntos para não perder o casamento”, diz.

Nas reuniões da Universal, Thaís recebeu alguns conselhos. “Antes eu tentava resolver as coisas com brigas, com a força do braço, mas não adiantava. Decidi mudar minhas atitudes. Deixei de anotar os erros dele e me concentrei nas coisas boas. Aos poucos, ele passou a se importar com o que eu estava sentindo.” O casal investiu no diálogo e na escuta. Com isso, eles conseguiram identificar os problemas que atrapalhavam a relação.

Thaís se sentia insegura por conta das mentiras do marido. Para superar isso, o casal mudou a forma de usar a internet. “Excluímos o Facebook e fizemos apenas uma conta em conjunto no Instagram. Só temos um celular com internet, que fica em casa.”

A mudança permitiu que o casal priorizasse a família. “Ganhamos mais tempo em família. Eu superei minha insegurança e meu ciúme excessivo. Hoje nós conversamos mais, estamos mais alegres e nosso relacionamento é baseado em amor e respeito”, conclui ela, que é mãe de Thiago, de 3 anos; Victor, de 15; e Amanda, de 17.

Olhos só para o celular
É cada vez mais comum encontrar casais com problemas relacionados ao celular. Um estudo da Universidade Baylor, nos Estados Unidos, mostrou que 46% dos entrevistados já foram ignorados pelo parceiro por causa do smartphone. Um em cada três afirmou que a situação os deixou deprimidos por um tempo. Segundo a pesquisa, as pessoas deixadas de lado por causa do celular relataram níveis mais baixos de satisfação com o relacionamento e com a vida.

O psicólogo Roberto
Debski esclarece que o uso descontrolado da internet pode esfriar muitos relacionamentos. “As pessoas precisam ter consciência de que o excesso não é bom. Além disso, a internet e especialmente as redes sociais podem apresentar um mundo ilusório, que pode confundir a pessoa. Muitos acabam acreditando nesse mundo perfeito e esquecem que a vida real tem desafios.”

Para Debski, a traição virtual é tão real quanto a infidelidade que envolve o contato físico. “Se existe sentimento envolvido, não importa se o amante é virtual ou presencial.” Ele acrescenta que um relacionamento harmonioso depende do equilíbrio e da dedicação das duas partes. “A relação deve ser horizontal, deve haver um equilíbrio de troca. Ambos devem estar abertos a dar e a receber. Os dois devem investir na relação de forma semelhante.”

Ilusão
A internet pode ser uma fonte inesgotável de ilusões. Foi o que aconteceu com Nayara Costa, (foto abaixo) de 25 anos. Depois de se divorciar, ela buscou aplicativos de relacionamento como refúgio para lidar com as dificuldades da separação. “Eu entrei em depressão e o aplicativo foi o jeito que encontrei de ocupar minha cabeça. Esses aplicativos nos levam a fazer coisas sem usar a consciência. Eu saía com pessoas que tinha acabado de conhecer pela internet.”

Ela conta que correu riscos. “Uma vez, saí com um rapaz que me perseguiu e foi até a porta de casa para conversar com a minha mãe.

Outros mentiam e colocavam fotos falsas. Também conheci um rapaz que tinha palavras doces pela internet, mas pessoalmente era agressivo.”

Para ela, o saldo foi negativo. “Tive experiências horríveis. Baixei o aplicativo em busca de um relacionamento sério, mas existem muitos homens mal-intencionados. Entrei no carro de desconhecidos, fui a lugares que não conhecia, Deus me livrou de muitas coisas”, diz.

Depois de usar o aplicativo por cerca de um ano, Nayara voltou a frequentar as reuniões da Universal. “Quando voltei, entendi a gravidade da situação que tinha vivido. Eu estava machucada, tentando tapar um buraco que não seria preenchido com o aplicativo. Comecei a participar do Godllywood e aprendi a reconhecer o meu valor.”

Ela superou a depressão e retomou a sua vida. “Hoje sou casada há quatro anos com o Félix, que conheci dentro da Igreja. Nosso foco é o Senhor Jesus e nosso relacionamento é baseado em companheirismo, sinceridade e carinho. Meu casamento é uma bênção”, completa.

De príncipe a sapo
Cleidiany Matias, (foto abaixo) de 23 anos, conheceu um rapaz em um site de relacionamentos quando tinha 14 anos. Após um ano de conversas no ambiente digital, ela finalmente marcou um encontro com o pretendente. “Ele era de uma cidade distante e começou a me visitar de vez em quando. Quando vinha para a minha casa, passava uma semana, duas, depois começou a ficar um mês, dois meses”, lembra.

Com o passar do tempo, ela descobriu que o príncipe virtual era um sapo fora da internet. “Ele era muito ciumento e não gostava que eu conversasse com ninguém. Passou a me agredir verbalmente e até fisicamente. Ele começou a me pedir certas coisas. Fui me tornando uma pessoa frustrada e insegura. Eu tinha medo do que ele poderia fazer comigo”, explica. O namorado que ela conheceu pela internet também se revelou mentiroso. “Descobri que mentia sobre tudo: os pais, a vida, a idade.”

Ela encontrou apoio na Universal. “O relacionamento estava me fazendo mal. Se eu quisesse mesmo mudar de vida, precisava sair daquela relação abusiva. No começo foi difícil, eu terminei o namoro e ele me perseguiu no trabalho, me ligava e me ameaçava. Graças a Deus tive pessoas que me ajudaram a encontrar o Espírito Santo.”

Ela também buscou ajuda no grupo Godllywood. “Aprendi a me valorizar e a me impor. Antes eu me colocava à venda, mas aprendi que sou uma joia, percebi o meu valor. Eu era viciada em internet, mas deixei as redes sociais de lado. Jamais procuraria outro relacionamento na rede”, finaliza.

Perfil falso
Juliana Braga, (foto abaixo) de 22 anos, encontrou nas redes sociais uma maneira de fugir das dificuldades da vida real. “Meus pais brigavam muito e minha irmã estava com problemas. Nessa época, uma amiga me apresentou o fake. Criamos contas nas redes sociais e fingíamos ser outra pessoa. Com uma identidade falsa, comecei a viver um sonho na internet. E me apaixonei por um fake, uma pessoa que criou um perfil falso do cantor Justin Bieber. Comecei a gostar muito dessa pessoa e ela passou a me enviar fotos”, relata.

Com base nas fotos que recebia e nas mensagens que trocava pela internet, Juliana viajou até Santa Catarina para conhecer a pessoa.

“Viajei de ônibus por 17 horas. Quando cheguei, descobri que era uma menina. Aí começou meu fundo de poço. Fiquei frustrada, comecei a frequentar baladas e passei a beber muito.”

A situação na casa de Juliana ainda estava complicada e ela continuou usando uma identidade falsa para se relacionar com outras pessoas. “Minha mãe teve câncer e passou a frequentar a Universal. Quando foi curada, passou a lutar por mim.”

Ela decidiu dar um basta quando percebeu que corria sérios riscos. “Estava na balada bebendo quando comecei a vomitar, quase fiquei inconsciente e fui expulsa de lá pelos seguranças. Na mesma noite, dois homens morreram na minha frente. Quando cheguei em casa, perguntei à minha mãe para onde tinha ido a alma deles. Ela me convidou para ir à Universal e aceitei. Hoje vivo em paz. Encontrei o que procurava, que é o Espírito Santo.”

Terapia do Amor
O Bispo Adilson Silva, (foto abaixo) responsável pelas reuniões da Terapia do Amor no Templo de Salomão, em São Paulo, explica que os casais devem ficar atentos ao uso da internet. “É importante criar suas próprias regras e cada um respeitar o que o outro pede. Compartilhar senhas, por exemplo, inspira confiança.”

Ele lembra que o uso descontrolado pode trazer problemas para casais e solteiros. O primeiro é a solidão. “A internet passa uma falsa sensação de que a pessoa está se relacionando com outras, mas ela não substitui o contato presencial. Segundo, que, se quando conhecemos alguém pessoalmente, o tempo já reserva surpresas, imagine quando o relacionamento é virtual.”

As ilusões geradas por belas fotos podem expor os usuários a riscos. “O bom seria se as pessoas usassem as redes sociais para conversar com os que já são amigos na vida real e não para conhecer pessoas”, conclui o Bispo Adilson Silva.

 

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: Demetrio Koch