Educação financeira dos filhos: a hora é agora

Bem ensinados desde cedo, eles têm menos probabilidade de ter problemas no futuro

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Muitos pais ainda não têm o hábito de falar de dinheiro com seus filhos pequenos. Uns acham que é assunto só para adultos; outros subestimam a inteligência deles – o que é um grande erro, pois, na primeira infância, eles são verdadeiras “esponjinhas” para absorver aprendizados que lhes servirão por toda a vida.

As crianças devem ser incentivadas a saber administrar seus recursos e a aprender que tudo nessa vida tem um custo e requer esforço para ser adquirido. A tática de dar mesada ou semanada é muito usada, mas, embora muitos pais as adotem, nem sempre ensinam a administrá-la, o que é tão importante quanto dar o dinheiro.

Participação em casa
Uma pesquisa recente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) mostrou que “a forma de lidar com o dinheiro muda se a educação financeira é aprendida na infância e na juventude, pois ela leva a comportamentos mais sustentáveis ao longo da vida”, diz no estudo Reinaldo Domingos, presidente da Abefin.

O trabalho também indicou que ao receber educação financeira na escola – prática cada vez mais comum nessas instituições – a criança a repassa à família. Ela participa das discussões sobre as contas da casa e ganha mais consciência de que não pode desperdiçar bens e serviços (comida, água, energia, etc.).

“Crianças são muito observadoras e, desde cedo, começam a perceber que o dinheiro tem força”, diz Domingos. Ele adverte que “ao mesmo tempo estão expostas às mensagens publicitárias, que estimulam o desejo de ter. Portanto é preciso ensiná-las o quanto é importante ter objetivos, fazer escolhas e que nada é mágico, porém, tudo é possível, desde que o dinheiro seja usado com foco e sabedoria”.

Como ensinar?
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também dá dicas aos pais e responsáveis que querem ensinar a seus filhos a consciência financeira:

• Quanto mais cedo, melhor: quanto antes você falar sobre economia com as crianças, maiores serão as chances delas desenvolverem uma relação mais equilibrada com o consumo e com o dinheiro. Claro que ainda não é hora de dar todos os detalhes a elas, mas é possível aproveitar as situações do dia a dia para ensinar, como no passeio ao shopping, na ida ao supermercado ou durante a compra do material escolar, por exemplo.

• Comece com um cofrinho: é uma experiência agradável que mistura disciplina e planejamento para conquistar o que se deseja. Pensem juntos numa finalidade para o valor guardado. Assim, o pequeno aprende a poupar e a guardar dinheiro para conquistar algo no futuro.

• Essencial x supérfluo: quando as crianças pedirem para que você compre algo, explique a ela a diferença entre querer e precisar. Para os mais crescidos, é um bom momento de conversar sobre como se comportar ao receber o primeiro salário e mostrar-lhes que cuidar da educação financeira hoje é garantir uma vida mais próspera amanhã.

• Diga não quando for preciso: é fundamental estabelecer limites. Se você der tudo o que eles pedirem, quando for necessário negar algo, independentemente da justificativa, eles não saberão lidar de forma saudável com a frustração.

• Estimule a doação: ser próspero também tem a ver com compartilhar e não com o acúmulo de coisas. De vez em quando, reserve um tempo para separar com os pequenos todos os objetos (brinquedos, roupas, livros, gibis, etc.) que não são mais usados e estimule a doação. Isso, inclusive, incentiva desde cedo o consumo sustentável.

• Estimule o gerenciamento financeiro: a partir da idade escolar, a criança já começa a ter noções de valor do dinheiro. Nesse momento, é saudável iniciar uma mesada e dar espaço para que ela tome decisões do que fazer com ela. Já a partir dos 16 anos, é possível abrir uma conta bancária no nome de seu filho, um importante passo rumo à independência financeira. Seja para movimentar o salário do estágio, do primeiro emprego ou a mesada, ter a própria conta no banco exige responsabilidade, maturidade, organização e vai
prepará-lo para gerenciar um saldo maior quando for mais velho.

• Dê o exemplo: crianças e adolescentes aprendem mais pela prática do que pelo discurso. Por isso, comece consigo mesmo e avalie sua relação com o dinheiro. Você tem sido coerente entre o que fala e o que faz? Uma das melhores atitudes que você pode tomar é envolver toda a família, inclusive os filhos, na hora de fazer o orçamento familiar. Assim, eles aprendem que poupar é uma tarefa de todos.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Fotos: Gettyimages