A César o que é de César

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Em uma conhecida passagem bíblica, Jesus é questionado sobre os impostos cobrados pelos romanos. Afinal, era certo ou não pagar tributos a César? Apesar dos excessos cometidos pelo império, Jesus respondeu de maneira sensata: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21). Ou seja, o cristão deve viver segundo os preceitos da Palavra de Deus, mas sem se esquecer de seguir as leis e as obrigações do mundo. Assim, é justo pagar impostos se vivemos debaixo das regras de um Estado e usufruímos dos direitos e serviços públicos que este oferece.

Entretanto, não devemos fechar os olhos para a Justiça. Assim como nos tempos do imperador romano, infelizmente, hoje arrecada-se muitos impostos, mas gasta-se de forma errada.

A cada ano, o brasileiro trabalha mais de cinco meses apenas para pagar impostos. É isso mesmo. Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), são necessários 153 dias de trabalho apenas para pagar tributos. Para se ter uma ideia do tamanho da carga tributária, basta dizer que, no último dia 24 de maio, os brasileiros já tinham pago o total de R$ 1 trilhão em impostos só em 2019. O montante corresponde a 63 impostos, taxas, multas e contribuições pagas nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal).

Descompasso
Mais do que a quantidade de impostos pagos, chama a atenção o destino desses recursos. Afinal, para onde vai tanto dinheiro? De acordo com o IBPT, pelo menos uma parte vai para a corrupção: do tempo gasto para o pagamento de impostos, 29 dias servem apenas para custear perdas por desvio ou mau uso de verbas.

A corrupção consome 8% de tudo que é arrecadado no país, o equivalente a R$ 260 bilhões por ano, ainda segundo a pesquisa do IBPT. O valor desviado pela corrupção seria suficiente para cobrir o rombo estimado para o orçamento do governo federal de R$ 139 bilhões.

Toda nação precisa arrecadar impostos para garantir serviços públicos básicos como saúde e educação. Até aí, não há nada de errado com os tributos. Entretanto, é alarmante observar que a alta carga tributária do Brasil não significa melhoria na qualidade de vida da população.

Primeiro mundo
Os impostos no Brasil representam 32,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Para entender melhor o significado desse número, vale compará-lo com a arrecadação de nações como Suíça (27,7%), Alemanha (37,1%) e Canadá (32%). Embora o percentual de impostos coletados nesses países esteja muito próximo do Brasil, a realidade aqui é bem diferente. A Suíça está em segundo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a Alemanha em quinta posição, enquanto o Canadá ocupa o 12º lugar. O IDH leva em consideração indicadores de renda, educação e longevidade da população. O Brasil está bem atrás, na 79ª posição. Ou seja, mesmo com arrecadação alta, nosso país não consegue distribuir recursos como deveria.

À espera do futuro
A má gestão e o desvio de verbas arrecados no país são prejudiciais para todos. Se o dinheiro não chega ao seu destino final, a população sofre com falta de saúde, educação e segurança.

Apesar do cenário complicado, nem tudo está perdido. Para que a situação brasileira possa de fato se reverter, é importante que cada cidadão permaneça atento. Não adianta brigar nas redes sociais ou defender apaixonadamente um lado da história. Agora é o momento de usar a inteligência.

Todo político eleito deve ser acompanhado, questionado e avaliado por cada cidadão brasileiro. Os gestores em cargos públicos estão a serviço de toda a população brasileira. Ou seja, eles devem ser transparentes em relação às suas atitudes e prestar contas ao país. Os brasileiros não vão mais aceitar que políticos tomem conta da máquina pública em prol de seus interesses particulares. Afinal, não existe lado quando o assunto é o futuro do Brasil.

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Colaborador

Redação / Foto: Gettyimage