Está na hora de valorizar a pessoa idosa

Famílias precisam se preparar para cuidar de seus idosos. Envelhecimento saudável depende de preparo na juventude

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O número de brasileiros e brasileiras com mais de 60 anos superou a marca dos 30,2 milhões em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até 2031, a quantidade de idosos vai superar a de crianças e adolescentes de até 14 anos.

Se no passado o Brasil era uma nação de jovens, agora a realidade é outra. “O Brasil está passando por um processo de envelhecimento muito rápido, de cerca de 40 anos, bem diferente de países ricos da Europa, que demoraram 100 anos para envelhecer. O Brasil ainda tem renda média e vários problemas sociais que não foram resolvidos”, alerta o médico geriatra Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Segundo ele, serão necessárias políticas públicas para lidar com essas mudanças nos próximos anos.

Diante do novo cenário, Uehara assinala que é preciso entender a diferença entre envelhecimento e velhice. “O envelhecimento faz parte da vida, todos nós estamos envelhecendo desde que nascemos. Envelhecer é um processo contínuo e inexorável, que só cessa quando morremos. Já o conceito de velhice é uma construção social e varia conforme o tempo. A pessoa que tem 60 anos hoje não é o mesma de 30 anos atrás.”

Desrespeito
Apesar das transformações na sociedade brasileira, as pessoas idosas ainda sofrem com maus-tratos. Só em 2017, foram mais de 33 mil denúncias de abusos contra pessoas acima de 60 anos, segundo o Ministério dos Direitos Humanos. Para Uehara, o Brasil precisa mudar o modo de olhar a pessoa idosa. “Idade não é deficiência nem doença. Não é porque a pessoa é idosa que ela não tem vontades ou não pode fazer suas atividades. O idoso precisa ser respeitado.”

A médica geriatra Roberta França acredita que o desrespeito contra os idosos está relacionado à falta de entendimento sobre o envelhecimento. “Muitas pessoas não têm paciência e exigem que os idosos façam as atividades na velocidade que elas esperam. Entretanto, com o avanço da idade, o nosso ritmo diminui e é preciso respeitar isso”, diz ela, que é professora da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) e idealizadora do projeto Cantinho da Geriatria. “Precisamos ensinar as crianças a ouvir os avós e a entender que a vovó e o vovô vão repetir suas histórias muitas vezes. Essa é a história deles e ela deveser honrada.”

Família
A médica geriatra Aline Thomaz, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que as famílias devem fazer um planejamento para cuidar de seus idosos. Isso inclui decisões econômicas e divisão de tarefas. “Faz parte do planejamento etapas como estimular e investir na recuperação da saúde da pessoa idosa para retardar a chegada da etapa da alta dependência; realizar reuniões familiares para decidir entre os membros da família quem vai se responsabilizar pela organização do cuidado do idoso dependente ou frágil; e organizar o suporte financeiro fazendo planejamento de gastos com o cuidado, incluindo a contratação de serviços.”

Prepare-se
Com o aumento da expectativa de vida, todo cidadão brasileiro precisa começar a se preparar para envelhecer. Afinal, como vamos estar aos 60, 70, 80 anos? Segundo Aline Thomaz, o primeiro passo é a aceitação da passagem dos anos. “Nosso corpo se transforma ao longo do tempo e este processo precisa ser compreendido. Acumulamos mais gorduras e perdemos músculos, nossa pele reduz a elasticidade e nossos cabelos ficam brancos. É primordial aceitar a realidade e termos ações de prevenção.”

O envelhecimento aumenta a propensão ao desenvolvimento de doenças como hipertensão arterial, diabetes, câncer e osteorartroses em joelhos e quadris. Por isso, Aline sugere que a prevenção seja feita por meio de três pilares: prática regular de exercícios físicos, controle de estresse e alimentação balanceada e saudável, evitando produtos industrializados e o excesso de açúcar, gordura e conservantes.

A mudança de hábitos e as consultas regulares ao médico também são importantes, destaca Roberta França. “Ter qualidade de vida é uma escolha diária, um dia de cada vez. Ninguém fica diabético porque comeu um bombom depois do almoço, mas, se comer muito chocolate todo dia, isso é um problema. Tudo é questão de proporção e das escolhas que você faz.”

As mudanças do envelhecimento também são psicológicas e sociais. Assim, a pessoa idosa deve evitar o isolamento. “Há um horizonte de possibilidades depois dos 60 anos. A pessoa idosa pode buscar grupos de convivência, locais em que ela possa desenvolver atividades, fazer amigos e aprender novos saberes. Não pode ficar parado”, ensina o doutor Carlos André Uehara.

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: Fotolia e Cedida