Jogador russo é racista contra brasileiro: “não sei porque lhe deram um passaporte”

No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, esportistas sofrem com o preconceito

Imagem de capa - Jogador russo é racista contra brasileiro: “não sei porque lhe deram um passaporte”

A seleção de futebol da Rússia acaba de convocar o atacante brasileiro naturalizado russo Ari. Ele é um dos principais jogadores do país, tendo ganho os maiores títulos russos nos últimos anos e sendo um dos maiores artilheiros da região.

O seu bom desempenho profissional, porém, não o livrou do racismo de outro jogador russo, o atacante Pavel Pogrebnyak. Em entrevista a um jornal local, Pavel declarou:

“É ridículo que um jogador negro atue pela seleção russa. Tenho uma opinião negativa a respeito das naturalizações. Não vejo sentido. Por que deram um passaporte russo a Ari?”.

O caso ganhou repercussão internacional e rendeu críticas e elogios a Pavel. O dirigente da União de Futebol Russa Alexandr Baranov afirmou:

“As declarações são muito questionáveis e, claramente, não vão de encontro com os princípios da campanha mundial no futebol sobre um jogo igualitário. Não se pode definir o lugar de um jogador em uma seleção baseando-se na cor da sua pele.”

Já Ari, que atua no país há dez anos, apenas declarou a uma rede de TV local: “É triste pensar que nos dias de hoje ainda exista algo assim”.

Racismo em todos os campos

racismoInfelizmente, é impossível relatar todos os casos de racismos que atletas sofrem. Independentemente do bom desempenho em sua profissão, são alvos de ataques por todos os lados.

Há poucos dias, por exemplo, o atual melhor jogador de basquete da NBA (maior liga do esporte no mundo) Russel Westbrook foi agredido verbalmente diversas vezes por um torcedor.

“Um homem que estava com a mulher na arquibancada me disse: Ajoelhe como estão acostumados a fazer”, relatou o Westbrook após o jogo. “Isso é completamente desrespeitoso. Considero racismo. É inapropriado. Não há nenhuma proteção aos jogadores. Há torcedores que vêm de todos os lugares do mundo para assistir ao jogo. E existem os que vêm apenas para dizer coisas desrespeitosas, ofender minha família”.

Mais de 70% dos atletas profissionais de basquete nos Estados Unidos são negros. Mesmo assim, após o caso Westbrook, a maioria deles relatou que, em todas as cidades em que jogam, sofrem com o racismo.

Em 40 anos, pouco mudou

A data do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, comemorado no último 21 de março, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), é uma homenagem às vítimas do Massacre de Shaperville. Na ocasião, um grupo de 20 mil negros protestava pacificamente contra a “lei do passe”, na cidade de Johanesburgo, na África do Sul.

Essa lei obrigava os negros a andarem com identificações que limitavam os locais da cidade por onde poderiam circular.

Assim que o Governo ordenou a repressão, tropas militares feriram milhares de manifestantes e mataram 69 pessoas.

Quarenta anos depois, as maiores vítimas da repressão policial no mundo inteiro ainda são os negros. Somente no Brasil, por exemplo, das 5.896 pessoas mortas pela polícia em 2016, 3.240 eram negras. Apenas 963 mortes foram de pessoas brancas.

Já as vítimas de homicídio, em geral, são em maioria negros: 74,5%, de acordo com o Fórum de Segurança Pública.

O Atlas da Violência 2018 mostra que entre 2006 e 2016 o número de assassinatos contra brancos caiu 6,8%. Em contrapartida, o número de assassinatos contra negros subiu 23,1%.

Dessa forma, hoje, a cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras.

Racismo = atraso na sociedade

Com efeito, toda essa violência contra os negros também se reflete em menos oportunidade de estudo e emprego. Ademais, apesar de 53% da população do Brasil ser negra, essa parcela dos brasileiros é quem tem menos acesso à saúde, alimentação adequada, segurança e moradia. E isso atrapalha demais o país.

“O preconceito é um dos maiores obstáculos ao progresso de uma pessoa e de uma sociedade”, afirma o escritor Renato Cardoso, criador do Projeto IntelliMen, que auxilia os homens a se tornarem pessoas melhores.

De acordo com ele, “inteligência e preconceito não combinam. Onde a inteligência é fraca o preconceito é forte. Não me refiro à inteligência específica, mas geral. Alguém pode ser muito inteligente para a engenharia mas completamente preconceituoso (e estúpido) com respeito a pessoas de outro país, por exemplo”.

Saiba mais sobre o assunto clicando aqui.

imagem do author
Colaborador

Andre Batista / Imagens: divulgação Sputnik e Facebook @russellwestbrook