Pais, o que a tragédia em Suzano pode lhes ensinar?

Imagem de capa - Pais, o que a tragédia em Suzano pode lhes ensinar?

Na manhã de 13 de março, o País foi surpreendido pela notícia de uma tragédia na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, Grande São Paulo. Dois ex-alunos, de 17 e 25 anos, entraram no local efetuando disparos à queima-roupa contra os funcionários e os alunos. Dez pessoas morreram, incluindo os atiradores, e muitas ficaram feridas.

A atrocidade foi premeditada e terminou com um dos ex-alunos alvejando o colega mais velho e se suicidando em seguida. Indícios mostram que os dois tinham fascínio por games de tiros, armas de fogo, discursos de ódio e satanismo.

O massacre em Suzano guarda semelhanças com o cometido, em 1999, na Columbine High School, no Colorado, nos Estados Unidos. Dois alunos assassinaram 13 jovens e feriram outros usando diferentes armas e vestimentas, como máscaras e luvas.

Outros casos similares aconteceram no Brasil. Em 2011, um atirador abriu fogo contra alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro. O ataque também foi premeditado e deixou vários mortos e feridos.

Em 2017, um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros quatro em uma escola particular de Goiânia, Goiás. O menino disse que atirou porque sofria bullying e que se inspirou nos massacres anteriores.

Um conjunto de fatores pode ter levado os jovens a cometer os crimes. O cenário complexo impede a indicação de um único responsável. Mas, seja ele qual for, o desajuste familiar faz parte deles.

Em Suzano, o atirador mais novo, Guilherme, pertencia a uma família desestruturada. Desempregada há dois anos, a mãe, Tatiana, batalha há algum tempo contra a dependência química e passa boa parte do dia nas ruas. O adolescente, então, era criado pelos avós e morava com dois de seus três irmãos. A relação com o padrasto também não era boa.

À imprensa, a mãe relatou que Guilherme havia abandonado a escola no ano passado por sofrer bullying. Ela afirmou também que quase não conversavam e que ele preferia ficar em frente ao computador. Depois do crime, uma foto queimada dos pais de Guilherme foi encontrada ao lado de seu beliche. Após a tragédia, o avô culpava a ausência da mãe pelo acontecido.

Sobre o atirador mais velho, Luiz Henrique, pouco se sabe. Ele seguia ao lado do pai, com quem trabalhava, a caminho do emprego, na manhã do crime. Durante o percurso disse-lhe que voltaria para casa, pois não estava se sentindo bem. Na verdade, ele estava indo ao encontro de Guilherme, de quem era vizinho e amigo de infância. Diariamente, iam juntos às lan houses.

Independentemente da motivação do crime, diante desse cenário, a participação dos pais é extremamente importante para o desenvolvimento dos filhos e para que sejam fortalecidos neles os fatores que contribuem para as boas escolhas.

No entanto, por causa da vida atribulada, muitos pais têm dificuldade de se dedicar a eles. O tempo para realizar atividades em família, mesmo que seja pouco, se for bem utilizado, torna-se bem proveitoso.

É necessário conversar com os filhos, orientá-los em seus conflitos e conquistas, ouvi-los sobre seu dia a dia na escola, elogiá-los sobre um trabalho bem-feito, acompanhar suas amizades, ver o que acessam na internet – porque não adianta colocar a culpa nos games se os pais nem souberem o que os motiva a permanecer mais tempo no mundo virtual do que no real. O desamparo e a rejeição que sentem em casa podem ser transferidos para os locais que frequentam e gerar consequências drásticas, como a que vimos.

Na adolescência, é natural que os filhos se tornem mais “fechados”. Mas é necessário sempre tentar a aproximação. No final do dia, sentar para conversar à mesa de refeições pode ser uma oportunidade para estreitar laços, por exemplo.

Tudo o que é cultivado na infância e na adolescência dá frutos na fase adulta. Mas como isso será possível se as primeiras práticas não forem bem semeadas? Portanto, acompanhe a vida de seu filho e não transfira essa responsabilidade para terceiros. Eles são sua principal herança.

imagem do author
Colaborador

Redação / Foto: Fotolia