Quanto dinheiro é necessário para ser feliz?

Mas será mesmo que são as finanças que trazem a real felicidade? Entenda o poder destrutivo da ganância na sua vida

Imagem de capa - Quanto dinheiro é necessário para ser feliz?

Você já deve ter ouvido falar que o “deus” deste mundo é o dinheiro. Isso porque, por meio dele, é possível realizar conquistas materiais, adquirir plano de saúde, pagar boas escolas e universidades, morar em uma linda mansão, ter o carro do ano e por aí vai. Só que ao fazer desse pedaço de papel o centro de sua vida muitas pessoas se perdem e deixam para trás valores, princípios e, sobretudo, a fé.

O problema não é ser rico. A questão é que para conseguir chegar aonde quer há quem deixe a ambição virar ganância. E isso faz mal para quem passa a ser assim. “A ganância é um sentimento de desejo exagerado por tudo o que se quer possuir e que extrapola os limites da ética. É um pensamento extremamente individualista e egoísta de quem quer conquistar o que deseja custe o que custar”, explica Flávio Marini, estrategista de inteligência emocional positiva.

A ambição, que muitas vezes é interpretada de forma errada e negativa, é o desejo positivo de obter conquistas por meio do trabalho, da dedicação e, principalmente, da vontade de ser melhor, sem prejudicar ninguém.

Lurdinha Machado, coach especialista em liderança, RH e programação neurolinguística, observa que para alcançar objetivos é preciso ser uma pessoa ambiciosa. “A ambição faz com que o cansaço e a preguiça sejam ignorados. Ela traz autoconfiança, dá coragem, aumenta a autoestima e ensina algo a cada dificuldade enfrentada. A pessoa tem resiliência.”

Entretanto a especialista ressalta que é preciso ter equilíbrio. “A ambição exagerada pode se transformar nessa ganância que estamos falando. A ganância cega, faz com que o indivíduo perca seus valores e pise em outras pessoas. Ela faz até mesmo com que as leis de um país sejam ignoradas e causa a destruição da natureza.”

E ela se perpetua em todos os meios, seja na política, seja no esporte, no mundo corporativo, nas famílias. Só em 2019, por exemplo, podemos elencar vários casos que mostram atitudes gananciosas.

Você deve se lembrar do que aconteceu em Brumadinho, Minas Gerais. O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, foi uma tragédia anunciada, uma vez que já se tem de informação de que a Vale teria ocultado dados que apontavam falhas nas estruturas de segurança. Até o fechamento dessa reportagem, essa ganância pelo lucro matou 182 pessoas e deixou 122 desaparecidas, sem contar os animais e os danos à natureza.

No Ninho do Urubu, Centro de Treinamento (CT) do Flamengo, mais um erro. Mesmo depois de 31 multas, dez jovens morreram após um incêndio atingir o CT que nem sequer tinha certificado contra incêndio exigido pelos Bombeiros. Esse mesmo clube que pagou (e paga) uma fortuna para ter jogadores em seu elenco, recentemente ofereceu entre R$ 300 mil e R$ 400 mil (enquanto as autoridades haviam sugerido R$ 2 milhões) mais um salário mínimo mensal por dez anos às famílias das vítimas.

Prejudica quem for
“Esse foi o meu erro de postura, de apego ao dinheiro, ao poder. Isso é um vício.” Foi com essa frase que, depois de dois anos e três meses de prisão, Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, explicou o motivo de ter se envolvido em tantos esquemas de corrupção. Ele fez essa autocrítica no seu primeiro depoimento à 7ª Vara Federal Criminal em que admitiu seus crimes. Cabral também falou do envolvimento da Igreja Católica em esquema de propina com a Organização Social Pró-Saúde, que administra hospitais no Rio de Janeiro e em outros Estados.

Ele citou os nomes do cardeal-arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, e de outro padre, identificado como dom Paulo. As informações foram confirmadas também pelo ex-padre Wagner Augusto Portugal, braço direito de dom Orani Tempesta, após admitir que participava de esquema de corrupção na área da saúde. A pena do ex-governador em nove condenações chega a 198 anos e 6 meses.

Os especialistas consultados pela Folha Universal explicam que não existe só um motivo que leve à construção de um perfil ganancioso, mas pode-se observar que essas pessoas necessitam constantemente de autoafirmação, sempre atrelada a uma ostentação material e ao poder de influência.

Foi isso que aconteceu com o empresário Francisco Arquimedes dos Santos, de 35 anos (foto a esq.). Em busca de enriquecemento, ele não mediu esforços para enganar as pessoas. “Queria muito ser rico, seria até capaz de matar por isso. Estava rodeado de pessoas que queriam o mesmo e estavam dispostas a conseguir isso a qualquer custo. Lembro que falava mal dos outros em todos os trabalhos que passei para me sair bem com o chefe. Inventei muitas histórias. Cheguei até a ponto de roubar.”

Francisco até conseguiu algumas posições e bens, mas não se sentia realizado. “Era muito orgulhoso. Para mim, ser ganancioso era o único caminho para vencer. Eu não tinha estudado, não confiava nem em mim nem na minha capacidade. Só que, quando conquistava algo que desejava agindo dessa forma, não me sentia feliz. Isso só alimentava mais minha ganância.”

Com o passar do tempo, ele perdeu tudo que conquistou e decidiu repensar suas escolhas. “Fui descoberto por um roubo e meu mundo desabou. Após cumprir a pena, decidi conhecer o trabalho da Universal. Por meio das palestras, aprendi a me perdoar, depois pedi perdão a todos que havia prejudicado um dia.”

Segundo o empresário, o maior aprendizado que teve, desde então, foi que poderia ser bem-sucedido de outra forma. “Entendi que para conquistar algo não precisava prejudicar ninguém nem invejar as conquistas dos outros. A partir daí, lutei para vencer honestamente. Não foi fácil, mas posso dizer que todas as lutas valeram a pena porque fiz do jeito certo. Hoje tenho minha empresa na área de refrigeração e construção, sou casado, durmo em paz e com a consciência de que a ganância não faz mais parte de mim.”

Dinheiro, centro de tudo?
É importante ressaltar que a ganância não tem vínculo apenas com o dinheiro, mas com status e poder. A empresária Cristiane Shizue Tomita, de 45 anos (foto a dir.), por exemplo, cresceu em um lar próspero e diz que sua vida sempre foi dirigida pelo dinheiro e pela ânsia de ter status na sociedade. “Me formei em Economia no Brasil, fiz um MBA em tecnologia nos Estados Unidos, retornei ao Brasil e fui contratada por um dos maiores grupos privados do País. Tudo sempre girou em torno do que eu tinha, de onde trabalhava e do lugar em que morava. Meu objetivo era sempre ganhar dinheiro e ter boa posição. Eu sempre queria mais.”

Só que, apesar de ter muito conforto, o luxo não preenchia o vazio que ela tinha. “Nessa época eu me rendi ao brilho do mundo: muitas festas, muita bebida, muitos homens solteiros e casados e drogas. Mas eu tinha um vazio que era horrível, isso me dava insônia e, por isso, me viciei em medicações para dormir”, lembra.

Por causa do dinheiro, a família de Cristiane viveu muitos conflitos. “Brigávamos por conta da empresa da família. Em 2013, conheci meu ex-marido. Alguns anos depois, a empresa entrou em falência e sofri um aborto involuntário. Olhava para o lado e não via ninguém para me ajudar. Foi desesperador”, acrescenta.

Uma funcionária de sua empresa a convidou para assistir a uma palestra que a ajudaria a vencer aquela situação difícil. “Não sabia nada sobre Deus e decidi ir por curiosidade. Esse fato despertou em mim a necessidade de mudar. Lembro que no primeiro dia entendi que só pensar em ter status não traz felicidade e corrompe o homem”, observa.

Desde então, a prioridade de Cristiane mudou totalmente. “Hoje não machuco mais as pessoas por conta da ganância e o dinheiro não dita mais minha vida. Não sirvo mais às minhas finanças, elas que me servem. A entrega total a Deus é que me dá a garantia da vitória.”

Barganha da fé
Dentro das igrejas há muitas pessoas que não entendem por que não prosperam nem avançam. A resposta é: elas insistem em barganhar com Deus. A empreendedora Sueli Benvenuto, de 35 anos  (foto acima), conta que agia assim.

Ela começou a frequentar a igreja com a mãe quando tinha apenas 8 anos e achava que o dinheiro lhe traria felicidade. Os anos passaram e ela buscava sua prosperidade por meio de sua fé. “Na minha cabeça, o fato de eu ir à igreja era um combustível para vencer. Na verdade eu ia lá só por isso. Queria conquistar minhas bênçãos materiais e não estava buscando um relacionamento com Deus. Não percebia que estava fazendo isso, mas era o que acontecia.”

Ela ia para o culto e quando saía tinha uma vida completamente diferente do que era ensinado. “Vivia em baladas. Até que um dia me vi sozinha, sem dinheiro, sem forças e, o pior, sem Deus. Ia à igreja, mas não era uma cristã de verdade.”

Foi nesse momento que ela se lembrou das palavras do pastor: “ele dizia que não temos que frequentar uma igreja apenas pensando em ter recompensas, mas que temos que buscar Deus em primeiro lugar para que todas as coisas sejam acrescentadas. Foi o que decidi fazer.”

Desde que priorizou sua espiritualidade, tudo mudou. “Em 2010 abri minha primeira empresa de tradução. Além disso, há menos de dois anos lancei uma marca de moda praia e fitness. Hoje, minha prioridade é sempre buscar o Altíssimo em primeiro lugar. Tudo que sou e tenho devo a Deus.”

Bênçãos antes de Deus
Infelizmente, muitas pessoas se perdem na fé quando o assunto é dinheiro. São muitos que buscam primeiro conquistas financeiras para depois pensar no relacionamento com Deus.

A empresária Jane Moraes, de 60 anos (foto a esq.), é um exemplo disso. Ela tinha uma vida ativa dentro da igreja. Depois de vencer três tumores e uma depressão, se dizia muito grata a Deus. Mas essa gratidão teve fim quando ela enriqueceu. “Por meio da fé recebi a direção de abrir minha empresa. Passei a lucrar muito e tudo isso fez com que eu diminuísse a frequência que ia às palestras.”

As pessoas com as quais convivia a chamavam de fanática e aquilo entrou em seu coração. “Passei a pensar nisso e dei toda honra e glória a mim mesma pelas conquistas. Parei de dizimar, de ofertar e, aos poucos, deixei de ir à igreja. Deus se tornou só uma lembrança.”

Não demorou muito para que ela visse a consequência de sua atitude gananciosa. “Perdi tudo que conquistei! Adquiri dívidas de mais de R$ 1 milhão. Isso sem falar que meus filhos abandonaram a fé e se envolveram com drogas e prostituição.”

Punição? Não. Ela conta que o que viveu foi com a permissão de Deus para que ela entendesse que sem Ele não conseguiria nada. “A ganância pelo dinheiro me cegou. Mas, no fundo do poço, com síndrome do pânico, medo de ser morta pelos agiotas, morando de favor e sem ter o que comer, me lembrei de quando havia buscado na fé ajuda para vencer o câncer e a depressão que tive.”

A empresária decidiu deixar de lado o orgulho. “Pedi perdão a Deus e mais uma chance. Ele viu minha sinceridade e consegui recomeçar. Primeiro, recebi o batismo com o Espírito Santo e, aos poucos, retomei minha vida de forma diferente. Voltei a trabalhar e consegui abrir uma nova empresa. Hoje já tenho cinco filiais. O que aprendi de mais importante com tudo isso é que não devemos nunca colocar o dinheiro acima dEle.”

O fim da ganância
Quando Jesus disse ao jovem rico que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mateus 19.24), Ele não quis dizer que pessoas prósperas não têm direito à Salvação. São as gananciosas que entram nessa lista. Porque, para elas, o dinheiro, o poder e o status são as coisas mais importantes
do mundo.

É preciso rever comportamentos e, se você identificar atitudes gananciosas em sua conduta, não hesite em buscar ajuda para mudar. Lembre do que está descrito em Provérbios 16.18: “A soberba precede à ruína; e o orgulho, à queda”. O dinheiro pode proporcionar momentos prazerosos, mas a real felicidade vem, e sempre virá, do Alto.

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Colaborador

Ana Carolina Cury / Fotos: Fotolia e Demetrio Koch