Seja celibatário ou largue o sacerdócio

Afirmação do papa Francisco já deveria ser regra para quem escolhe usar a batina. Será que agora vai funcionar?

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Não é de hoje que escândalos sexuais envolvendo a Igreja Católica vêm à tona. Nos últimos anos, uma série deles ganhou destaque na mídia depois de denúncias e de investigações jornalísticas. Ainda assim, o problema de abusos e pedofilia envolvendo a instituição permanece sem solução. Apesar da sociedade cobrar um posicionamento mais forte em relação às várias denúncias feitas e à punição dos responsáveis, o Vaticano não demonstrava uma
reação mais dura em relação a esses acontecimentos.
Mas as cobranças ligadas ao assunto continuaram. Em 2015, o filme Spotlight abordou o tema. Ele foi baseado em casos reais que ocorreram em Boston, nos Estados Unidos, mas que ficaram conhecidos somente em 2002 depois de reportagens investigativas realizadas pelo jornal Boston Globe. O filme tornou-se mais uma forma de cobrar da Igreja Católica uma postura mais firme em relação a fatos que foram abafados durante muitos anos na instituição.
No início de dezembro, o papa Francisco, líder da Igreja Católica, deu sinais de que tenta lidar com o assunto. Ele deu declarações a um livro do padre espanhol Fernando Prado, lançado no início deste mês, e mostrou inquietação com o fato de alguns sacerdotes serem homossexuais. “É algo que me preocupa”, disse.
O livro discute os desafios de ser padre ou freira nos dias atuais. “Homens com tendências homossexuais profundamente arraigadas não deveriam ser admitidos no clero católico e seria melhor para os padres ativamente gays abandonarem o sacerdócio, em vez de levar uma vida dupla”, afirmou o papa na publicação.
Embora ele tenha se posicionado anteriormente quanto à necessidade de fazer uma triagem melhor de candidatos para a vida religiosa, o comentário no livro em que sugere que padres que não podem manter seus votos de celibato devem deixar o sacerdócio é um dos mais fortes em relação a esse assunto até o presente momento. “Os responsáveis pela formação de homens para serem padres devem ter certeza de que os candidatos são ‘humanos e emocionalmente maduros’ antes de serem ordenados.”
As declarações dele tentam sensibilizar ou provocar algum tipo de conscientização para quem avalia aqueles que entram na vida celibatária e dos que querem realmente escolher a vida religiosa. O esforço, ainda que lento da Igreja Católica em lidar com o problema de abusos e pedofilia, parece demonstrar que o assunto encontra muita resistência dentro da própria instituição para ser resolvido, mas o que foi dito pelo papa deixa claro que não pode haver compatibilidade entre o sacerdócio e uma vida ligada ao sexo. Disso surge uma pergunta: até que ponto as afirmações do pontífice podem ajudar a combater os abusos sexuais na instituição? Parece que a única certeza que se tem, por enquanto, é que ainda teremos de aguardar uma solução para essa questão.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: Vicenzo Pinto