Qual será o futuro da saúde pública?

Falta de leitos, distribuição desigual de verbas e concentração dos serviços em poucas cidades são desafios que precisam ser superados pela área da saúde nos próximos anos

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Em dez anos, o Brasil perdeu 23.091 leitos hospitalares na rede pública. Isso representa seis camas a menos por dia, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A redução atingiu principalmente a pediatria e a obstetrícia. As vagas para crianças caíram 26% em uma década, enquanto a capacidade para obstetrícia diminuiu 16,87%. Mas o que isso significa?
Faltam vagas
Segundo o presidente da CNM, Glademir Aroldi, o número de leitos é insuficiente. “Os leitos públicos reduziram drasticamente, passaram de 460.656 para 437.565 na última década. Hoje, nenhuma região atinge a quantidade recomendada pelo Ministério da Saúde”, disse, em nota no site da instituição.
A taxa de leitos está abaixo do ideal: atualmente ela é de 2,1 leitos por mil habitantes, mas esse número deveria estar em 3 leitos por mil habitantes, segundo a média mundial apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A região Norte é a que está mais distante desse número, com apenas 1,7 leito por mil habitantes; a Nordeste e a Sudeste têm 2 leitos por mil habitantes; a Sul disponibiliza 2,4 leitos e a Centro-Oeste, 2,3 leitos por mil habitantes. Enquanto os leitos da rede pública apresentam redução, os da rede privada aumentaram 18,3 mil unidades.
O estudo mostrou ainda que as verbas e os estabelecimentos de saúde estão concentrados nas grandes capitais do País. Em 2015, as 26 capitais brasileiras e o Distrito Federal receberam 47% dos recursos destinados pelo Ministério da Saúde, enquanto os outros 5.543 municípios receberam, juntos, 53% da verba. A concentração de profissionais da área da saúde nas capitais também foi confirmada. De acordo com o Ministério da Saúde, a redução no número de leitos não afetou a oferta assistencial; o número de internações foi de 11,1 milhões em 2008 e de 11,6 milhões em 2017.
UTI
Outro desafio para a saúde é a falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Menos de 10% das cidades brasileiras possuem leito de UTI, segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ou seja, apenas 532 dos 5.570 municípios do País possuem leitos de UTI em estabelecimentos públicos, conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), ou particulares. O resultado é superlotação e fila de pacientes à espera de infraestrutura apropriada.

Hoje o Brasil possui quase 45 mil leitos de UTI, mas apenas 49% estão disponíveis para o SUS. A outra parte está disponível apenas para a saúde privada ou suplementar (planos de saúde), segundo informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
De acordo com o primeiro secretário e coordenador da Câmara Técnica de Medicina Intensiva do CFM, Hermann von Tiesenhausen, os gestores públicos precisam se preparar para acompanhar as mudanças epidemiológicas e as necessidades da população. “Só as internações pelas chamadas causas externas – acidentes e violências – aumentaram cerca de 25% nos últimos oito anos, sendo que os acidentes de trânsito aumentaram 30% neste mesmo período”, destacou em nota do CFM. Ele acrescentou que a complexidade relacionada ao tratamento intensivo também requer planejamento, investimento e capacitação de equipes.
A saúde pública é a principal preocupação dos brasileiros, conforme levantamento feito pelo Instituto Datafolha. Nos próximos anos, o tema será um dos grandes desafios para os governos municipais, estaduais e federal. Além do aumento de doenças crônicas, como diabetes e câncer, o País também precisa enfrentar as doenças infecciosas, como zika e dengue, e casos de violência armada e no trânsito. Nesse sentido, não existe solução simples. À população cabe fiscalizar, acompanhar as decisões dos representantes e exigir melhorias no sistema público. Afinal, a saúde é um direito de todos.

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: FolhaPress