Não jogue seu voto no lixo

O exercício da cidadania começa no voto, mas não termina aí. Depois de ir às urnas, brasileiros precisam acompanhar o trabalho dos políticos eleitos e cobrar ações

Imagem de capa - Não jogue seu voto no lixo

Foi muito difícil escolher os candidatos. O mais importante é combater a corrupção, que eu acho que é o ponto mais negativo do Brasil, além de aprovar as reformas. Eu não acompanho a política diariamente, mas procuro me informar. Para as eleições deste ano, escolhi candidatos que nunca foram eleitos.
Tatiana Delgado, de
42 anos, bancária

Após discussões acaloradas na internet e nas ruas, finalmente hoje, 7 de outubro, chegou o dia de cada eleitor validar a sua opinião nas urnas. Parece pouco, mas é uma grande conquista. Afinal, é por meio do voto que escolhemos nossos representantes. Nas eleições, não importa a renda, a escolaridade, a faixa etária ou a cor da pele: cada cidadão tem o mesmo direito na hora de decidir o futuro do Brasil. Isso porque todo voto tem peso igual, nenhum vale mais do que outro.
O voto é um direito e uma responsabilidade. Por isso, o eleitor precisa avaliar com cuidado cada proposta. Não adianta votar na base da emoção. Dar o voto a alguém que não representa os seus valores pode significar pelo menos quatro anos de dor de cabeça. Vale lembrar que os políticos eleitos vão decidir quanto a temas que afetam você e toda a sua família, como saúde, educação, emprego, segurança, entre tantos outros.
Mas dá para confiar?
Nos últimos anos, muitas pessoas ficaram desiludidas com a política por causa dos escândalos de corrupção e da crise econômica. Algumas até desistiram de votar. Outras dizem que todo político é igual. A pesquisa A Cara da Democracia no Brasil mostra que só 19% dos brasileiros estão satisfeitos com a democracia. Além disso, 77,8% dos entrevistados afirmaram não ter “nenhuma confiança” nos partidos políticos. O estudo foi feito em março pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação.
Em política, nós não podemos olhar só para o nosso umbigo. Eu busquei candidatos que têm propostas que vão ao encontro do que o Brasil precisa. Eu tenho a ética como princípio e acho que a ética começa nas nossas atitudes do dia a dia. O povo está cansado de políticos que fazem conchavos. E nós temos que ter muito cuidado para preservar a democracia, pois quando há crise na classe trabalhadora e na classe média, o cenário pode se tornar palco para ditador.
Sonia Bonfliglioli, de 57 anos, designer, bailarina e pintora

Apesar dos problemas, não dá para abandonar a política. Pelo contrário! Em época de crise, é preciso unir forças, pois cada voto faz a diferença.
Não adianta fugir. Até quem não gosta de política sofre as consequências das atitudes tomadas pelos representantes eleitos. Quem explica é Rosangela Torrezan Giembinsky, diretora-presidente do Movimento Voto Consciente. “Para o Brasil sair de onde está, cada cidadão precisa fazer mais, votar mais, participar mais, pesquisar mais sobre os candidatos. Se estamos desiludidos, devemos fazer a nossa parte para mudar a situação atual”, diz.
Segundo ela, a política não se limita à época das eleições. “Depois de votar, precisamos acompanhar o trabalho dos eleitos e saber se eles estão cumprindo
as propostas.”
A insatisfação com a política também abriu espaço para a divisão da sociedade em dois extremos, que trocam acusações e ofensas. Nesse cenário hostil, muitos candidatos e eleitores deixaram de lado o que mais importa: a discussão de propostas para solucionar os problemas do País.
O cientista político e sociólogo Antônio Testa explica que a democracia depende da participação de toda a sociedade. “Cada vez mais temos que melhorar a gestão da educação e trabalhar em torno do projeto de nação que queremos ser em 2050. É possível construir um País com oportunidades futuras, meio ambiente preservado, acesso a combustível, moradia e saúde”, opina.
“Entrevista de emprego”
A professora de língua portuguesa Neide Dias Fernandes, de 43 anos (foto abaixo), conhece bem o valor de seu voto. “As decisões políticas mexem com a nossa vida diária. Por isso, gosto de acompanhar a política e acho importante saber as propostas de cada candidato. Procuro políticos ficha limpa e com capacidade de gestão, não adianta só ser honesto”, afirma.

Ela compara as eleições a um processo seletivo. “Eu costumo dizer o seguinte: nós, eleitores, somos os patrões dos políticos. Assim, as eleições funcionam como uma entrevista de emprego em que os candidatos precisam demonstrar conhecimento e boas propostas”, explica.
Neide revela que ficou mais atenta à política nos últimos anos, após os escândalos de corrupção e os problemas econômicos. “Hoje fala-se muito em política, os alunos também estão mais interessados, eles gostam de discutir o tema. Como educadora, preciso estar bem informada sobre o que acontece no País”, afirma.

De olho no voto
O bombeiro civil e graduando em enfermagem Roger Barbosa, de 27 anos (foto a dir.), gosta de acompanhar de perto o trabalho dos políticos eleitos. “Eu lembro em quem votei para prefeito, vereador, deputados federal e estadual, senador, governador e presidente. Acompanhar a política é uma obrigação de todo cidadão. Precisamos estar cientes do que os nossos representantes estão fazendo”, diz.
Pelo menos uma vez ao ano, Roger conta que faz visitas à Assembleia Legislativa de São Paulo, local onde atuam os deputados estaduais, e à Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo. “Vou atrás dos políticos, procuro a assessoria deles e peço informações. Nós, como cidadãos, temos esse direito.”
Nas eleições 2018, ele explica que tem buscado várias fontes de informação para saber tudo sobre os candidatos. “Acompanhei os debates, vi o histórico de cada candidato, analisei as propostas. Estou me empenhando para ficar bem informado. Se fizermos más escolhas, todos vamos pagar a conta”, opina.

Legislativo importa
O jornalista Peterson Rocha, de 25 anos (foto a esq.), diz que não se preocupa apenas com os candidatos à Presidência da República. Para ele, é fundamental conhecer o trabalho do Poder Legislativo. “As pessoas discutem sobre presidentes e governadores, mas as leis passam pelo Legislativo. Também precisamos entender o papel do deputado federal, do deputado estadual e dos senadores, pois o presidente precisa de apoio no Congresso”, esclarece.
Segundo ele, é preciso ter muito cuidado para não cair em notícias falsas (fake news) ou sofrer a influência de outras pessoas durante as eleições. “Hoje existem muitas fake news, então nós temos que tomar cuidado para avaliar o que é certo e o que é errado. Eu sigo várias fontes de informação e acompanho os debates ao vivo”, detalha.
Para escolher seus candidatos, Peterson diz que se baseou em seus princípios. “Observei se os candidatos tinham os mesmos valores que os meus. Também vi a ficha deles, pesquisei o histórico, a experiência e o que já tinham feito”, conta.

Consciência
A vigilante Elisabete de Souza, de 40 anos (foto a dir.), confessa que há alguns anos não se interessava por política. Entretanto, as notícias sobre a situação do Brasil a levaram a mudar de ideia. “Percebi que o meu voto tem valor e que eu não posso deixar de votar. Aprendi a votar com consciência. Hoje escolho meus candidatos com calma”, diz.
Para decidir seu voto nas eleições deste ano, ela pontua que analisou o histórico e as propostas de vários políticos. “Busquei candidatos sem histórico de corrupção. Também avaliei o caráter, a experiência, as propostas e escolhi candidatos preocupados com a família e com a educação das crianças”, revela.
Nas eleições, o principal é olhar as propostas dos candidatos, o que eles estão pretendendo fazer com o País, porque nós sabemos que tem muito para ser feito. Acho que o primordial seria eleger alguém que dê andamento às reformas para o País voltar a ter um certo crescimento. Também priorizo candidatos que não tenham nome sujo na praça.
Nilda Silva, de 41 anos, profissional do mercado financeiro

Entre as expectativas de Elisabete para os próximos anos estão a melhora na economia e a geração de empregos. “Temos muitas pessoas desempregadas. Espero que tenhamos mais emprego e oportunidades para jovens de periferia e mais cursos. Quando há oportunidades de emprego e cursos, o jovem pode sonhar com o futuro e isso vai ajudar o Brasil a ficar melhor para todos”, conclui.
Segundo turno
Nas eleições para presidente da República e governador, pode ocorrer segundo turno se nenhum candidato alcançar a maioria absoluta dos votos válidos, ou seja, 50% dos votos mais 1. Até o fechamento desta reportagem, o resultado do pleito ainda não havia sido apurado. Entretanto, as pesquisas indicavam que havia grande possibilidade de ocorrer segundo turno na disputa para a Presidência da República e para o governo de alguns Estados brasileiros. Neste ano, o segundo turno está marcado para o dia 28 de outubro.
Rosangela Torrezan Giembinsky alerta que o segundo turno é uma etapa muito importante das eleições. “Nessa fase, o eleitor terá que fazer uma análise de acordo com os candidatos que foram escolhidos pela maioria e talvez o candidato que ele escolheu no primeiro turno não esteja lá. Apesar disso, não tem como saltar do barco e remar sozinho, pois quem for eleito irá tomar decisões para todo o País ou para todo o Estado, no caso dos governadores”, diz.
Ela afirma que o eleitor deve deixar de lado as emoções na hora de avaliar as propostas. “Se votar por amor ou ódio, todo o País pode afundar. A postura de ódio não faz sentido na política. Nós precisamos debater os problemas públicos e as soluções sugeridas, avaliar os prós e contras de cada uma delas”, finaliza.
Para Antônio Testa, o segundo turno é a etapa em que os eleitores podem conhecer mais detalhadamente os projetos de cada candidato. “No segundo turno são dois finalistas com o mesmo tempo de rádio e televisão. Então, eles terão que discutir mais as suas propostas e opiniões. Fica mais fácil para a população acompanhar o que cada um pensa”, avalia.

* Colaborou Katherine Rivas

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Colaborador

Re Campbell / Fotos: Demetrio Koch, Mídia FJU/ Sorocaba e ELZA FIÚZA/AGÊNCIA BRASIL