Atendimento precário mata mais do que falta de acesso

Pesquisa realizada em 137 países aponta ainda que 153 mil pessoas morrem por baixa qualidade da saúde no Brasil

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Sempre que falamos em saúde temos a impressão de que a falta de acesso ao atendimento é a principal causa de mortes. Contudo um estudo recente, publicado pelo jornal científico The Lancet, no Reino Unido, parece contrapor essa ideia. A pesquisa feita em 137 países de baixa e média renda apontou que o atendimento precário mata mais do que essa carência. De acordo com o levantamento, estima-se que 5 milhões de mortes por ano sejam resultado de atendimento médico precário. O estudo, que foi conduzido pela Comissão de Saúde Global de Alta Qualidade, ainda mostra que o número ultrapassa as mortes por falta de acesso aos sistemas de saúde, estimado em 3,6 milhões de pessoas.
Baixa qualidade
O levantamento também revela que o atendimento de baixa qualidade é mais comum entre portadores de HIV/Aids, pessoas com problemas de saúde mental e transtornos de abuso de substâncias, entre outros grupos vulneráveis, como prisioneiros, refugiados e migrantes.
A baixa qualidade é um grande fator de mortalidade para os serviços de saúde em todas as condições nos países periféricos, incluindo 84% das mortes por doenças cardiovasculares, 81% das doenças evitáveis por vacinação, 61% das condições neonatais e metade das lesões maternas, acidentes em estrada, tuberculose, HIV e outras mortes por doenças infecciosas.

Impacto profundo
Para a presidente da Comissão, doutora Margaret Kruk (foto a esq.), da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, não é de surpreender que apenas um quarto das pessoas em países de baixa e média renda acredite que os sistemas de saúde de suas localidades funcionam bem. “O impacto de cuidados de má qualidade vai muito além da mortalidade, mas pode levar a sofrimento desnecessário, sintomas persistentes, perda de função e falta de confiança no sistema de saúde. Outros efeitos colaterais são recursos desperdiçados e gastos catastróficos com a saúde”, afirma.
Falhas no sistema
Em mais de 81 mil consultas em 18 países foi detectado que, em média, mães e crianças recebem menos da metade das ações clínicas recomendadas em atendimentos típicos. Há falhas ao monitorar a pressão arterial durante o trabalho de parto e no check-up pós-
parto, por exemplo. Além disso, cerca de 34% das pessoas relataram experiências ruins, citando falta de respeito, longo tempo de espera e consultas curtas. Trata-se de um panorama que lembra muito nosso país. E, por falar em Brasil, o mesmo estudo apontou que aqui cerca de 153 mil pessoas morrem por ano em razão da baixa qualidade e mau atendimento médico.
Ideia de futuro
Mesmo diante disso, precisamos falar em perspectivas da saúde para o futuro. Sem saúde, a própria ideia de futuro parece se dissipar. Já com boa saúde, as pessoas podem se manter, criar seus filhos e prosseguir na busca de seus objetivos. Então, é hora de mudar. Embora haja um entendimento de que a mudança não ocorre de uma hora para outra, é preciso aproveitar as eleições como uma oportunidade para que o primeiro passo em relação a isso seja dado. É primordial escolher candidatos que tenham planos de governo com propostas verdadeiras que possam modificar essa precária situação e cobrar dos representantes eleitos que essas mudanças sejam realmente realizadas. Quem ganha com isso é todo o povo brasileiro.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Fotos: Reprodução, Adriano Vizoni/FOLHAPRESS e Jarbas Oliveira/FOLHAPRESS