Está com o nome sujo e não consegue sair deste ciclo?

Entenda como o Brasil pode eliminar esse problema, que afeta 63,4 milhões de cidadãos

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Um estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelou que o número de inadimplentes no País aumentou 4,31% nos últimos meses. Atualmente, são 63,4 milhões de pessoas com o nome sujo, sendo que 51% têm entre 30 e 49 anos e 46% entre 25 e 29 anos. Elas justificam que estão com débitos porque não têm renda suficiente, estão desempregadas ou por causa dos altos juros para quitá-las.
Para Cintia Senna, educadora financeira do DSOP, o aumento da inadimplência nos últimos quatro anos não é decorrente apenas da crise e do desemprego, mas da falta de preparo da população para encarar esses cenários. “As pessoas não têm hábito de fazer uma reserva e com a mudança de conjuntura e o uso descontrolado do crédito fazem dívidas e comprometem 100% do salário”, explica.
As dívidas mais comuns são o cartão de crédito, o cheque especial, os financiamentos e empréstimos. Cintia diz que outro aspecto é que as pessoas não sabem utilizar o crédito corretamente e adquirem bens sem planejamento e fazem empréstimos para pagar as dívidas que contraíram. “Há falta de informação quanto ao uso desse recurso. A maioria dos brasileiros aprendeu a ganhar, mas não a gastar”, alerta.
Cenário
Para Filipe Pires, professor de economia e finanças do Ibmec-RJ, o aumento da inadimplência é fruto dos juros elevados, da concentração bancária e da falta de educação financeira. “O Brasil tem os juros mais altos do mundo. Houve aumento de bancarização das famílias de baixa renda e elas têm crédito disponível na conta bancária, mas não conhecem educação financeira, que não é ensinada nas escolas, como acontece na Alemanha e Colômbia”, destaca.
No Brasil, a média anual do juro rotativo do cartão de crédito (quando se paga a fatura mínima) é de 231%, enquanto na Argentina, segunda colocada no ranking mundial, a média é de 53,2%. Por esse motivo as dívidas podem se tornar impagáveis. “Para quem não paga a fatura, os juros chegam a 400% ao ano. Não existe nenhum investimento no Brasil que pague isso ao consumidor”, diz Pires.
Já a concentração bancária prejudica o consumidor porque deixa o crédito nas mãos de poucas instituições e com juros elevados. “A concentração no Brasil é grande. Antes tínhamos várias ofertantes de crédito e hoje temos cinco bancos gigantes. Precisamos de mais empresas que ofereçam crédito barato e fintechs (bancos digitais)”, analisa.
Para Pires, é possível que o novo governo quebre o ciclo de inadimplência, mas ele precisará revisar de forma rígida as práticas abusivas dos bancos e reduzir a taxa de juros.
Ele ainda reforça que é obrigação do governo instruir os cidadãos e garantir educação financeira nas escolas. “Nem as pessoas com graduação sabem fazer o cálculo de um juro composto e desconhecem economia. A população precisa entender de finanças porque somos o lado vulnerável”, explica.
Na opinião de Pires, é importante que os brasileiros entendam seu papel no sistema financeiro nacional e deixem de ser tomadores de crédito para se tornar investidores, além de aprenderem a planejar sempre cada compra. “O nosso problema é que somos imediatistas e o mercado enxergou isso e aproveitou para oferecer o parcelamento. Com isso, se um produto custa R$ 500 à vista, preferimos pagar R$ 1,5 mil em parcelas”, exemplifica.
Cintia conclui que, mesmo com ajuda do governo, eliminar a inadimplência depende de um processo maior e não só de instrumentos políticos porque essa questão é comportamental, além de econômica.
Confira na ilustração algumas dicas da educadora financeira para se organizar e acabar com as dívidas.

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Colaborador

Katherine Rivas / Foto: Fotolia / Ilustração: Eder Santos