Como recuperar a confiança perdida?

Mais do que vontade, é necessário também agir de forma coerente para merecer ser confiável de novo, além de saber onde buscar a força para isso

Imagem de capa - Como recuperar a confiança perdida?

É comum dizerem que leva-se anos para ganhar a confiança de alguém e apenas alguns segundos para perdê-la. No entanto, tanto quem deixou de ser confiável quanto quem não crê mais no outro podem, sim, recuperar totalmente a confiança, desde que busquem a força necessária para isso no lugar certo.
Mas e se essa confiança for quebrada? Como recuperá-la e fazer com que a pessoa atingida por uma falha nossa volte a confiar? Entra em cena o arrependimento, que é o primeiro passo. E se ele não for um arrependimento nas bases do que Deus nos ensina – e não aquele “só por obrigação”, como algumas crenças pagãs pregam – de nada adiantará.
Se houver sinceridade, a possibilidade do quadro mudar é infinitamente maior. Até a ciência comprova isso, como será mostrado a seguir.
Sincero com atitude
Três cientistas da Universidade da Pensilvânia (a Penn, como é apelidada), nos Estados Unidos, analisaram a dinâmica da confiança, sua quebra e recuperação. Eric Bradlow, John Hershey e Maurice Schweitzer levaram em conta a premissa de que a confiança quebrada não pode ser completamente recuperada, como popularmente se acredita, mas se convenceram do contrário. “A ideia era a de que confiança é como o vidro, mas isso não é verdade”, revelou Schweitzer.
Mas são necessárias algumas atitudes. “Concluímos que uma promessa de mudar de comportamento pode acelerar significativamente o começo da recuperação da confiança, mas somente se for seguida por uma consistente série de ações confiáveis”, constataram os pesquisadores.
Exemplos práticos
Três histórias mais próximas do leitor da Folha Universal comprovam os estudos do pessoal da Penn – todas com a dinâmica do arrependimento sincero seguido por atitudes coerentes:
Da desconfiança veio a quebra
Com Zuleida Dalaio, de 53 anos (foto abaixo), de Vacaria, no Rio Grande do Sul, o caminho da quebra de confiança foi inverso ao tradicional: de tanto ela ter medo de ser traída e desconfiar da infidelidade do marido, Aurélio, de 55 anos (foto abaixo.), o que ela temia acabou mesmo acontecendo.

“Comecei a duvidar da fidelidade de Aurélio. Eu era muito, mas muito ciumenta mesmo, e isso gerava brigas demais, até que as traições se tornaram reais”, conta Zuleida. Depois de ter certeza da traição, ela perdeu cerca de 15 quilos e não conseguia mais trabalhar. Saiu de seu emprego de contadora e passou a investigar o marido, funcionário de uma empresa agrícola especializada em maçãs, em tempo integral.
Ela achava que sua conduta era correta, até que se revoltou. “Eu questionava Deus: ‘então eu faço tudo certo e o Senhor me deixa assim?’” E ela não parou por aí, como descreve: “peguei uma Bíblia e simplesmente joguei em cima da mesa, brava. Mas ela se abriu e um trecho me chamou a atenção: ‘Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por Mim’”. (João 14.6).
Zuleida começou a ouvir os programas da Universal pelo rádio, desenvolveu um interesse em conhecer mais e contou ao marido. Depois de cinco meses, ambos passaram em frente a uma Universal. Eles ouviram atentamente o pastor, que dizia: “se você entendeu tudo o que falei, venha aqui na frente e entregue sua vida ao Senhor Jesus”. Zuleida pensou no marido e fechou os olhos fortemente. Ao abri-los, ela relata o que viu: “Aurélio era o primeiro em frente ao Altar, ele havia entendido”, diz, sem esconder o sorriso.
Ainda aconteceram lutas, dificuldades, tristezas e apreensão. Mas dessa vez também havia fé. Como Aurélio conseguiu forças para agir de forma que sua esposa cresse nele novamente? Ele questionou suas antigas atitudes.
“Quem está ‘no mundão’ deixa que os desejos carnais prevaleçam, mas, quando entra no caminho com o Senhor Jesus, enxerga melhor e uma revolta muito grande contra o que é errado surge dentro de você aliado ao desejo de buscar o que é certo.”
Aurélio acrescenta: “entendi no Altar que, se quisesse minha vida e minha esposa olhando para mim sem desconfianças, tinha que arregaçar as mangas e buscar, mas com fé, com Deus à frente. É orar, se arrepender, ter fé e ir à luta”. Zuleida emenda: “e aqui estamos, com 29 anos de casados”. A felicidade, tranquilidade e cumplicidade estão bem claros em seu semblante.

Não confiavam nele, mas ele confiou em Deus
Adaísio Campelo, de 41 anos (foto a esq.), era o caçula de uma família de quatro filhos que morava em um barraco improvisado no sertão da Bahia. Muita necessidade e brigas constantes eram a realidade de uma casa onde o pai era ausente e vivia traindo a mãe.
O garoto decidiu tentar a sorte em uma cidade maior, mas com uma bagagem que só o atrapalhou: “minha mãe me dizia sempre que eu não venceria na vida e a cidade grande era só para quem tinha estudo”. Ele nem sabia ler. Foi ensinado desde cedo que não podia confiar em sua capacidade e que as conquistas não eram para ele.
Na Terra da Garoa, invadiu um terreno e construiu um barraco bem precário, com instalação elétrica clandestina e água imunda, à beira de uma grande represa. Quando procurava emprego, era humilhado. Em uma entrevista, o recrutador, espantado por ele não saber ler, rasgou na sua frente sua ficha e a jogou no lixo e ainda lhe disse que sua empresa não era “lugar de analfabeto”. “Naquela hora as palavras de minha mãe voltaram fortes.” A saída que encontrou foi trabalhar de camelô.
Após seis anos naquela luta, exausto, entrou numa Universal durante uma reunião. Só queria descansar. “Nunca tinha entrado numa igreja. O pastor falou: ‘você pode até não acreditar em si mesmo, mas nós acreditamos’. Pela primeira vez escutei que alguém acreditava em mim!”
Muitos passam a não sentir firmeza em si próprios em algumas fases da vida, mas Adaíso nunca tinha confiado em si mesmo. Contudo houve uma mudança total de rumo: “o que veio do Altar mudou minha cabeça. Eu levava antes uma palavra de morte e derrota, mas depois passei a carregar uma palavra de vida. Decidi obedecer, confiar e praticar a Palavra de Deus”, conta.
Ele já não dava mais ouvidos às palavras negativas da mãe. “Só dava atenção ao que Deus dizia sobre mim”, diz Adaísio, que logo começou a trabalhar numa empresa do ramo de embalagens. Em quase 10 anos foi promovido cinco vezes. Mas algo ainda o inquietava. Pediu as contas e foi vender embalagens de porta em porta.
Claro que o chamaram de louco. Mas aquele homem, agora confiante na força que Deus lhe dava, em menos de um ano conseguiu abrir sua própria fábrica de embalagens. “Não sabia o que eram coisas como CNPJ, razão social, mas tinha certeza que venceria e Deus foi pondo pessoas em meu caminho que me ensinavam como fazer tudo”, lembra.
O novo empresário comprou uma sede de R$ 600 mil e contratou 15 funcionários. Ele não só alcançou bênçãos, mas ajudou sua família e as pessoas ao redor. Casou-se e mora com todo o conforto numa casa própria. Comprou outra para a mãe e a levou para São Paulo com os irmãos, que hoje também trabalham com ele. Hoje comanda 25 profissionais e tem mais duas empresas de embalagens.
“Ainda tenho dificuldade em ler, inclusive a Palavra de Deus, mas não tenho dificuldade em obedecê-La”, conclui.
A luta para confiar na filha
Se a mãe de Adaísio Campelo não confiava nele, a história de Valdemir Gomes, de 55 anos, e sua filha, Katiany , de 27 (foto abaixo), é inversa. Ele até queria confiar na filha, mas ela não se esforçava para merecer isso.
Da parte dele, nunca faltou esforço: “supria as necessidades, ensinei a fé e me dediquei a preparar um futuro melhor para ela”. Mas ele começou a ver seus planos irem por água abaixo quando a menina se tornou adolescente. Cega por uma paixão, ela engravidou e a decepção de Valdemir foi enorme. Mesmo assim, havia pelo menos uma esperança em mudanças.

O bebê nasceu e, quando completou um ano, Katiany, então com uns 17, voltou a trabalhar e passou a sair com os novos colegas. “Eles tinham envolvimento com o funk. Entrei para um grupo de dança, participei de videoclipes e meu pai se desesperou, porque aquelas pessoas eram ligadas ao tráfico de entorpecentes e eu me aprofundava nisso cada dia mais. Só não usei drogas porque tinha muito medo de morrer de overdose”, afirma.
Era, obviamente, muito difícil para Valdemir ver a filha usada pelos homens. “Por causa do grupo de dança, ela andava sempre seminua. Eu ficava horrorizado, tentava conversar, mas ela não me ouvia”. Katiany, por sua vez, achava que aquela cobiça masculina e a disputa que isso gerava significavam ser valorizada e que o pai era “um chato, um caretão”.
Para Valdemir, brigar e castigar eram as reações naturais. Mas, durante orações nas reuniões na Universal, percebeu que quanto mais fazia isso, mais afastava a filha. “Decidi, então, entregá-la nas mãos de Deus e segui confiando com orações, jejuns e propósitos de fé.”
Passou a tratar bem a filha, o que despertou a atenção dela. “Ele não me cobrava nada nem me chamava para ir à Igreja, mas eu sabia que orava por mim, ungia a minha cama e até as roupas que eu usava nas apresentações.” Não demorou muito e Katiany passou a acompanhá-lo nas reuniões, mesmo ainda frequentando bailes e festas. O pai não dava atenção ao que seus olhos naturais viam, mas apenas aos da fé.
Muitos ao redor começaram a questionar a vida dupla de Katiany e isso a levou a raciocinar. “Sabia que precisava tomar uma decisão, afinal eu conhecia a Verdade e sabia que aquilo que eu fazia fora de casa me levava à perdição. Então resolvi ‘descer do muro’: ou ia de vez para o mundo ou escolhia o Senhor Jesus.”
A escolha foi a melhor: “fui batizada nas águas, me afastei do que me tornava inimiga de Deus e foquei em receber o Espírito Santo”. Hoje, Valdemir, há 18 anos como obreiro, tem a alegria de ver a filha na mesma função. Ele sempre quis confiar nela, mas isso só aconteceu depois que a jovem se arrependeu e uniu a isso ações coerentes com sua escolha.

Na política: sem confiança, sem voto
A Constituição Federal diz que, para se candidatar a um cargo político, a pessoa precisa ter nacionalidade brasileira ou ser naturalizada, estar em pleno exercício de seus direitos políticos, estar registrada na Justiça Eleitoral, ter domicílio eleitoral no lugar em que se candidatar e ser filiada a um partido pelo menos um ano antes da eleição.
E o eleitor? Precisa saber se seu candidato está em sintonia com as necessidades da população e não só procurando um cargo para trazer benefícios para ele mesmo ou para grupos que nada têm a ver com o bem de todos.
Acabamos de relatar histórias de pessoas que de alguma forma não eram confiáveis nem conseguiam confiar em alguém. Elas lutaram contra isso e a vida melhorou à sua volta. Não pense que com os candidatos a cargos de dirigentes de nosso país, Estados ou cidades é diferente. Eles também precisam tomar atitudes que façam com que se confie neles.
Sim, vale a pena saber se seu candidato é honesto, competente e tem garra para tomar a direção com muitos outros.
O País precisa urgentemente de gente capaz disso. Não seja seduzido com discursos na base do “vou dizer o que o eleitor quer ouvir”, ditos só para ganhar seu voto.
Sim, estamos falando de armadilhas que usam as emoções como isca. É hora de pôr os pés no chão e analisar a confiabilidade do representante que você escolherá para um cargo para representar o povo. Isso não é besteira. Deve mesmo ser considerado nas urnas.

imagem do author
Colaborador

Marcelo Rangel/ Fotolia, Demetrio Koch e Marcelo Alves