A amargura de ser só

Sensação de isolamento e vazio provoca baixa autoestima e muito sofrimento. Além disso, solitários são mais propensos a ter problemas de saúde. Conheça a história de pessoas que conseguiram superar a solidão

Imagem de capa - A amargura de ser só


Durante muitos anos, Stefani Cardoso Canto, de 23 anos (foto a dir.), se sentiu solitária. Não importava quantas pessoas estivessem ao seu redor, a sensação de estar desacompanhada era constante. “Eu sentia um vazio muito grande, parecia que estava sozinha no mundo”, lembra. Stefani conta que foi abandonada pela mãe quando tinha apenas seis meses de vida. Desde aquele momento, ela e o irmão, que à época tinha um ano e seis meses, ficaram sob os cuidados da avó. A vida da jovem foi marcada por dificuldades. “Aos quatro anos, conheci minha mãe biológica e passava os finais de semana com ela.
Quando tinha de seis para sete anos, eu quase sofri um abuso sexual. Contei para minha mãe biológica, mas ela não acreditou, então comecei a sentir muita raiva. Aos nove anos, ela me ofereceu cigarro”, explica.
Stefani conta que a solidão se tornou ainda maior com a chegada à adolescência. Para tentar superar o sentimento, ela diz que não media as consequências de seus atos. “Comecei a conhecer o mundo, ia para festas e me envolvi com más amizades. Eu aprontava todas, usei lança-perfume, fui conhecendo outras drogas, namorei um rapaz que era traficante. Eu queria preencher aquele vazio”, diz. Além dos sentimentos de abandono e solidão, ela acrescenta que também sentia muita raiva. “A tristeza era tão grande que eu tentei tirar minha própria vida”, diz.
A situação de Stefani começou a mudar depois de um pedido insistente de sua avó. “Minha vó não estava enxergando muito bem e pediu que eu a levasse à Universal. Eu falei para ela que não entrava lá nem morta. Eu odiava a igreja. Mas ela insistiu muito, então eu a levei”, esclarece. No local, ela conta que teve uma conversa marcante. “Depois da reunião, o pastor veio falar comigo, explicou que muitas pessoas estavam sofrendo e me fez um desafio: que eu seguisse a Palavra de Deus por três meses e que, nesse período, eu mudaria.” Mesmo sem acreditar na proposta, ela decidiu tentar. Com isso, alguns amigos se afastaram. “Fiz um desafio com Deus. O mais difícil foi quebrar meu orgulho, meu ego.”
Depois de frequentar a Universal por três meses, Stefani conta que ainda buscava respostas para a sua situação. “Eu larguei tudo para conhecer o Deus que todo mundo dizia. Durante uma reunião, fiz uma oração e disse a Deus que eu não o amava porque não o conhecia ainda. Naquele momento, tive um encontro com o Espírito Santo e o vazio foi preenchido”, conta, explicando que uma sensação de paz a invadiu. Depois disso, a jovem afirma que nunca mais usou drogas. Ela também fortaleceu a relação que tinha com os familiares e conseguiu superar os sentimentos de raiva.

O que é a solidão?
Sentir solidão não é o mesmo que estar sozinho. Isso significa que mesmo pessoas que vivem acompanhadas podem ter a sensação de que estão solitárias ou de que não são compreendidas por ninguém. Quem explica é a psicóloga Lidiane Silva (foto a esq.). “A solidão pode estar relacionada muitas vezes a se sentir desprotegido, a insegurança pode provocar esse sentimento. Por isso, existem muitas pessoas que têm boas relações sociais, família e amigos e, ainda assim, se sentem sozinhas, sentem um vazio”, diz. “Solidão é uma característica emocional, ela traz melancolia e tristeza. Ela também pode ser sintoma de alguma psicopatologia, como depressão e transtornos de personalidade”, completa.
A solidão pode provocar problemas em diversas áreas da vida. “É um ciclo de sentimentos negativos. Quando a pessoa se sente sozinha, ela se sente desprotegida e automaticamente a autoestima fica mais baixa, pois ela acredita que não tem qualidades para pertencer a grupos ou pensa que não é amada. Assim, a pessoa vai se isolando cada vez mais”, detalha. Quando a situação se agrava, muitos solitários podem pensar em atitudes extremas, como no caso de Stefani. “A pessoa pode ter tendências suicidas. Ela se sente tão sozinha, o vazio é tão grande, que ela pensa em acabar com a própria vida”, alerta a psicóloga.
O que fazer?
Lidiane Silva diz que o caminho para superar a solidão passa pelo autoconhecimento e pelo controle das próprias emoções. “O ser humano precisa estar em paz e ter contentamento com as coisas que vivencia. Se não estiver satisfeito consigo mesmo, ele não vai se sentir satisfeito em nenhum ambiente e isso potencializa a solidão”, diz. Ela acrescenta que é importante cultivar boas amizades, valorizar as conquistas pessoais e buscar ajuda quando os sentimentos ruins aparecerem. “Temos que colocar nossa vida em equilíbrio. Também oriento a prática da fé, pois isso ajuda a pessoa a se reestruturar e a se sentir amada e acolhida. Em muitos casos, a psicoterapia também é indicada”, finaliza.
Uma secretaria contra a solidão
A epidemia de solidão levou o Reino Unido a criar uma secretaria de Estado só para cuidar do tema. A solidão afeta 9 milhões de britânicos e pode ser tão prejudicial para a saúde quanto fumar 15 cigarros por dia, segundo um relatório do governo local. O documento conclui que a solidão está ligada a doenças cardiovasculares, demência, depressão e ansiedade.
O aumento da solidão está relacionado ao enfraquecimento de instituições como sindicatos, igrejas, família e centros de trabalho. Sem ter contato com grupos diferentes, cada vez mais pessoas passam muitas horas sozinhas. A vida solitária também está relacionada ao aumento de custos. Dez anos de solidão de uma pessoa idosa podem significar gasto extra aos cofres públicos de mais de R$ 26 mil, segundo pesquisa da London School of Economics.

Coração em paz
A solidão também já fez parte da rotina de Erica Almeida Ribeiro, de 23 anos (foto a dir.). A jovem diz que os problemas de sua família contribuíam para que ela se sentisse solitária. “Meu pai sofreu com a dependência de álcool durante minha infância e parte da adolescência e eu o culpava pelos problemas dentro de casa. Eu sentia um vazio muito grande”, conta. Ela explica que se sentia incompreendida e desconectada de outras pessoas. “O vazio era constante, achava que ninguém gostava de mim e que era melhor morrer.”
Mesmo depois da mudança na situação familiar, Erica continuava sofrendo por causa da solidão. Segundo ela, a amargura que sentia do pai ainda estava presente. “Meu pai parou de beber e passou a frequentar a Universal com a minha mãe e meu irmão. Eu também ia, mas não conseguia superar a mágoa que tinha dele”, esclarece.
Erica revela que um problema de saúde mudou sua forma de encarar a solidão. “Eu passei por um processo cirúrgico e fiquei dez dias internada na UTI. Lá, vi pessoas morrerem ao meu lado e comecei a imaginar o que aconteceria comigo se eu morresse também. Quando saí do hospital, decidi fortalecer minha fé”, diz.
Em 2011, ela finalmente conseguiu superar seus problemas com o Jejum de Daniel, propósito da Universal em que os participantes são convidados a se afastar do excesso de informação por três semanas para se dedicar a conteúdos cristãos e ao fortalecimento da fé. “Depois dos 21 dias, participei de uma reunião na Universal em que o pastor contou a história de Pedro e perguntou: ‘o que te impede de olhar para Jesus e andar sobre as águas?’ Ele sugeriu que nós escrevêssemos em um papel. Eu escrevi que era a mágoa que eu tinha do meu pai. Depois, falei para Deus tudo que estava dentro de mim e uma paz invadiu o meu coração. Percebi que não estava mais sozinha, Jesus estava comigo”, conclui.

Dois casamentos
Paula Schmitz, de 27 anos (foto a esq.), conta que o sentimento de solidão prejudicava seu casamento. Ela acredita que a baixa autoestima a levava a ser muito dependente do marido. “Eu não me amava, não gostava de mim mesma.
Tinha complexo de inferioridade e dependia da apreciação de outras pessoas para me sentir valorizada”, lembra. Ela explica que o problema permaneceu por cerca de cinco anos. “Vivi dias de muita solidão e vazio, nada me preenchia. Não tinha vontade de fazer nada, de me alimentar ou de sair de casa. Deitava a cabeça no travesseiro, mas não conseguia dormir”, detalha. À medida que a sensação de vazio aumentava, Paula explica que buscava novas formas de superá-la, mas não tinha sucesso. “Eu era ansiosa, impaciente, nada me satisfazia. Quando achava que o problema era o emprego, trocava de emprego; se achava que precisa de roupas, não podia sair que queria comprar algo.”
Em 2012, o marido dela, Marcos Vinicius Schmitz, de 29 anos (foto acima), decidiu se separar, mas eles reataram pouco tempo depois. Dois anos depois, o casal teve um novo rompimento. “Acredito que era meu jeito que atrapalhava. Percebi que, antes de me preocupar com minha vida sentimental, tinha que aprender a me amar antes”, diz ela, que buscou ajuda espiritual na Universal.
Em 2016, Paula foi novamente surpreendida por um pedido de separação do marido. Apesar do choque, ela diz que o momento foi decisivo para que ela fortalecesse a própria fé. “Foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido, pois eu precisava desse tempo para cuidar de mim e da minha vida com Deus. Como eu estava morando sozinha, precisei cuidar de mim e administrar tudo ao redor. Aos poucos, percebi que a ansiedade de querer agradar a todos não me deixava conhecer quem eu era de verdade”, pontua.
Paula continuou participando das reuniões da Universal. “Eu me entreguei a Deus. Na segunda semana após a separação, eu recebi o Espírito Santo e tive um novo nascimento”, garante. Oito meses depois do divórcio, Marcos a procurou. Os dois decidiram recomeçar. Eles namoraram novamente, noivaram e voltaram a se casar em maio de 2017. “Recomeçamos tudo do zero, mas agora com a presença de Deus. Hoje temos um relacionamento sólido, baseado não só em sentimento, mas no amor de Deus. Eu me sinto completa, descobri que viver para Deus é minha maior alegria”, finaliza.
Ruim para o coração
A solidão é prejudicial para o coração, aumenta o risco de morte prematura, leva a uma piora da saúde mental e reduz a qualidade de vida em pacientes com doença cardiovascular. A constatação é de um estudo conduzido por Vinggaard Christensen, pesquisadora do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca.
Acidente vascular cerebral (AVC)
O isolamento social e o sentimento de solidão elevam o risco de enfarto do miocárdio e de acidente vascular cerebral (AVC). Viver sozinho também aumenta a mortalidade depois de um enfarto ou AVC em 32%, diz estudo feito com quase 500 mil pessoas na Grã-Bretanha e publicado na revista Heart.
A solidão é contagiosa
Pessoas solitárias podem espalhar sua forma de encarar a vida a quem as cerca. Segundo estudo das universidades de Harvard, da Califórnia e de Chicago, existe um padrão de contágio da solidão que leva as pessoas a se afastar da vida social e a acabar com os poucos laços de amizade que restam. Os estudiosos verificaram que as mulheres eram as que mais facilmente eram contagiadas pela solidão, embora elas também sejam mais propensas a dar apoio emocional a quem está isolado.
Morte solitária
Na Espanha, um homem descobriu o corpo mumificado de uma mulher de 70 anos. Ela havia morrido quatro anos antes, mas ninguém notou sua falta. A mulher vivia sozinha e era socialmente isolada. O homem era vizinho da falecida e estava limpando um pátio interno de sua casa quando viu, no imóvel ao lado, roupas penduradas que pareciam estar lá há muito tempo. Logo depois, ele viu as pernas da mulher estendidas no chão. As janelas e portas da residência da falecida estavam fechadas, o que pode ter contribuído para que o cadáver não passasse pelo processo de putrefação. O caso foi noticiado em maio pelo site do jornal El País.

Encontro com o Espírito Santo
Apesar do sofrimento, Stefani, Erica e Paula conseguiram vencer o sentimento de vazio e de solidão. Seus problemas foram superados depois que receberam o Espírito Santo. Se você também deseja ter paz e tranquilidade, o propósito do Jejum de Daniel, que começou em 6 de agosto, é uma oportunidade para cuidar da sua vida espiritual. A proposta da Universal é dedicar 21 dias ao relacionamento com Deus, evitando informações seculares e o excesso de tecnologia. Leia mais.

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Colaborador

Rê Campbell/ Fotos: Marcelo Alves, FJU Porto Alegre e Divulgação