Vídeos para crianças na Internet podem esconder publicidade

Presença dos pequenos no mundo digital atrai empresas interessadas em divulgar produtos de forma camuflada. Veja como controlar os apelos ao consumismo

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Assistir a vídeos na internet faz parte do dia a dia de milhões de crianças brasileiras. Desenhos animados, paródias, pegadinhas, vídeos sobre jogos e canais de divulgação de brinquedos estão entre os preferidos dos pequenos. Cerca de metade dos 100 canais brasileiros com mais visualizações no YouTube são produzidos para crianças de 0 a 12 anos, segundo o ESPM Media Lab. Hoje, oito em cada dez crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos usam Internet no Brasil, o que corresponde a 24,3 milhões de usuários, segundo pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br).

Com a presença cada vez maior de crianças na Internet, muitas empresas estão aproveitando o mundo online para divulgar produtos e estimular o consumismo de maneira camuflada. O alerta é da advogada Livia Cattaruzzi, do Programa Criança e Consumo, do Instituto Alana. “O aumento da audiência dos canais voltados para crianças chamou a atenção do mercado. Assim, as empresas fazem publicidade velada e abusiva, convencendo as crianças a desejar e a consumir os produtos divulgados nos vídeos”.

A advogada destaca que essa é uma forma das organizações burlarem as leis brasileiras. “A publicidade direcionada à criança no Brasil é proibida devido a uma interpretação sistemática entre a Constituição, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Resolução 163 de 2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente”, avalia.

Livia lembra que a publicidade infantil explora a fragilidade das crianças para tentar vender produtos. “As crianças não conseguem diferenciar publicidade de conteúdo até os 12 anos de idade por estarem em fase de desenvolvimento físico e psíquico. Elas confiam nesses vídeos”, alerta.

Youtubers e publicidade

Em fevereiro deste ano, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) puniu o vídeo de dois irmãos youtubers porque o conteúdo não deixava claro que era um anúncio publicitário. No vídeo, eles divulgavam um número de telefone para os seguidores ligarem e participarem de um sorteio. Já em novembro de 2017, o Conar determinou a alteração de uma série de vídeos de uma jovem youtuber que continha desafios ao público e divulgava bonecas sem deixar claro o patrocínio feito por uma grande marca.

“Os youtubers têm sido usados como intermediários. As marcas enxergam esses youtubers como facilitadores da publicidade direcionada a crianças devido à proximidade que eles criam com as crianças expectadoras. Acaba sendo mais efetivo usar um canal de YouTube em vez de um comercial na TV”, acrescenta a advogada.

Segundo ela, outros problemas identificados pelo Instituto Alana no uso de plataformas de vídeos são a exposição de crianças a conteúdos impróprios para a faixa etária e a publicidade direcionada a adultos que pode aparecer entre os vídeos infantis, incluindo até a divulgação de bebidas alcoólicas.

O que fazer?

Em meio aos apelos oferecidos na Internet, como evitar os possíveis riscos aos pequenos? Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o caminho inclui bom senso, informação adequada e muito diálogo. Os pais devem controlar o acesso às tecnologias digitais de acordo com a idade dos filhos, evitando o uso de telas até os dois anos de idade. Eles ainda precisam equilibrar os períodos que a criança passa na Internet com atividades esportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza.

O especialista em comportamento digital Thiago Valadares explica que os pais precisam observar também o próprio comportamento nas redes. “Muitos pais não estão preparados para orientar os filhos nesse mundo conectado e cheio de ferramentas. É importante debater quais seriam as boas práticas para o uso da Internet e os limites”, diz, acrescentando que não adianta o adulto passar várias horas no celular e proibir as crianças de acessar a Internet. Dar bons exemplos é fundamental.

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Colaborador

Por Rê Campbell/ Foto: Fotolia