A busca pela aparência perfeita

Pesquisa mostra que 55% das pessoas que fazem procedimentos cirúrgicos no rosto querem selfies melhores. Saiba quando a preocupação excessiva com a imagem corporal pode indicar problemas

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A preocupação com a própria imagem corporal pode estar chegando a limites perigosos. Nos Estados Unidos, uma pesquisa revelou que o desejo de conseguir selfies perfeitas nas redes sociais está levando cada vez mais pessoas a recorrer a cirurgias plásticas. Em 2017, 55% das pessoas que fizeram cirurgias plásticas faciais queriam selfies melhores, um aumento de 13% em relação ao ano anterior. Os dados são da Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva (AAFPRS, na sigla em inglês). O número médio de procedimentos faciais realizados por membros da Academia aumentou 25% desde 2012. Mais da metade dos médicos (56%) relataram um crescimento no número de cirurgias estéticas ou procedimentos injetáveis no rosto em pacientes com menos de 30 anos.

Procedimentos estéticos pelo mundo

Em todo o mundo, o número de procedimentos estéticos cirúrgicos e não cirúrgicos aumentou 9% em 2016, em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps). O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking dos países que mais fazem cirurgia plástica, perdendo apenas para os Estados Unidos. Só em 2016, mais de 2,5 milhões de procedimentos foram realizados no País. Foram 217.085 cirurgias de aumento das mamas, 209.165 lipoaspirações, 159.720 cirurgias na pálpebra, 133.100 abdominoplastias e 74.030 rinoplastias (cirurgias no nariz).

Riscos

A busca pelo corpo perfeito pode terminar de forma trágica. Uma pesquisa de doutorado defendida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que apenas 7% das certidões de óbito de pessoas que morreram após lipoaspiração foram preenchidas corretamente. Em 93% delas, existem lacunas e imprecisões que dificultam identificar a causa da morte. Entre as vítimas, 98% eram mulheres, a maioria jovens.

O estudo ainda mostrou que 12 médicos (13,64% do total) ligados às mortes por lipoaspiração estão envolvidos em mais de um caso de óbito, um deles em cinco. A falta de clareza sobre as mortes dificulta a identificação das causas e pode representar riscos para os pacientes. A pesquisa traçou o perfil de mortes por lipoaspiração noticiadas pela imprensa brasileira entre janeiro de 1987 e setembro de 2015 e identificou 102 casos. Por isso, antes de se submeter a uma cirurgia plástica, é importante buscar informações sobre o registro profissional e a carreira do médico, assim como os riscos envolvidos e o local de realização do procedimento. Também é possível obter dados sobre registros de médicos no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Afinal, será que vale arriscar a própria vida por uma curva perfeita?

Selfies e redes sociais


O uso constante de redes sociais tem levado muitas pessoas a se preocupar mais com a aparência. Há usuários que passam vários minutos e até horas fazendo fotos de rosto até encontrar o melhor ângulo. O que explica a obsessão por uma selfie perfeita? a psicóloga Mônica Bayeh, do Rio de Janeiro (RJ), dá uma pista. “A selfie é uma foto maravilhosa, retocada, com filtros de imagem, que as pessoas fazem de um recorte específico de suas vidas. A selfie pega as pessoas pela vaidade, pois existe um desejo de mostrar o nosso melhor eu. O objetivo da selfie pode ser a busca por curtidas, amor, aceitação, carinho e atenção”, enumera.

A obsessão por tirar uma foto perfeita também pode indicar alguma dificuldade. “Quando postar fotos em redes sociais vira o foco da vida da pessoa, ela acaba perdendo um tempo que poderia ser gasto em encontros com amigos e familiares e acaba se isolando”, sugere a especialista.

Imagem distorcida

Afinal, qual é o limite para a busca do corpo perfeito? Por que pessoas cada vez mais jovens estão fazendo cirurgias plásticas? A escolha por esses procedimentos pode ser motivada por diversos fatores, mas Mônica alerta que a obsessão com padrões de beleza pode esconder problemas como baixa autoestima e ansiedade. “Algumas pessoas têm a falsa impressão de que com a cirurgia plástica vão conseguir encontrar a felicidade, mas muitas vezes isso só esconde outros problemas. Pessoas infelizes ou insatisfeitas podem acreditar que, se transformarem o corpo, a vida também vai melhorar e elas vão se sentir mais seguras e amadas”, diz.

A psicóloga afirma que é importante fortalecer a autoestima e buscar as verdadeiras causas da insatisfação. “A preocupação excessiva com o corpo pode indicar que a pessoa sente algum vazio, então é importante rever o que está faltando em sua vida.”

Mônica explica que algumas pessoas têm uma imagem distorcida do próprio corpo. Elas sofrem de um distúrbio chamado dismorfia corporal, o que as leva a ver defeitos imaginários. “A pessoa que tem dismorfia se vê como se fosse um monstro, ela se acha horrível. Quem tem esse transtorno tenta disfarçar o suposto problema com roupas ou cirurgias plásticas. Nesses casos, o ideal é procurar ajuda especializada, terapia, pois a pessoa pode não conseguir mudar sozinha”, finaliza. Se não for tratada, a insatisfação com a própria imagem pode levar à depressão e a outros distúrbios emocionais.

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Colaborador

Por Rê Campbell/ Foto: Fotolia