Erotização infantil: um mal da sociedade precoce

A importância de criar uma rede de proteção nas crianças contra a cultura de hipervalorização da sexualidade

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Maquiagem em excesso, preocupação com padrões de beleza, vestimentas que não condizem com sua idade. Tudo isso faz parte de um comportamento cada vez visto entre as meninas: a erotização infantil.

Segundo o psicólogo e psicoterapeuta sexual e de casais Felipe Gonçalves, a erotização precoce é a reprodução de comportamentos adultos por parte das crianças. Eles podem ser estimulados pela mídia, pela música e até por meio do relacionamento familiar. “A criança é exposta a esses estímulos mesmo sem ter a capacidade erótica para assimilá-los”, explica.

Para ele, o cenário atual é propício: crianças conectadas desde cedo aos smartphones e exposição à pornografia somada a uma cultura de hipervalorização da sexualidade feminina fazem das meninas as principais vítimas. Os meninos também são estimulados a imitar os papéis de virilidade. No entanto, a erotização infantil masculina não é tão forte quanto a feminina. Desde cedo, os meninos ouvem frases clichês como “mostra ao papai que você é homem”, enquanto para as meninas a mensagem é de que sigam o padrão “bonito é ser magra”.

A cultura e a mídia são fatores determinantes. “Uma criança está assistindo um desenho e, na sequência, vem o comercial publicitário. Dependendo da idade, ela não consegue separar o desenho do comercial e vai assimilando tudo como verdade”, explica Felipe. Quando a criança presencia a objetificação do corpo da mulher em revistas ou anúncios, por exemplo, está sendo mostrado a elas que aquilo é um corpo idealizado e deve ser reproduzido. Surgem os rótulos do que é belo, magro, feio, etc.

A influência dos pais

Felipe garante que o comportamento familiar também faz com que a criança fique exposta. “Uma família que tem cuidado com a conduta da criança vai criar uma rede de proteção, já uma família condescendente não”. É importante estabelecer limites quanto a que roupa usar, o que pode ser visto na TV e nas redes sociais, entre outros.

O psicoterapeuta diz ainda que, no caso de meninas, se a mãe vive preocupada com a estética corporal, a filha entende que aquilo é regra e pode adquirir padrões inadequados ainda na infância. “Antes, a anorexia se manifestava na adolescência, hoje crianças de cinco e seis anos têm essa doença”, alerta.

Qual seria a solução?

É dever dos pais e responsáveis, em especial da mãe, conversar sobre sexualidade com a menina, sem transferir seu papel para a escola. Ao ver que ela reproduziu algum comportamento diferente, ligado à erotização, seja no espaço público, seja nas redes sociais, é preciso, com amor e cuidado, orientá-la e sempre ficar atenta. Nunca é tarde para readequar essas condutas.

Segundo o psicoterapeuta, a solução está em ensinar a criança a diferença entre o público e o privado. Se a menina, por exemplo, ganhar maquiagem para brincar, o adulto deve deixar claro que ela pode brincar em casa, pois está sob o cuidado dos pais. Ele também lembra que a escola tem um papel importante: analisar de onde surgiu o comportamento da criança e não o de censurar. “É missão dos professores levar informações aos pais e ajudar as crianças a refletirem sobre os riscos da erotização.”

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Colaborador

Por Katherine Rivas/ Imagem: Fotolia com arte de Ed Edson