Mãe agride filha por causa de um tablet

Vídeo sobre violência infantil viraliza na internet e levanta questões sobre a educação familiar

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Uma mãe chega gritando ao quarto da filha de três anos, pois queria o tablet que a criança estava usando. Ela diz que vai matá-la se não for atendida. Repete a frase mais de uma vez. Sem obter uma resposta imediata, a mãe esbofeteia a criança, ergue a filha pelos cabelos e a sacode violentamente até que ela caia no chão. Por fim, ainda lhe dá um chute. A criança chora de dor e sai correndo. Fim da cena. Se você pensou que se tratava de um filme de terror produzido por Hollywood está enganado. É um relato real. Aconteceu em Bahía Blanca, na Argentina, no final de dezembro passado. O fato causou comoção e foi replicado milhares de vezes na internet. Foi a avó materna da criança que denunciou a agressão.

Números da violência

Tanto em terras portenhas quanto aqui no Brasil, os números sobre violações de direitos de crianças e adolescentes são elevados. Se em Buenos Aires são relatadas cerca de 3,2 mil situações por ano, em nosso país, a cada hora, cinco casos de violência física e psicológica são registrados, de acordo com dados da Fundação das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Mas será que diante de tais números é possível fazer algo para diminuir esses atos violentos, além de denunciá-los? Mãe e filha que protagonizaram essa cena como agressora e agredida, respectivamente, necessitam de tratamento? Até que ponto a estrutura familiar bem formada pode auxiliar para impedir que casos como esse aconteçam?

Desequilíbrio

Para falar sobre isso, a Folha Universal conversou com a mestre em psicologia clínica, psicóloga e professora universitária Alessandra Chrisostomo, que há anos atende casos semelhantes. Na opinião dela, essa mãe, presente no vídeo, apresenta um total descontrole emocional e uma inabilidade em lidar com a criança. “É provável que isso não tenha ocorrido pela primeira vez. Acredito que foi decorrente de uma educação totalmente permissiva, de total falta de limites, porque, se eles existissem, a mãe poderia ter tratado a situação de outra forma. Por exemplo: conversando com a criança e pedindo para que ela entregasse o aparelho. Provavelmente, essa criança não recebia limites quanto ao uso de eletrônicos nem quanto a outras questões educacionais. Faltou ter esse papel de educadora”, avalia.

Contexto

Situações como essa mostram como o contexto familiar pode ser preponderante. “Possivelmente, essa mãe já vem de uma história de desamparo, de abandono e de falta de regras. Toda essa situação fez com que essa mulher gerasse essa criança e assumisse um papel que ela não tem condições de desempenhar. Até porque, para que alguém consiga criar, ajudar, formar e amparar outra pessoa, é preciso também estar bem consigo mesma. Ser mãe é uma tarefa que exige várias características: controle emocional, doação e maturidade muito grandes”, explica.

Tratamento

Depois que a denúncia foi feita, a jovem mãe, de 23 anos, perdeu a custódia dos filhos e recebe assistência psicológica. Para a psicóloga Alessandra Chrisostomo, a criança também deve ser tratada. “Essa criança vivenciou essa situação de violência e deverá ter um acompanhamento para que possa conhecer a extensão deste trauma, dessa dor física e psicológica, e ter alguém que a acompanhe. Aqui no Brasil, o conselho tutelar, em casos assim, direciona um profissional que vai avaliar o fato. Se for uma questão em que o tratamento é necessário, a criança é afastada da mãe circunstancialmente. Tanto a mãe como a criança serão tratadas e depois, gradativamente, a mãe passar a ter a guarda dela de novo”, relata.

Papel familiar

Para a especialista, qualquer família deve possuir algumas particularidades para que seja considerada saudável e funcional. “Tanto em uma família monoparental, chefiada por uma mãe ou por um pai, como em uma família tradicional ou em outras configurações são importantes características como o vínculo afetivo genuíno e verdadeiro, o acolhimento dos seus membros, o estabelecimento de limites, regras claras e bem definidas, a amizade, o respeito e a admiração. Os bons exemplos dos genitores, seja do pai, da mãe ou de quem desempenha esse papel, e o equilíbrio entre o pertencer e a autonomia, entre o acolher, o cuidar e o libertar também são relevantes. Por meio desses elementos que são primordiais em qualquer configuração familiar, os filhos crescerão tendo a certeza de que são amados e aceitos para se tornarem indivíduos fortes e saudáveis, tanto do ponto de vista biológico quanto psicológico e social. Isso é o que todos queremos”, finaliza.

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Colaborador

Por Eduardo Prestes/ Foto: Fotolia e Reprodução