Onde estás, meu Romeu?

Cultuado no imaginário feminino, o romantismo pode distorcer o que, de fato, é o amor

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Ser surpreendida com aquele beijo de cinema como nos filmes de Hollywood, acordar com um belo café da manhã na cama com direito a buquê de flores e caixa de chocolates, dividir o mesmo sorvete em um dia ensolarado… A ideia de romantismo que toma conta do imaginário das mulheres parece ter uma lista, no mínimo, bem criteriosa. Mas as cenas, que geralmente assistimos nos longa-metragens não traduzem, na vida real, o que é o verdadeiro amor.

“O romantismo começou nas últimas décadas do século 18 na Europa e se estendeu até o século 19. Veio em contraposição ao século anterior, que promoveu a razão. E foi assim que o mundo voltou a ser escravo do próprio coração. Se o coração sentiu é porque tem que ser”, diz Cristiane Cardoso, autora do Namoro Blindado, em parceria com o marido, Renato Cardoso.

A autora menciona o quanto a ideia de romantismo influencia demais as pessoas nos dias atuais. Ela cita Romeu e Julieta, obra de William Shakespeare. A história da paixão avassaladora do casal Julieta Capuleto e Romeu Montecchio, embalada em versos como “se ela soubesse o que ela é para mim! Quem me dera ser a luva dessa mão, para poder tocar aquele rosto!”, é tida como exemplo de amor romântico para muitos. “Foi sobre tragédias literárias que muitas pessoas passaram a basear suas vidas amorosas e o fazem até hoje”, lembra Cristiane.

“A dedicação dele me encanta”

Ana Paula Souza Farias (foto ao lado), de 23 anos, diz que não costuma demonstrar tanto romantismo quanto as mulheres geralmente mostram. “Na casa dos meus pais, nunca vi gestos de romantismo. O comportamento de todos no ambiente era mais seco”, conta.

Casada com Douglas há um mês – e juntos há dois anos e dois meses –, ela recorda que o pedido de namoro e noivado não foram muito surpreendentes. “No noivado ele tentou fazer algo, mas não deu muito certo. Mesmo assim, o pedido em um fast-food foi bem romântico”, diverte-se, ao relembrar o fato. E são o bom humor e companheirismo que, na verdade, mantêm o romantismo entre o casal.

Ana também não é uma romântica de carteirinha. Não são as flores, cestas de café e declarações que recebe do esposo que impulsionam seu romance. Até porque, sem desmerecer o significado dessas atitudes, as flores murcham e os bombons acabam. Isso até deixa a relação saudável e harmoniosa, mas o que, de fato, traduz o romantismo tem outro nome: cuidado.

Para Ana, essas coisas têm caráter dispensável e outras não. O que a encanta, por exemplo, é a dedicação dele em querer ajudá-la. “O que é fundamental na relação, o que não pode faltar, é respeito e cumplicidade. Os dois têm que andar juntos”, pontua.

Consideração

Cristiane e Renato abordaram, em uma recente palestra da “Terapia do Amor”, as “três coisas que toda esposa gostaria que o marido entendesse”, baseadas em uma pesquisa que eles promoveram com milhares de casais. Os entrevistados citaram que seria bom que o parceiro “fosse mais aberto” e que lhes dessem “mais atenção”, além de pedirem “para serem resgatados quando estão sobrecarregados.” Na oportunidade, Cristiane mencionou que “essa consideração, para as mulheres, é mais romântica do que receber chocolates e flores”.

Mais amor, por favor!

A falta de romantismo não significa menos amor no relacionamento. São muitos os fatores que definem o amor e fazem a mulher se sentir amada, como o companheirismo, a entrega, a confiança, a fidelidade, o caráter, os princípios bem alicerçados e a mutualidade.

“O amor verdadeiro é justamente aquilo que não conseguimos ver e, no entanto, sustenta uma vida inteira”, conclui Cristiane.

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Colaborador

Por Flavia Francellino / Fotos: Fotolia e Arquivo Pessoal