O que os filhos esperam dos pais?

Confira histórias de famílias que descobriram o melhor presente que elas podem oferecer aos pequeninos

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Na véspera do Dia das Crianças, comemorado em 12 de outubro, é comum encontrar mães e pais preocupados com o presente que darão aos filhos. Para alguns deles, o presente é a melhor forma de demonstrar o amor que sentem. Mas será que isso é verdade?

A dentista Kelly Cristina Midori Yvamoto (foto ao lado), de 45 anos, garante que não. Ela conta que descobriu isso depois de passar por algumas dificuldades com a filha.

Durante muitos anos, Kelly acreditou que oferecer a melhor escola, pagar cursos, garantir uma alimentação saudável e dar presentes eram suficientes para que Pâmela, hoje com 27 anos, tivesse uma boa criação. “Ela sempre teve do bom e do melhor. Eu dava tudo que estava na moda: roupas, computador, celular, melhor escola, aula de inglês, natação. Ela ficava feliz, então eu achava que estava tudo bem.”

A rotina da família era intensa. Enquanto a mãe trabalhava 12 horas por dia, a filha frequentava diversas atividades na escola.

Kelly conta que costumava ser autoritária com Pâmela e que tentava impor a qualquer custo suas opiniões à jovem. “Quanto mais ela desobedecia, mais eu tentava impor, e as coisas foram piorando.” Os conflitos aumentaram quando a jovem completou 12 anos. “O problema dela era com mentiras e desobediência”, lembra.

O verdadeiro valor

As dificuldades entre mãe e filha duraram toda a adolescência da jovem e atingiram o ponto mais crítico quando Pâmela completou 21 anos e saiu de casa. Nesse momento, Kelly percebeu que faltava uma ligação mais forte com a filha. “Ela sentia falta do meu amor e eu exigia obediência.”

A dentista decidiu mudar a forma de se relacionar com a filha: no lugar de cobranças, passou a ouvir mais a jovem. “Comecei a conversar sem cobrar nada e a demonstrar carinho, a agradar, fazer um jantar para recebê-la”, detalha ela, acrescentando que as reuniões da Universal a ajudaram para que mudasse de comportamento.

Aos poucos, as duas se reaproximaram e Pâmela voltou para casa. “O que mais resolveu foi passar mais tempo com ela, a dedicação e o amor. Também procuro sempre renovar a minha fé, pois a oração por um filho deve ser diária”, conclui.

Tempo de qualidade

A falta de tempo entre pais e filhos é um problema comum entre muitas famílias e pode dar origem a outras dificuldades, como explica a psicóloga Táina Sena, da Clínica Holos, em Salvador (BA). “Quando perguntamos a alguns pais sobre um momento familiar, eles citam uma situação na sala, com a televisão ligada e cada um com seu celular na mão. Mas a presença física não é suficiente. É preciso perguntar como foi o dia, escutar aquela história longa que o filho vai contar, brincar junto”, exemplifica.

A psicóloga lembra que as pressões da vida profissional levam muitos pais a se afastarem dos filhos. Segundo ela, alguns tentam suprir a falta de tempo com presentes e outros bens materiais. “As demonstrações de carinho são muito importantes. Enquanto os pais pensam que estão fazendo o melhor ao pagar várias atividades para o filho, a criança pode achar que eles estão querendo se distanciar. Falta mais diálogo”, avalia.

A importância de reservar um tempo de qualidade com os filhos é defendida por Renato e Cristiane Cardoso, responsáveis pela palestra Transformação Total de Pais e Filhos, que ocorre aos domingos, no Templo de Salomão, em São Paulo (SP). “Os pais precisam priorizar o tempo com os filhos para conscientizá-los sobre as coisas da vida, mas isso não significa dar sermão, não é pregar para o filho. Os melhores pais ensinam sem que os filhos percebam que estão aprendendo. Eles ensinam no convívio do dia a dia, na hora do café da manhã, no jantar, no carro. Eles aproveitam esses momentos para ensinar, para mostrar o que é caráter para os seus filhos”, detalhou Renato Cardoso durante uma das palestras.

Cristiane Cardoso, por sua vez, lembrou que pagar a melhor escola não é garantia de uma boa educação. “Muitos pais querem que os filhos tenham o que eles não tiveram, mas se esquecem da importância do carinho, da atenção, de ter ali os pais ao lado ensinando”, afirmou.

Fazer o seu melhor

A hoteleira Isabela Munhoz Nascimento, de 35 anos, descobriu que ser mãe é superar os próprios limites todos os dias. Ao lado do marido, o empresário Lúcio Nascimento (foto ao lado), de 39 anos, ela busca exercitar o equilíbrio na educação dos filhos Leonardo, de 4 anos, e Rafael, de 1 ano e dez meses. “Educar dá trabalho mesmo. Antes de ter filho não imaginamos isso”, diz.

Segundo Isabela, depois da maternidade, ela passou a desenvolver habilidades que antes não tinha. “Brincar, por exemplo, não é tão fácil para mim, mas vejo que é importante para eles. Então, se é para brincar, procuro dar o meu melhor”, afirma ela, que é colaboradora do site Bolsa Blindada, da escritora Patrícia Lages, para o qual escreve às sextas-feiras.

Para Lúcio, pai e mãe devem priorizar a parceria na hora de tomar decisões sobre os filhos. “Os pais devem entrar em acordo e apoiar um ao outro em cada escolha. Também é importante dar exemplo de caráter, exemplo de casal e não ser nem tão rígido nem tão permissivo”, afirma. “Uma das dificuldades é deixar que os filhos passem pelos desafios sem interferir. Nesse caso, é preciso usar a razão, não o sentimento”, diz ele.

Isabela acrescenta que também se baseia na própria fé na hora de educar. “Busco inspiração na Palavra de Deus, na experiência que tive com minha mãe e nas palestras da Cristiane e do Renato Cardoso”, esclarece.

Amor se constrói

Quando o filho Daniel nasceu, Bárbara Ingrid Dias (foto ao lado), de 31 anos, trabalhava como babá e tinha pouco tempo para ficar com o menino. Por isso, ela conta que achou natural deixar a educação da criança a cargo de sua mãe. “Ele ficava com minha mãe direto, eu quase não o via. Ele chamava minha mãe de mãe e me chamava de Bárbara. No início, eu não dei importância”, lembra.

Após alguns anos, entretanto, o distanciamento passou a incomodá-la. Além disso, ela explica que o menino, hoje com 7 anos, começou a dar alguns sinais de que precisava de amor. “Ele estava ficando rebelde, gritava comigo, xingava, brigava na escola. Eu também não tinha paciência, queria bater”, afirma. “Nunca fui mãe. Para mim, era só dar roupa, presente. Minha mãe falava que eu devia dar carinho, atenção, ligar para ele.”

Bárbara conta que só mudou de atitude depois que começou a frequentar as reuniões do Godllywood, grupo que oferece apoio a mulheres. “Em uma das tarefas, eu tinha que fazer coisas para a minha família e foi aí que percebi que estava perdendo meu filho. Depois disso, decidi passar mais tempo com ele, dar atenção, brincar, dar carinho”, diz ela. “Hoje, ele também é carinhoso comigo, me ajuda, tudo mudou”, conclui.

Imposição não adianta

Enquanto Bárbara se manteve distante do filho durante alguns anos, Lourdes Pereira (foto abaixo), de 52 anos, sempre fez questão de acompanhar de perto todos os passos da filha Verônica, além de exigir que ela participasse das reuniões da Igreja. Ela acreditava que isso ajudaria a menina a fazer boas escolhas ao longo da vida, mas a imposição gerou um efeito contrário, segundo Lourdes. “Ela era bem malcriada, dizia que ia para a escola e não ia. Quando eu reclamava, ela respondia, cheguei a perder a cabeça e bater nela.”

Verônica, que hoje tem 22 anos, lembra que a relação com a mãe era bastante tensa quando ela tinha 15 anos. “Eu não ouvia o que minha mãe dizia. Comecei a usar drogas, fumava maconha e me envolvi com pessoas do crime. Achava que minha mãe queria o meu mal.” Após muitas brigas, Lourdes explica que, aconselhada por uma amiga da Universal, decidiu mudar de atitude. “Não insisti mais para que ela fosse à Igreja, mas não deixei de orar por ela, fazer meus propósitos e oferecer ajuda.”

A jovem, por sua vez, conta que começou a enfrentar dificuldades após o término do relacionamento. “Eu me sentia sozinha. Tinha sido traída e abandonada pelos meus amigos. Fui diagnosticada com depressão e comecei a ter crises nervosas. Nessa época, percebi que minha mãe tinha mudado. Aí tive confiança para conversar e pedir ajuda.” Lourdes diz que aprendeu a ter mais paciência com a filha. Segundo ela, a atitude deu certo. “Hoje, a Verônica sempre conversa comigo, me procura quando algo acontece. Ela também teve um encontro com Deus e teve sua vida transformada.” A jovem confirma: “minha mãe e eu somos melhores amigas, temos uma amizade verdadeira”, comemora.

Guerra em casa

Assim como Lourdes, Cícero da Silva (foto ao lado), de 54 anos, também adotou uma postura rígida para conduzir a educação da filha, Priscila da Silva, de 26 anos. O resultado, segundo ele, foi uma guerra constante com a jovem. “Ela me confrontava. Eu achava que ser rigoroso resolveria o problema e acabava sendo estúpido. Minha esposa ficava horrorizada, pedia para que eu parasse”, explica.

Priscila lembra que não costumava ouvir os pais e, mais do que isso, adotava atitudes contrárias às que eles ensinavam. “Eu queria fazer as coisas do meu jeito. Brigava muito com meu pai, minha mãe tentava intervir, mas era difícil. Uma vez fiquei vários dias sem falar com ele.”

Cícero conta que as proibições impostas por ele a Priscila não eram suficientes para a mudança de comportamento que ele esperava dela. De tanto ouvir os conselhos da esposa, Marinalva, de 59 anos, ele resolveu fazer diferente. “Ela falava que não adiantava agir com grosseria e que o melhor era ser paciente.”

Com o fim das brigas, Priscila esclarece que passou a ficar mais à vontade para conversar com o pai. “Quando precisei de ajuda, comecei a ouvir o meu pai e aí aconteceu a mudança”, diz a jovem.

“Hoje, graças a Deus, nós somos amigos e temos paz em casa. Ela também é uma jovem de fé, vai à Universal conosco. Eu procuro investir cada vez mais nos meus filhos, converso, participo das atividades deles e estou sempre por perto”, conclui Cícero, que também é pai de Vinícius, de 18 anos.

Acompanhar a educação

A empreendedora Viviane Alves (foto ao lado), de 38 anos, conta que sempre manteve uma relação de amizade e companheirismo com o filho Lucas, de 9 anos, mas o acúmulo de responsabilidades a levou a deixar de lado a educação dele.

Há alguns meses, os preparativos para a abertura de sua confeitaria começaram a ocupar todos os momentos de seu dia. “Eu passava o dia inteiro na confeitaria coordenando a reforma, estava muito focada em meu sonho. Na correria, deixei de ir à escola para conversar com a professora e parei de fazer as lições de casa com ele.”

Enquanto pensava só no negócio, Viviane conta que deixava o filho se virar sozinho. “Comecei a ficar desorganizada e quase tive uma crise de estafa”, lembra.

Ela conta que percebeu que algo estava errado quando recebeu o boletim com as notas do filho. “Ele estava com notas 6 e 7, não era comum. Aí caí na realidade: eu não estava priorizando o meu filho.” A partir daquele momento, ela explica que reorganizou suas tarefas e reservou tempo para acompanhar as atividades do menino. “Hoje, fazem parte das minhas prioridades conversar com o Lucas, perguntar se o dia foi bom, fazer a lição de casa com ele, acompanhar seus treinos. Depois dessa mudança, as notas dele melhoraram. A proximidade com o filho faz toda a diferença”, garante.

Será que você está agindo da forma certa?

“Educação é papel só da escola”

Muitos pais e mães ainda acreditam que a escola vai oferecer toda a educação de que o filho precisa para a vida. Ledo engano. É no dia a dia que as crianças aprendem as principais lições, esclarecem dúvidas e descobrem, com o exemplo dos pais, a melhor forma de enfrentar os desafios

“Dar presentes é sinal de amor”

Presentear os filhos em datas comerciais como o Dia das Crianças leva muitos pais à crença de que o presente vai garantir uma conexão com seus filhos. Bens materiais podem até suprir algumas necessidades, mas não substituem o afeto entre pais e filhos. Brinquedos quebram, ficam velhos e são substituídos. Já as lembranças das brincadeiras com os pais ficam eternizadas nas boas recordações da infância

“Ir à Igreja garante que os filhos escolham o melhor caminho”

Levar os filhos à Igreja todo o domingo pode parecer a melhor opção para afastá-los dos males do mundo. Entretanto, é importante lembrar que os ensinamentos sobre fé e valores não são aprendidos por obrigação, mas por meio de exemplos. Por isso, pais que desejam basear a educação dos filhos na própria fé devem praticá-la no cotidiano

“O amor entre pais e filhos é automático”

Como em todo relacionamento, a conexão entre pais e filhos deve ser cultivada todos os dias. É assim que o amor cresce e se fortalece. Sem demonstrações de carinho e amor, os filhos podem ter a impressão de que não são amados, o que contribui para piorar a relação familiar

“Presença é passar muitas horas com o filho”

Não adianta passar várias horas no mesmo espaço, se não existe diálogo e interação entre os membros da família. Para ser presente na vida dos filhos, é importante brincar, fazer atividades juntos, contar histórias e ter disposição para ouvir a criança

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Colaborador

Por Rê Campbell / Fotos: Demetrio Koch e Marcelo Alves