“Não entrevisto negros”

Foi o que um candidato com excelente currículo ouviu de um possível empregador

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A internet entrou em polvorosa depois que Theo van der Loo, presidente da multinacional Bayer no Brasil, publicou o relato de um conhecido dele em uma rede social para profissionais, o LinkedIn.

Na postagem, o presidente conta o caso do rapaz que passou pela primeira etapa da seleção de uma empresa e ao retornar para a segunda entrevista percebeu algo diferente na conversa entre o entrevistador e a funcionária do RH. “Nunca percebeu que não contrato negros?” Sim, essa foi a frase que o rapaz ouviu do homem que o entrevistava e na sequência foi dispensado, mesmo com um ótimo currículo na área de tecnologia da informação, experiência em cargos de gestão e pós-graduação nos Estados Unidos.

Temendo que as pessoas achassem que ele estava se vitimizando, preferiu não levar o caso adiante juridicamente e apenas comentou o fato com Theo. Achou melhor não fazer nada, pois poderia queimar sua imagem, era de família simples e tinha lhe custado muito chegar aonde chegou.

O presidente da Bayer postou o comentário, incomodado com o preconceito, mas não achou que o caso renderia tanto. Em quatro dias, a publicação teve mais de 300 mil visualizações e uma grande repercussão nos jornais do País.

Vale lembrar que não foi a primeira vez que o candidato sentiu na pele o descaso e o preconceito. Aos 14 anos ouviu de uma entrevistadora que não tinha vaga para ele, mas que talvez arrumasse uma com os “amigos” dele (negros) que trabalhavam como flanelinhas no estacionamento. Mais velho, em uma das empresas que trabalhou, foi apelidado
de “macaco”.

O que você faria no lugar dele?

Ainda vivemos sob a aura hipócrita e racista que finge colocar todos na mesma balança, enquanto sabemos que as medidas são bem diferentes. Nem todos (e não somente os negros) que lutam por uma causa têm as mesmas oportunidades e condições.

Em determinados momentos, não é correto responder à altura ou impor às pessoas quem somos e o que queremos. Se alguém surgisse em seu caminho para lhe jogar aquele balde de água fria, para lhe colocar para baixo, qual seria sua postura? Iriam arrancar a pior versão de você? Isso lhe abateria ou tiraria o chão dos seus pés? Você ignoraria para não descer ao mesmo nível? Deixaria alguém desacreditar dos seus ideais? A questão aqui é exatamente essa: como você defende seus ideais e, o mais importante, como reage quando os confrontam?

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Colaborador

Por Flavia Francellino / Foto: Fotolia