“Uma notícia muito triste e perturbadora”

Descoberta de ossadas de crianças em valas comuns de antiga casa de acolhimento reacende debate sobre práticas adotadas pela Igreja Católica na Irlanda

Imagem de capa - “Uma notícia muito triste e perturbadora”

No dia 3 de março, uma comissão da Irlanda que investiga casas de acolhimento dirigidas por ordens religiosas católicas no século XX confirmou a descoberta de esqueletos humanos em um antigo convento na cidade de Tuam, no condado de Galway.

A chamada Comissão sobre Mães e Bebês revelou que “quantidades significativas de restos humanos” foram encontradas em pelo menos 17 das 20 câmaras subterrâneas examinadas em escavações feitas entre novembro e dezembro de 2016, segundo o jornal irlandês The Irish Sun.

Os cadáveres variam de indivíduos de 35 semanas de gestação a crianças de 2 e 3 anos. Análises indicaram que os restos mortais são do mesmo período em que o local funcionou como casa de acolhimento para mães solteiras e seus filhos, entre 1925 e 1961.

Confirmação

Após a descoberta, a ministra da Infância e Juventude da Irlanda, Katherine Zappone, fez um comunicado oficial no site do ministério. “Esta é uma notícia muito triste e perturbadora. Não foi inesperado, porque havia reivindicações sobre restos humanos no local nos últimos anos. Até agora tínhamos rumores. Agora temos a confirmação de que os restos estão lá”, afirmou.

A ministra disse ainda que a comissão prosseguirá seus trabalhos, que incluem questões sobre os procedimentos de notificação de mortes e sepultamento adotados pela casa Mother and Baby Home, que era gerida por freiras. “Hoje vamos lembrar e respeitar a dignidade das crianças que viveram suas curtas vidas nesse lar. Vamos honrar as suas memórias e ter certeza de que tomamos as ações certas agora para tratar seus restos mortais de forma apropriada.”

A comissão foi criada pelo governo irlandês após denúncias de que cerca de 800 esqueletos estariam enterrados no local. Em 2014, a historiadora Catherine Corless descobriu o certificado de óbito de 798 crianças que viviam na casa de Tuam, embora nenhuma delas tenha sido enterrada no cemitério da cidade. Segundo reportagem do jornal português Expresso, um relatório do governo irlandês de 1944 descreve que algumas das crianças que viviam no local à época tinham sinais de má nutrição.

Outros casos

Essa não é a primeira vez que o governo irlandês investiga a atuação de conventos da Igreja Católica. Em 2013, um relatório do senador Martin McAleese indicou que milhares de mulheres foram mantidas em regime de escravidão e trabalhos forçados dentro de lavanderias da ordem católica das irmãs Magdalene entre 1922 e 1996. Na ocasião, a Irlanda pediu desculpas por ter enviado mulheres a essas lavanderias. A história inspirou o filme Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters), vencedor do Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza.

As negligências cometidas em conventos católicos também foram retratadas no filme Philomena, que recebeu quatro indicações ao Oscar. A produção é inspirada na história real de Philomena Lee, que na década de 1950 foi enviada pela família a um convento por ser mãe solteira. No local, ela teve o filho arrancado de seus braços e enviado para adoção.

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Colaborador

Por Rê Campbell / Foto: Reuters