A “brincadeira” de um jornalista virou alvo de investigação do Conselho Superior do Audiovisual (CSA) da França, órgão responsável por fiscalizar os programas de tevê no país. Jean-Michel Maire apresentava um popular programa diurno quando, ao vivo, pediu um beijo para a atriz Soraya Riffy, que virou o rosto recusando. Diante da resistência, o jornalista beijou a região do colo dela, próxima aos seios. A atriz ficou visivelmente constrangida.

“Fiquei surpresa. Não acho que a atitude de Jean-Michel Maire tenha sido muito profissional. Minha família estava assistindo e eu não sabia como reagir”, afirmou ela posteriormente ao jornal L’Express. “Sou um ser humano, não um simples objeto.”

A atitude rendeu mais de 200 reclamações formais de telespectadores ao CSA, além da crítica da ministra francesa de Direitos da Mulher e da Criança, Laurence Rossignol. “Mesmo em um programa de entretenimento, quando uma mulher diz não é não. Informei o CSA sobre essa agressão sexual”, afirmou a ministra em sua conta no Twitter.

Após a repercussão negativa, Maire pediu perdão a Soraya, afirmando que a sua carreira estava em risco, que a filha se recusava a ir para a escola e encarar os colegas e que nem mesmo a família queria falar com ele.

Franceses sedutores

O caso envolvendo Maire e Soraya não é isolado. Há anos diversas denúncias vêm sendo feitas pelas mulheres diante do assédio sexual sofrido nos meios de comunicação franceses, especialmente agressões vindas de homens que estão em posições mais altas na hierarquia das empresas.

Um dos apresentadores mais populares do país, por exemplo, Jean-Marc Morandini, está sendo investigado pela polícia por suposta relação sexual com uma menor de idade. O caso teria acontecido na casa de Morandini, durante uma seleção de elenco. Ele ainda é acusado de assédio sexual por outros cinco atores que trabalharam sob o seu comando.

E infelizmente o assédio sexual também se estende para outras áreas na França. Até mesmo o ex-vice-presidente do Parlamento, Danis Baupin, foi afastado de seu cargo após uma representante do Partido Verde local exibir mensagens com teor sexual enviadas por ele a várias outras parlamentares. Somente em 2015, 40 jornalistas denunciaram políticos por assédio.

Visão distorcida

No Brasil, e em muitos outros lugares do mundo, têm-se a visão de que os franceses são sedutores românticos. Essa avaliação se deve, em grande parte, ao cinema, que apresenta o assédio sexual dos homens como algo apaixonante. Mas o que muitos veem como “galanteio” ou “charme”, as mulheres sabem que é agressão

Para o palestrante Renato Cardoso, autor do livro “Namoro Blindado”, muitas produções de cinema demonstram que as mulheres devem encarar o abuso e a violência como algo nobre e corajoso.

De acordo com ele, nos filmes, moças jovens e puras são mostradas como capazes de reverter o comportamento destrutivo dos homens. “Mas qualquer assistente social ou psiquiatra concordaria que esse é um quadro típico de abuso: a mulher ama um homem que é perigoso. Ela tem baixa autoestima. Ele a domina, ameaça e manipula. Na vida real, muitas dessas histórias acabam em morte. Os boletins de ocorrência são provas disso”, alerta o palestrante.“O abuso sexual, mental, emocional, físico, enfim… todo tipo de abuso é intolerante”, afirma Cristiane Cardoso, autora do livro “A Mulher V”.

Se você está sofrendo com algum tipo de assédio, não se cale. Procure uma Universal mais próxima de sua casa e informe-se sobre o trabalho do grupo Raabe, que oferece orientação e apoio a mulheres vítimas de violência. Se você precisa falar agora mesmo com alguém sobre o que está vivendo, acesse o Pastor Online e receba uma orientação espiritual.