O que esperar da segurança para a Olimpíada do Rio?

Governo e especialistas divergem sobre essa questão às vésperas do grande evento

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Duzentos e seis países devem participar dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que acontecerão no Brasil entre os dias 5 e 21 de agosto. Será um recorde de nações participantes, que se confirmará somente ao final do evento e nesse caso superará os presentes aos Jogos de Pequim (2008) e de Londres (2012). E, apesar da quebra de recordes esportivos também ser esperada durante a jornada esportiva olímpica, ela não parece ser a maior preocupação de quem estará no Rio de Janeiro. Atualmente, são outras marcas que preocupam não só os competidores que vêm participar das olimpíadas mas também a população brasileira e de estrangeiros que virá assistir aos Jogos.

Quando faltavam 49 dias para o começo dos Jogos, o governo do Estado decretou estado de calamidade pública e pediu socorro federal. De acordo com o jornal britânico The Guardian, “o pedido de dinheiro é um constrangimento para a sede dos primeiros Jogos na América do Sul e se soma à longa lista de problemas que incluem o impeachment da presidente, a maior recessão em décadas, o maior escândalo de corrupção de que se tem notícia, a epidemia de zika e a onda de greves e ocupações de prédios do governo”.

Qual o panorama antes do evento?

E se, por um lado, ainda há uma lista de pendências a serem cumpridas pelos anfitriões do evento, como a conclusão de uma linha de metrô (a linha 4, que liga o bairro de Ipanema à Barra, é a obra mais atrasada e cara da Olimpíada, com custo orçado em R$ 9,7 bilhões), prevista para ser entregue quatro dias antes do início dos Jogos, efeito de um rombo de R$ 19 bilhões nas contas do Estado, por outro, existe uma onda de violência que assusta cariocas e estrangeiros e parece ser outro ingrediente que pode estragar a maior festa do esporte mundial.

Incidentes frequentes envolvendo a população e a polícia só têm elevado a insegurança no Rio, com o número de mortes em assaltos e ações policiais só aumentando. Em entrevista à rede TV norte-americana CNN, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que a administração faz um trabalho “horrível” na segurança. Depois, o prefeito até quis amenizar a situação e tentou explicar o uso do termo “terrible”(em inglês), mas não deu certo.

Medidas de segurança

Depois disso, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que o Brasil tem todo um efetivo para lidar com a questão, ao lançar a operação integrada de segurança para os Jogos. “As forças de segurança pública, Defesa Civil e ordenamento urbano passaram a atuar nos centros integrados e de comando e controle do Rio de Janeiro e das cidades onde serão realizados os jogos de futebol. A Força Nacional assume todas as instalações olímpicas e o perímetro de segurança dessas instalações, já se preparando para o momento em que as delegações irão chegar, porque também será papel da Força Nacional realizar a segurança interna dos eventos”, declarou.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, disse que também está confiante no sistema de segurança planejado para a Olimpíada. “O esquema de segurança montado para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do governo brasileiro foi aprovado pelos experts do Comitê Olímpico Internacional. Não existe ninguém no mundo que tenha trazido qualquer questão, já que essas informações foram passadas ao mundo inteiro”, esclareceu.

Terrorismo aqui?

Mas, além dessas questões, ainda existe a preocupação com ações terroristas durante a realização da Olimpíada no Rio. O ministro da Justiça declarou que não existe o risco de ações terroristas, enquanto a Polícia Federal diz estar atenta e monitorando prováveis grupos de risco.

No entanto, em entrevista à BBC Brasil, o consultor Hugo Tisaka, da empresa NSA Brasil, que atuou em segurança privada na Copa do Mundo, destacou que o risco de ações extremistas durante a Olimpíada é “real e iminente”. Ele acredita que ainda há problemas nas fronteiras e quanto ao fácil acesso a armas. “Ações recentes mostram que o risco de ataques se elevou tanto para grupos quanto para ‘lobos solitários’”, diz.

UPPs

Em todo o contexto da segurança no Rio ainda é preciso considerar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), projeto de polícias comunitárias nas favelas do Rio, da Secretaria Estadual de Segurança, que tem registrado retrocessos nos últimos meses. Para a professora Silvia Ramos, que coordena o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC), a situação atual de intensos tiroteios em comunidades como Alemão e Rocinha e a volta de grupos armados e confrontos na favelas da zona sul do Rio, como Chapéu Mangueira e Babilônia (no bairro do Leme), mostram que o projeto está “abalado de forma estrutural”. “Nem os mais pessimistas previam que chegaríamos onde chegamos. Dizia-se que a UPP era ‘maquiagem’ para a Copa e a Olimpíada, mas de vitrine de sucesso a UPP se tornou uma pedra, a situação que mais expõe a deterioração da segurança no Estado. Os traficantes perceberam a incapacidade quase total de resposta da segurança pública para ações mais ousadas e retomaram áreas”, diz. Mesmo assim, a especialista acredita que durante a Olimpíada a presença das Forças Armadas nas áreas de maior volatilidade deverá inibir confrontos e que o Rio deve manter a tradição de não registrar grandes problemas durante
grandes eventos.

Aplicativo mapeia violência no Rio

A situação é tão adversa no Rio de Janeiro que a Anistia Internacional criou um aplicativo para celular para mapear a violência sem controle na cidade. O app “Fogo cruzado” coleta informações de tiroteios por meio de dados das polícias, da imprensa, das redes sociais e de colaboração dos usuários. A informação é transformada pelo aplicativo em uma notificação no mapa da região metropolitana do Rio disponível no site, ilustrando a prevalência e a distribuição geográfica e social da violência armada na cidade. Ao preencher um formulário simples e seguro, qualquer cidadão pode registrar a ocorrência de um tiroteio em seu bairro. Saiba mais clicando aqui.

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Colaborador

Por Eduardo Prestes / Foto: Reprodução