A maioria errou. E daí?

Democracia também é aceitar o direito do outro pensar diferente

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Certamente você ouviu falar da saída do Reino Unido da União Europeia, nos últimos dias. Se não entendeu do que se trata, eis um breve resumo:

Logo após a Segunda Guerra Mundial, os países da Europa devastada se uniram formando uma comunidade de cooperação entre eles. Anos depois, em 1993, estabeleceram a União Europeia, um pacto econômico e político entre 28 nações do continente.

Em vários aspectos a União Europeia funciona como se fosse um único país. Por exemplo: um espanhol não necessita de autorização especial para trabalhar em Portugal. Ou um industrial da Alemanha pode vender seus produtos nos supermercados franceses sem nenhuma barreira alfandegária.

Parece ótimo, certo? Países ricos juntos ficam ainda mais fortes e podem proteger as nações que, eventualmente, enfrentam problemas econômicos, como foi o caso recente da Grécia.

Mas nem todos os europeus estão completamente felizes com este arranjo. Por exemplo, os habitantes do Reino Unido – Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales – resolveram abandonar o bloco após uma consulta popular. E aí a gritaria foi grande.

“Foi um absurdo”, dizem os demais europeus. Outros países acusam os britânicos de egoísmo, de não quererem mais receber imigrantes e refugiados. A própria parcela da população do Reino Unido que não queria a saída da União Europeia está inconformada e critica duramente a decisão.

E agora vamos ao debate que nos interessa: a democracia é assim. Muitas vezes discordamos da vontade da maioria. Mas que direito temos, eu e você, de atacarmos uma decisão soberana do povo britânico?

Se ainda fosse uma decisão de gabinete, um decreto baixado pelo governo, ou mesmo uma lei decidida pelo Parlamento, vá lá. Mas foi o povo dos quatro países que falou por intermédio de um plebiscito.

Esse tipo de decisão diz respeito à autonomia de uma nação na defesa dos seus interesses nacionais. Respeitadas as regras e tratados internacionais de convivência e paz entre todos os países, o que os britânicos fazem como povo dirá sempre respeito apenas a eles.

O tipo de questionamento que se faz à saída da Grã-Bretanha da União Europeia é semelhante à esdrúxula crítica que alguns políticos estrangeiros fizeram ao processo constitucional de impeachment em curso no Brasil contra a presidente Dilma Rousseff. O que eles têm com isso? Nada.

Enfim, democracia também é aceitar o direito do outro pensar diferente. Ter as próprias crenças, convicções, ideais. Até para errar.

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Colaborador

Por Renato Parente