Deus faz aliança com Abraão

Porém, o ritual da aliança feita entre Deus e Abraão aconteceu em duas etapas. Leia e entenda

Enquanto Ló seguiu para as campinas do Jordão, Abraão foi habitar na terra de Canaã. Lá o Senhor lhe apareceu e disse:

“Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre (…) Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura, porque eu ta darei.”  Gênesis 13.14-17

Sob as ordens do Senhor, Abraão agora tinha de olhar para o Norte, para o Sul, para o Oriente e o Ocidente. Mas sua visão física estava apoiada na visão da fé, a espiritual, naturalmente.

Obedecendo à Palavra de Deus, Abra­ão mudou as suas tendas e foi habitar nos carvalhais de Manre, junto a Hebrom e ali levantou um altar ao Senhor (Gênesis 13.18). A palavra manre significa riqueza e a palavra hebrom, comunhão.

Os carvalhais de Manre, junto a Hebrom, representam o Jardim do Éden, ou Jardim de Deus, pois é o lugar da riqueza e da comunhão com Deus. Tão importante era este lugar que Abraão construiu um altar ao Senhor ali e ofereceu sacrifícios. Além disso, preparou ali a sua sepultura e a de Sara.

Ouvindo Abraão que seu sobrinho Ló fora levado cativo com sua família e bens, imediatamente reuniu trezentos e dezoito homens dos mais capazes, “nascidos em sua casa”(Gênesis 14.14),perseguiu e alcançou os quatro reis aliados. Salvou Ló e toda a sua fa­mí­lia, recuperou seus bens e ainda libertou os cinco reis que estavam também prisioneiros.

É bom lembrar que os homens com quem Abraão contou simbolizam os nascidos da água e do Espírito. Somente estes têm o poder e a autoridade para vencer e conquistar. Um nascido da água e do Espírito vale por todos os nascidos da carne.

Após tamanha façanha, Abraão temeu algum tipo de revanche por parte de outros povos daquela região, provavelmente por acharem que ele quisesse impor seu próprio reinado. Mas numa visão lhe veio a Palavra do Senhor, dizendo: “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande (Gênesis 15.1).

Quem nasce do Espírito, e crê, pode substituir, no ver­sículo, o nome de Abraão pelo seu. Posso ouvir Deus falando comigo nos meus momentos mais difíceis: “Não temas, Macedo, Eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande”.

O conforto divino foi extraordinário para Abraão naqueles momentos. Mesmo assim, ele se sentia aflito por não ter herdeiro. E pela primeira vez, desde o dia de sua chamada, Abraão ousou se dirigir ao Senhor em tom de reclamação. Até aqui ele só ouvia Deus falar, mas diante do aperto da alma, desabafou: “Senhor Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?” (Gênesis 15.2).

Dez anos haviam se passado desde a sua saída de Ur, com a promessa divina no coração, na fé de um dia poder abraçar seu próprio filho com Sara. E isto ainda não tinha se cumprido. Porém mais uma vez o Senhor reafirmou Sua promessa dizendo: “Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade (…) Eu sou o Senhor que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te por herança esta terra” (Gênesis 15.4-7). E novamente, Abraão ousou falar ao Senhor, perguntando: “Senhor Deus, como saberei que hei de possuí-la?” (Gênesis 15.8).

Até este momento, Abraão tinha ouvido muitas promessas de Deus, mas nenhum sinal concreto delas; e Ele sabia disso. Ele também sabia que Abra­ão queria mais do que palavras. Sim, ele queria mesmo um sinal de que tomaria posse daquela terra!

De certo, Abraão esperava fogo ou um raio vindo do céu, para confirmar a promessa de Deus. Muitos se iludem com sinais satâ­ni­­­cos, pensando serem divinos, como no caso do servo de Jó, que pensou ser de Deus o fo­go que caiu do céu e consumiu servos e ovelhas.

O sinal de que Deus iria cumprir todas as Suas promessas feitas a Abraão foi a aliança feita por meio do sacrifício, pois este é a materialização da fé. Abraão havia materializado a sua fé em Deus, sacrificando sua terra, sua parentela e a casa de seu pai, ao obedecer à Sua Palavra, partindo para uma terra indefinida.

Ele deixou a sua terra, a sua parentela e a casa de seu pai, materializando sua crença. Agora era a vez do Senhor materializar a promessa feita, consumindo o holocausto.

Alguns anos depois, novamente Deus provou a fé de Abraão, pedindo-lhe para materializar sua crença n’Ele através do sacrifício de Isaque.

Muitos séculos depois, Deus tornou palpáveis Seu amor e Sua promessa ao enviar Seu Único Filho para salvar a humanidade, e nova­mente usou o sacrifício como instrumento.

Vemos então que o sacrifício é o caminho mais curto e doloroso na conquista de um objetivo. Se o próprio Deus teve de sacrificar Seu Único Filho, e assim provar Sua crença na salvação de muitos, quanto mais nós em relação a Ele! A fé viva exige o sacrifício. Sem este, a fé não funciona.

Os primeiros apóstolos, bem como grande parte dos discípulos primitivos, tiveram de sacrificar suas vidas em virtude da sua fé cristã.

Portanto, verificamos que a fé abraâmica desenvolvida ao longo da História foi marcada pelo sacrifício. O sinal da fé é o sacrifício, e o próprio Deus mostrou um sinal concreto através do sacrifício.

Ao pedir Abraão um sinal de como tomaria posse de Canaã, o Senhor respondeu: “Toma-me uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de três anos, uma rola e um pombinho. Ele, tomando todos estes animais, partiu-os pelo meio e lhes pôs em ordem as metades, umas defronte das outras; e não partiu as aves (…) e eis um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo que passou entre aqueles pedaços. Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra…” (Gênesis 15.9-18).

Esta passagem mostra dois pontos de suma importância para a nossa fé hoje:

1) A forma tradicional de aliança da­quela época:

Naqueles tempos, o pacto entre duas pessoas era selado da seguinte maneira: sacrificava-se um determinado animal, sendo este dividido em duas partes. Colocava-se as partes uma defronte da outra, de forma a deixar um caminho para se passar. Cada banda do animal representava uma das partes na aliança.

Em seguida, as duas pessoas passavam por entre as bandas do animal. Ao fazê-lo, cada uma afirmava, diante da outra, que se não cumprisse a sua palavra naquela aliança, a outra pessoa teria o direito de fazer com ela o mesmo feito ao animal. Abraão preparou o sacrifício para Deus passar. Poderia Deus fazer aliança com Abraão se este não preparasse o sacrifício? Não. Quem quiser entrar em aliança com Deus tem de satisfazer as Suas regras, isto é, fazer o seu sacrifício.

E não é assim em uma aliança secular, quando os envolvidos têm de assinar os termos de obrigações e responsabilidades de ambas as partes? E não é um sacrifício cumprir todas as regras estabelecidas?

Mas alguém dirá: o Senhor Jesus já fez o sacrifício! Claro! Mas isso não significa que cada um de nós não deva fazer o seu! Ele mesmo disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16.24; Marcos 8.34 e Lucas 9.23).

O que é negar-se a si mesmo, senão um sacrifício? E o que d
izer sobre a cruz? Não é ela um símbolo de sacrifício? Ora, é preciso encarar a realidade e não tentar seguir as pisadas do Senhor Jesus com “jeitinho brasileiro”.

Ninguém é obrigado a sacrificar! Mas o sacrifício é o preço da conquista da salvação, dia após dia. Os que são contra o sacrifí­cio, certamente estão vivendo em pecado, pois tentam viver um cristianismo fácil e des­compromissado com a pureza e a verdade.

Deus é Espírito, mas teve de Se materializar para mostrar o sinal para Abraão. Somente depois deste ter apresentado seu sacrifício é que o Senhor desceu em forma de fogareiro fumegante e uma tocha de fogo.

É bom lembrar que com o profeta Elias aconteceu o mesmo: somente após ter preparado o novilho, e orado, é que caiu o fogo do Senhor e consumiu o holocausto.

Na consagração do Templo, erguido por Salomão, foi a mesma coisa: tendo este oferecido mil holocaustos e orado, então desceu fogo de Deus sobre os mesmos.

Sempre que a pessoa apresenta seu sacrifício a Deus, há uma resposta Sua para ela, em forma de fogo espiritual, pois a pessoa se reveste de uma certeza tão absoluta, que nem todo o inferno é capaz de arrancá-la do seu coração.

O fato é que o sacrifício somente é feito por aqueles imbuídos de uma fé ardente, e isso não é algo que vem de fora para dentro, mas nasce no mais íntimo do ser.

2) Deus passou sozinho por entre as partes do sacrifício:

Aparentemente a aliança do Senhor com Abraão foi unilateral, pois o texto bíblico não fala da passagem de Abraão por entre as partes do animal.

Realmente, a aliança realizada foi feita apenas por Deus com Abraão, e não entre Deus e Abraão. Mais tarde, de posse do seu tão desejado filho, foi a sua vez de “passar por entre o sacrifício” e cumprir o ritual da cerimônia de aliança com Deus, pois o que tinha Abraão a perder naquela altura, quando Deus passou sozinho entre as partes?

Portanto, podemos dizer que a aliança entre Deus e Abraão se deu em duas etapas, a primeira quando o Senhor passou sozinho entre as partes dos animais sacrificados, e a segunda quando Abraão ofereceu Isaque no Monte Moriá.

Naquele mesmo dia…” o Senhor fez aliança com Abraão, ou seja, naquele mesmo dia Ele confirmou Sua promessa no coração de Abraão. Naquele mesmo dia, portanto, Abraão tomou posse, no coração, daquela terra.

É como se pudéssemos dizer que ele ficou “grávido” da promessa, não só da terra, mas também do filho almejado, pois quando o Senhor disse “À tua descendência dei esta terra…” (Gênesis 15.18), estava deixando claro que filhos seriam gerados de Abraão e iriam possuir aquela terra.

A sua descendência partiu primeiramente de Isaque e Ismael; em seguida vieram outros filhos com o novo casamento (Gênesis 25.1), tendo em vista a morte de Sara.

De Ismael e dos demais filhos, de outros casamentos, nasceu a nação árabe; de Isaque nasceu a nação de Israel. Ambos são os donos de todo o Oriente Médio, cumprindo-se assim a promessa de Deus a Abraão: “Porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti, e à tua descendência, para sempre” (Gênesis 13.15).

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(*) Texto extraído do livro “A fé de Abraão” do bispo Macedo.

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Colaborador

Por bispo Macedo (*) / Foto: The Bible