Símbolo de resistência: a decisão de não se vacinar

Como a perseguição ao melhor tenista do mundo deixou clara a incoerência de quem defende a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19

O mundo é considerado globalizado há um tempo. Notícias são compartilhadas velozmente, assim como mercadorias, produtos culturais, ideias e até ideologias políticas. A pandemia mostrou que os países estão interligados e, infelizmente, seus líderes copiam as estratégias uns dos outros sem se questionarem a respeito da real eficácia de tais medidas. “Combinar” com os demais é o importante.

De fato, a Ciência ainda não identificou uma forma de impedir a transmissão da Covid-19 e suas variantes. Até o momento, sabe-se apenas que máscaras de proteção, higiene das mãos e distanciamento social diminuem as chances de contaminação, assim como a imunização contra a Covid-19 reduz consideravelmente os sintomas da doença, em caso de infecção.

Contudo, há uma corrente de pensamento que quer ir além: tornar a vacinação contra Covid-19 obrigatória ou criar situações que, indiretamente, forcem a imunização, como é o caso do passaporte sanitário, já adotado em muitos países. É verdade que países como Inglaterra, Holanda e Irlanda oferecem opções aos visitantes não vacinados, como a realização de testes comprovando a saúde deles, mas, em geral, ir contra o que pensa a maioria tem sido motivo de perseguição.

Caso Djokovic
O tenista número 1 do mundo, o sérvio Novak Djokovic, foi, recentemente, o personagem principal de uma discussão sobre a falta de liberdade individual. Ele optou por não se vacinar contra o novo coronavírus e sua decisão impactou diretamente em seu trabalho, já que ele não pôde participar do Aberto da Austrália, um campeonato renomado de tênis. Quando já estava no país, o atleta teve seu visto cancelado e ficou detido em Melbourne.

Seus advogados entraram na Justiça contra a decisão e informaram que Djokovic tinha contraído a Covid-19 em dezembro e, por isso, estaria imunizado, mas foi em vão. Depois de horas de julgamento, a Corte Federal australiana decidiu que o atleta seria deportado por se tratar de “um risco para a população australiana”. Na prática, a medida poderá impedir a entrada do tenista no país por três anos.

A decisão da Justiça australiana foi fortemente questionada, já que a justificativa dada é incoerente. “O bem comum” tem sido usado como argumento por aqueles que desejam estabelecer regras para definir quem entra ou não em um estabelecimento, um restaurante e até mesmo em um país. Afinal, uma pessoa não imunizada colocaria em risco a vida daqueles que estão ao seu redor. Tal afirmação faz sentido?

Sem dúvida a vacina evita muitas mortes e reduz os sintomas de quem está infectado, o que impacta diretamente na redução de hospitalizações. Contudo ela ainda não impede que a transmissão aconteça. Dessa forma, até quem está imunizado pode ser um risco para outras pessoas.

Outro ponto a se considerar é que, mesmo que uma pessoa esteja imunizada contra a Covid-19, ela pode estar com o vírus. Portanto, quem garante que os jogadores que entraram na Austrália ou os passageiros que chegam aos países com restrições carregando seu passaporte sanitário não estão infectados?

Na verdade, as obrigatoriedades e restrições impostas por governos de todo o mundo violam alguns direitos pessoais, como o de ir e vir e, em alguns casos, até mesmo o de trabalhar. Ter uma crença e seguir convicto está cada vez mais difícil. E essa peculiaridade fez de Djokovic um símbolo de resistência. Entretanto ele não é o único. A coragem de se posicionar e ir contra quem está no poder fez os holofotes se virarem para o esporte. O jogador de futebol norte-americano Aaron Rodgers e o jogador de basquete Kyrie Irving também decidiram não se imunizar. Claro que eles foram punidos, seja com perda de patrocínio, seja com restrições para atuar ou até mesmo com a condenação por parte da imprensa mundial. Com as condições financeiras que possuem, eles não precisariam mais trabalhar, mas estão levantando suas vozes em defesa da liberdade individual.

E o que dizer daqueles que se sentem pressionados pelas empresas em que trabalham e até mesmo pelo governo a se imunizarem? Além dos atletas, em muitos países a população foi as ruas para garantir seus direitos de volta e fizeram governos retrocederem nas medidas de restrição. “Grandes manifestações populares tomaram as capitais de países como Inglaterra, Dinamarca e Suécia, demonstrando que pessoas do mundo inteiro sentem que seus direitos básicos foram anulados”, explica o sociólogo Thiago Cortês.

Vivemos uma época em que muitos são caçados simplesmente por se posicionarem contra a decisão da maioria, mas lembre-se: é dever de todos e de cada um preservar o direito à liberdade individual. “Nós, cristãos, devemos sempre estar preparados para enfrentar o mundo em nome da nossa fé, dos nossos valores e da nossa liberdade”, finaliza o sociólogo.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: reprodução e getty images