No Brasil, ainda não temos dados oficiais para enumerar os casos de autismo, condição que afeta a comunicação e a interação social de uma pessoa. Contudo, estima-se que 2 milhões tenham o transtorno do espectro autista (TEA) no País. Além do trabalho de instituições, milhares de familiares travam uma luta contínua em prol dos direitos de inclusão de seus entes queridos. Assim como o apresentador da Record TV Marcos Mion, que participou, no dia 3 de setembro último, de um encontro na Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social (Abads), na zona norte de São Paulo.

Aos 40 anos, Mion é pai de 3 filhos: Romeo, Donatella e Stefano. O primogênito, Romeo, hoje com 14 anos, é autista. Nesse encontro com pais, mães e educadores, além das crianças atendidas pela Associação, o apresentador falou sobre a experiência da paternidade e a de luta pelos direitos do filho e da comunidade autista.

Antes, o apresentador foi ovacionado por todos e se emocionou ao ser recepcionado por uma apresentação coreografada de um grupo de crianças atendidas pelos projetos da Abads.

Para a presidente da Associação, Rose Amorim, a vivência de Mion com o filho dele é muito importante para todos como um exemplo de vida. “Hoje, ele vem trocar experiências com pais e mães. É o que mais enriquece, potencializa e valoriza o nosso trabalho. Essas famílias são muito carentes de acolhimento e informação. Quando recebem o diagnóstico, elas se fecham muito, porque sofrem até conseguir entender e administrar isso. Então, quando a gente conversa sobre o assunto, as pessoas conseguem aceitar bem a situação.”

Uma mensagem de aceitação e acolhimento

Marcos Mion sempre esteve próximo à Abads, participando de eventos e apoiando os projetos da Associação. Mas, essa foi a primeira vez que ele visitou a instituição. Por meio de sua experiência de vida, o apresentador levou uma mensagem de aceitação e acolhimento aos pais presentes no encontro e comentou como acabou se tornando um representante da comunidade autista.

“Muitos pais me procuram em luto após receber o diagnóstico do filho. Eu olho nos olhos deles, seguro as suas mãos e os parabenizo. Muitos ficam desconcertados. Mas, para mim, todas as pessoas que são presenteadas com uma criança especial foram escolhidas. Eu sempre tive Deus muito próximo de mim. Não é à toa que hoje eu sei qual é o meu propósito. Dos objetivos de vida que eu tinha antes, eu nem imaginava que seria um porta-voz do meu filho e de tantas crianças. E, hoje, tenho certeza que esse era o caminho que Deus traçou para a minha vida. A verdadeira função dos pais é ser a voz de seus filhos, para defendê-los e lutar por eles”, afirmou Mion.

E continuou: “Agora, a sua realidade da vida é ser pai (mãe) de uma criança especial. É a sua missão, o seu dever. Deus escolheu você. Tanta gente passa a vida adquirindo coisas e preocupado com o próprio benefício. Mas, essas pessoas têm uma existência vazia. Se o que você faz não beneficia alguém, você está fazendo errado. Tudo o que vale a pena na vida, de fato, tem que estar fazendo o bem para outra pessoa. É isso que Deus quer da gente e faz o mundo girar de uma forma melhor.”

“Enxergo o autismo com uma missão na minha vida”

Alessandra Nastri Batista, mãe de Miguel, de 5 anos, participou do encontro com Marcos Mion e concorda com o posicionamento do apresentador. Tanto que ela, que trabalhou durante 15 anos na área financeira, agora se dedica ao tema que mudou a sua vida e é graduanda em pedagogia. O filho dela foi diagnosticado aos 3 anos de idade, é atendido pela Abads há 1 ano e meio, e vem apresentando uma evolução evidente.

“O Miguel já participou de terapia em grupo e faz musicoterapia. A maior dificuldade que ele tinha era a socialização, principalmente com outras crianças da faixa etária dele. Hoje, já consegue interagir com as crianças aqui e também no ambiente escolar tradicional. Eu costumo falar que a terapia é um trabalho de formiguinha, dia a dia. E é muito importante isso que o Mion deixou como mensagem, ou seja, a aceitação, o amor e a busca pela força de Deus nas nossas vidas. Pois, num primeiro momento, a notícia do diagnóstico é realmente impactante. E, agora, eu também enxergo o autismo com uma missão na minha vida”, relatou Alessandra.

A luta pelos direitos de inclusão social do autista

O que Mion defendeu durante a palestra na Abads – fazer algo que beneficie não só a você mesmo e os seus interesses, mas que faça bem ao outro -, ele mostrou que realmente faz na prática. Em julho deste ano foi sancionada a Lei 13.861/2019, que trata da inclusão de informações específicas sobre pessoas com autismo nos censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já a partir de 2020.

Mion falou sobre a convocação que recebeu para fazer parte desse momento histórico em Brasília e da surpresa que foi ao perceber que a Lei seria aprovada.

“Quando você consegue participar de algo que vai beneficiar milhares de pessoas, você sente que, de certa forma, as ajudou. Acho que esse é o propósito que Deus me deu. Fazer o máximo que eu puder sobre o autismo, sempre que eu puder e onde eu puder. A primeira-dama (Michelle Bolsonaro) me chamou para participar de uma reunião em Brasília, para entender melhor o que os autistas precisavam e porque seria importante eles estarem incluídos no censo. Antes, conversei com grupos que tratam de autismo no País para saber qual a vontade deles. Afinal, eu estava lá não por minha conta, eu fui convocado e estava indo para representar toda uma comunidade”, observou.

Um passo muito importante

Para Mion o que aconteceu na ocasião foi algo muito marcante para a luta dos direitos de inclusão do autista.

“A reunião foi tomando um rumo inesperado, porque tudo apontava para a negativa da inclusão. Eu só posso explicar o que aconteceu realmente como algo de Deus. Porque era uma causa perdida. Então, o Presidente Jair Bolsonaro perguntou a minha opinião. Eu estava ali representando milhares de pessoas e de famílias. Respondi que o que queríamos era a inclusão. E a Lei foi sancionada naquele momento. Pegou todo mundo de surpresa. Porque já estávamos há muito tempo sem dar um passo e esse é um passo e tanto na luta”, contou Mion.

Abrir os olhos da sociedade

A presidente da Abads concorda que o apresentador Marcos Mion, realmente, está sendo nesse momento um porta-voz dessas famílias. E que a participação dele na sanção da Lei foi muito importante para abrir os olhos da sociedade.

“Hoje, por exemplo, atendemos aproximadamente mil famílias aqui na Associação. Mas, ainda temos uma fila de espera de outras mil. Essas pessoas aguardam um tratamento que é totalmente gratuito e personalizado. Um trabalho de acompanhamento diário em diversas áreas como de educação, cultura, clínica médica e outras terapias. Não podemos fechar os olhos para isso, é uma responsabilidade de todos nós”, disse Rose.

A Abads

A Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social é uma organização sem fins lucrativos. Desde 1952 atende crianças, jovens e adultos portadores de síndrome de Down, autismo e outras necessidades. Caso queira conhecer mais sobre esse trabalho desenvolvido no local e apoiar a instituição, acesse a página oficial da Abads nas redes sociais.